POSEIDON NA RUA QUE NUNCA EXISTIU E AGORA É QUE NÃO EXISTE MAIS
E a vida continua na que nunca foi rua Rio Jaú, mesmo com os impedimentos da ausência do poder público em cumprir o seu papel de oferecer à população as condições óbvias de sua responsabilidade. O primeiro impedimento quem sofreu foi um caminhão da empresa Força Construtiva, que atolou com cinco milheiros de tijolo no lugar onde antes ficara um canal de esgoto aberto de lado a lado da rua e que acabou sendo tapado pelos moradores, como noticiamos aqui no Poseidon. Alguns ainda brincaram que o caminhão atolou porque o terreno é de areia movediça, mas isso não diminuiu a indignação tanto dos trabalhadores, provavelmente mais ainda do patrão e dos moradores da que nunca foi rua. Os trabalhadores tentaram cavar, colocar pedra, todos os procedimentos, mas não conseguiram desatolar o caminhão. Já pensavam no ardoroso trabalho de ter que descarregar os tijolos para retirar o caminhão e recarregá-lo novamente, mas como passou ali próximo uma máquina da Prefeitura, a responsável direta por esta situação de calamidade, resolveram pedir ajuda e um trator guinchou e desatolou o caminhão, para congratulação dos trabalhadores e moradores que estavam a horas tentando desvencilhar-se do mal que causa o poder, ou melhor, sua ausência. Mas os moradores vêem longe, um deles saiu e disse: “Essa rua está uma calamidade”. Ao que um outro retrucou: “Essa Prefeitura é que é uma calamidade”.
O outro impedimento foi na outra vala aberta e deixada de presente de Natal pela Prefeitura de Manaus aos moradores da que nunca foi rua. Um leitor intempestivo, ao ver no bloguinho a foto tirada em um dia de chuva, riu dizendo que parecia uma cachoeira de Presidente Figueiredo. Um outro, numa gargalhada, continuou: “Porra, então nossa rua vai virar ponto turístico!”.
Só mesmo com muito humor para suportar o descaso do poder dito público. Para diminuir o impedimento, foi preciso que dois moradores fossem até Distrito de Obras do Coroado para exigir que o buraco deixado aberto pela Prefeitura fosse tapado. Primeiro, como noticiamos, apareceu uma caçamba cheia de lama para ser jogada aí, mas os moradores impediram. Depois de semanas, mandaram uma caçamba com mais barro, mais foi insuficiente, ficando ainda para o outro dia o término da tapação.
Mas o que os moradores não querem é mais “tapeação”, e por isso estão brincando com a operação “Tapa Buraco” da Prefeitura, a qual chamam de operação “Tapeia Buraco”. Ainda por cima, descobriram na semana passada que a rua Rio Jaú realmente não existe. Isso eles já sabiam, mas não sabiam que agora é que ela não existe mais, pois que há dois anos a Prefeitura trocou, sem avisá-los, o nome da rua para Edson Vieira Alves. Os moradores não aceitam, pois ainda vão construir, nem que seja na base da “cotinha”, uma rua neste lugar. Apesar dos impedimentos governamentais, os moradores estão realmente de bom humor: “Então eu não existo?”, ironizou um, tocando-se ao corpo. Um outro rematou: “Existir eu existo, mas só vão saber que eu existo no dia das eleições, quando não existirão mais para mim”.
Tal qual estes moradores, para Poseidon, a ausência de poder não é impedimento para seu poder democratizante, e por isso ele vai chegando intempestivo, com humor e inteligência, para compor com a população uma potência cada vez maior, democrática…