CRIANÇA, DEVIR DEMOCRÁTICO
Clique nas fotos para ampliá-las.
As crianças chegaram de várias partes do Novo Aleixo à sede da Afin, compondo com seus risos, gargalhadas, piruetas, corridas, saltos, palavras, movimentos intempestivos, intensivos, com a alegria, a criatividade, o humor, a inteligência, a musicalidade da gestualidade livre do devir-criança.
Longe das infantilidades xuxeadas, pela construção e preservação de uma democracia, que leva em conta as potencialidades, os talentos de todos, sem distinção de altura, idade, sexo, origem, as crianças falaram sobre as condições da cidade, sobre a falta de alternativas educacionais e ludicidade do espaço escolar, sobre seus entendimentos a respeito de suas famílias e muitos outros assuntos sobre os quais é bom e necessário aos pais, professores, governos ouvir as crianças.
Na dodecafonia inventiva de novos sons e palavras, a garotada esperta pegou dos instrumentos — violões, flauta, atabaque, cavaquinho — e mandou ver na criação de músicas e letras espontâneas e atualizadas no instante do corte musical inesperado. Primeiro, individualmente cada um compartilhou seu talento.
E, finalmente, a banda Democracia-Criança, composta com todos os seus músicos, compositores, vocais, com a participação contagiante de todos os presentes, deu o seu toque.
Então, levando em conta a memória corporal inscrita no corpo das crianças, elas começaram a andar pelo espaço, mas a brincadeira consistiu em alterações no modo de andar na composição espaço-corpo ludus criança.
Chegou o momento de pegar os fantoches, fazer voar a imaginação para inventar na hora uma fala inusitada para fazer rolar o diálogo e surgir, assim, uma bonita e interessante estória, criação da coletividade artística, enquanto a platéia ria e fazia suas observações sobre a pantomima.
Passou-se, então, à entrega de alguns brinquedos, de início para aqueles que respondiam algumas perguntas referentes a situações que se passaram naquela tarde ou outras de alguma estória contada naquele momento, entre outras. Mas era só brincadeira, como não havia a pretensão de preterir, hierarquizar, ao contrário, diminuir a força comparativa desse tipo de prática, todos pegaram alguma lembrança-corpo-brinquedo: carrinho, camisa, cueca, objetos artesanais, etc.
Finalmente chegou a hora do mata-broca, também alcunhado desbrocante, juntamente com o esperado afeto-sorvetal, mais uma vez doação do companheiro Nelson Rocha, da fábrica Sempre Frio. A meninada emborcou o caneco. E continuou até alta noite, quando saíram levando por aí o pique desejante, a alegria e o vigor da criança quando livre em seus movimentos de brincar o mundo e a vida…
“Vou pegar o mundo e virar do avesso
Vou juntar os homens num só mutirão
Vou chamar a vida pra brincar de roda
Vou ser seu amigo
Vou te dar a mão”
(composição de Manuelito,
cantada por Doroty e Dércio Marques
no trabalho Monjolear)