A HONESTIDADE DO MINISTRO ALFREDO NASCIMENTO

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Um ano atrás, a honestidade do ministro era exaltada (clique na imagem).
Um ano atrás, a honestidade do ministro era exaltada (clique na imagem).

Em entrevista a um jornal da cidade, o ministro dos transportes, Alfredo Nascimento, falou da sua participação nas eleições municipais. Entre um e outro clichê, próprio de quem pretende ocultar e acaba evidenciando, Alfredo atacou o atual prefeito, Serafim, utilizando para isso o entendimento que ele “transporta” (no sentido de ser carregado) de uma palavra: honestidade.

Citando diretamente a frase de Alfredo: “O Serafim não é mais honesto que ninguém. Ele é no máximo, em honestidade, igual a mim”.

Incluído o fato de ter dito após que não é “estudante de coisa nenhuma” (o que, por si só, o desqualificaria como corpo político democrático – como ser socialmente ativo sem estudar a sociedade e suas contradições?), Alfredo deixa alguns rastros sobre de que maneira pretendia desqualificar Serafim em sua fala.

DA HONESTIDADE MORAL, A DE ALFREDO

Teria Alfredo, no afã de servir novamente o seu correligionário-mor, Amazonino, desta vez não com sanduíches de tucumã, mas com ataques ao adversário na eleição, deixado escapar em discurso direto que não é tão honesto quanto quer parecer? Se a idéia era retirar o véu de honestidade reclamado por Serafim na campanha eleitoral, não seria mais inteligente usar outro parâmetro de comparação que não a si mesmo, uma comparação por oposição, e não por afinidade?

Ou Alfredo, responsável pelo Expresso, que entregou inacabável, que resistiu até o último minuto em assumir o ministério dos transportes, com medo dos inúmeros escândalos da sua gestão municipal caíssem nas bocas Brasil afora, que comprou as famosas “palmeirinhas” a peso de flor do Himalaia, para vê-las morrer no calor escaldante de Manaus, tem tanto sentimento de dívida para com Amazonino que é capaz de revelar a si mesmo para satisfazer a vontade do chefe?

Alfredo usa a palavra honestidade realmente com honestidade. Pelo menos a que ele acredita. Para ele, que não estuda, a palavra foi capturada na sua forma que anda pelas bocas bem auditadas: a honestidade moral. Se Alfredo foi capaz de comparar sua honestidade com a de Serafim – e a sentença é dele, o Serafim nada tem com isso – é porque ele acredita que a esta é uma qualidade hierarquizada: se dá num parâmetro fora do si, através de uma sanção superior, o Olho de Deus (ou do Estado, ou do Dinheiro). Pela moral, ser honesto significa comportar-se de acordo com os preceitos morais. Automatismo que não escapa à moralidade de classe: ser honesto aqui significa obedecer aos ditames da sociedade. E se ela é uma sociedade corrompida, então ser honesto é ser corrompido.

Por isso, Alfredo, que é bom seguidor da moral de classe, acredita ter atingido o ápice da honestidade, e acreditar que acima dele, nem Deus. Já que o máximo é ele, Deus só pode estar abaixo.

Eis aí desvelada a sentença lógica de Alfredo. Se a moral é um sistema de crenças e valores que serve de guia a todos, então o honesto é aquele que crê e valora de acordo com ela. Se a moralidade da chamada política profissional é a corrupção, a mentira, o marketing do vazio, o culto à dor, o ideal ascético, então ser honesto dentro deste contexto é ser tudo isso. Alfredo, mesmo sem estudar, disse muito de si nesta pequena frase.

A HONESTIDADE ÉTICO-ESTÉTICA QUE ALFREDO NÃO TRANSPORTA

A honestidade de Alfredo não passa pelo entendimento filosofante do conceito de honestidade, que envolve a ética, e não a moral. Ser honesto é ser causa de si mesmo, produção intensiva a partir da leitura do mundo e da sua condição existencial. Produção desejante de afectos e perceptos, de modos de existir mais próximos da perfeição, onde a potência de agir é aumentada, aumentando com isso a potência democrática.

A máxima da honestidade filosofante expressa o filosofante Nietzsche, quando afirma que ajudar a si mesmo é ajudar ao próximo. Não no sentido individualizante do capitalismo, mas no sentido de produção estética de Si, numa composição intempestiva com outros corpos-habitantes, produzindo uma cidade-comunalidade. Tudo o que Alfredo desconhece, pelo que demonstrou até agora em sua existência política.

2 thoughts on “A HONESTIDADE DO MINISTRO ALFREDO NASCIMENTO

  1. fui bem até a frase

    A honestidade de Alfredo não passa pelo entendimento filosofante do conceito de honestidade, que envolve a ética, e não a moral.

    O que vc quis dizer com envolvr a éticae não a moral?

    MAM

  2. Companheiro Marcos,

    Pela sua pergunta, sacamos que você entendeu a diferença, o que talvez faltou tenha sido somente a intimidade com alguns termos usados.

    A honestidade moral é aquela em que o indivíduo apenas obecede aos ditames sociais, incluindo aqueles que correm “por baixo da mesa”, como a corrupção política. Esta honestidade é a de quem está no grau mais baixo de conhecimento, pois não suspeita do mundo que o cerca.
    Já a honestidade ética, que envolve os dizeres do filósofo Espinoza, é aquela onde o sujeito ultrapassou o grau mais baixo de conhecimento, passou a suspeitar, investigar e analisar o mundo em que vive, e numa relação autêntica, escolhe para si apenas aquilo que lhe é bom, que aumenta a sua potência de agir, sua vitalidade, ou vontade de potência. Ele usa a razão para analisar os fatos e extrair deles suas causas e efeitos, e atua sempre nas causas. Por isso, pode agir democraticamente, o que Alfredo, por ser honesto apenas moralmente, não pode.

    Abraços e venha sempre por aqui!

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