Um governo que se localiza próximo a uma tirania ou ditadura caracteriza-se menos pelos seus adereços de ordem fascistas do que pelas interdições que carregam e tentam disseminar no plano das relações coletivas de um povo. Assim, uma ditadura não precisa dos militares para existir, assim como também podem existir governos tirânicos à esquerda e à direita, ao menos num plano ideológico.

A linguagem é uma das vítimas preferidas dos governos de interdição. A proibição de palavras, bem como a modificação do seu sentido são recursos usados pelas ditaduras. Assim, por exemplo, na obra “1984”, do indo-britânico George Orwell, os ministérios do Amor, da Verdade e da Paz cuidavam, respectivamente, do ódio, da mentira e da guerra.

Em Manaus, guardadas as devidas proporções em termos de inteligência, também já houve diversas manifestações de governos autoritários de interdição. Em uma eleição, anos atrás, o ex-governador, ex-prefeito e atual prefeito cassado, Amazonino Mendes, utilizou a justiça (outra distorção semântica…) para proibir durante o horário eleitoral gratuito, a palavra “sistema”, usada pelos adversários para se referir à máquina governamental usada por ele na campanha.

Mas, atualmente, é o uso da palavra “novo”, pela população, que vem sendo modificada a fim de, pelo humor, mostrar a ausência de um prefeito para a cidade

TRÊS MESES DO “NOVO”

Aos 90 dias da administração amazonínica, à guisa de medida cautelar debilmente segura pelo TRE-AM, e sob perigo iminente no TSE, a palavra novo é usada de forma irônica pela população e até por servidores municipais em diversas situações. Por exemplo:

O contribuinte que vai à SEMEF pagar uma conta e descobre que as facilidades que existiam desapareceram e acresceram significativas horas de espera em filas, exclama, ou ouve do servidor: “é a nova gestão!”.

Um comunitário vai até um centro de assistência social em busca de um curso profissionalizante, ou grupo de atividades infantis, adultas ou para a chamada terceira idade, ouve do funcionário que as atividades estão suspensas desde o início do ano, e exclama: “é a nova gestão!”.

Alguém que passa de manhã em uma rua atingida pelo plano emergencial da prefeitura, olha e não vê buracos. De tarde, depois de uma chuva rápida, passa pela mesma rua, e lá estão os antigos conhecidos, até maiores. E vê o barro que foi usado pelo plano de emergência na sarjeta, carregado pela força reveladora das águas. Exclama: “é a nova gestão!”.

Professores e servidores da educação pública, que precisam de licença médica ou de afastamento por outros motivos, e que têm direito à tal, quando procuram a administração da SEMED, recebem um sonoro não, além de ter que conviver com o atraso no pagamento da carga dobrada, no caso dos professores. Nos corredores, a frase: “é a nova gestão”.

Servidores da assistência social em regime de prestação de serviços, alguns tendo trabalhado abertamente na campanha do atual prefeito interino, frustrados ante à expectativa de regularização dos seus contratos – mais próximos estão de ser demitidos! – têm de ouvir a gozada de colegas: “é a nova gestão!”.

Funcionários demitidos, muitos que votaram na atual gestão, crendo supersticiosamente que não as haveria numa gestão amazonínica, ouvem quando chegam em casa: “é a nova gestão!”.

E assim vai, pelas ruas, praças, corredores, macas, salas de aula, centros comunitários, mesas de bar, púlpitos igrejais, a frase que marcou os três primeiros meses da administração breve de Amazonino. Mas não se engane o leitor intempestivo que só agora chega a este bloguinho. Desde os primeiros dias da “nova gestão”, o engodo marketístico já não enganava quem enxerga para além das imagens fantasmáticas da interdição ditatorial: nova gestão, só depois da cassação.

1 thought on “TRÊS MESES DO “NOVO” NA CIDADE DE MANAUS

  1. Sao os velhos truques ditatoriais.Muda a enbalagem,mas o produto e o mesmo.Mas agora con o CNJ.Muitas cousas boas podem e devem acontecer,que beneficiam a populaçao como un todo.Esperamos que nao pase a ser mais uma feramenta usada nas maos dos poderosos coruptos,capitalistas,da midia internacional.
    J

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