GOLPE DO MASTER: PIRÂMIDE ERA ÓBVIA E O MERCADO SABIA, AFIRMOU JOÃO PACÍFICO AO GGN
afinsophia 27/12/2025 0
CEO do Grupo Gaia, João Pacífico detalha como funcionava a pirâmide do Banco Master e como grandes bancos lucraram com o golpe

A pirâmide financeira
Pacífico detalha o funcionamento: de um lado, o banco captava dinheiro a uma taxa altíssima, que precisava ser remunerada de alguma forma. Do outro, comprava carteiras de créditos fictícios, ativos que não existiam, para tentar demonstrar que possuía um patrimônio rendendo o suficiente para pagar os CDBs de 140% do CDI que ofereciam.
O processo virava uma pirâmide clássica: captava-se cada vez mais CDBs e, com o dinheiro novo que entrava, pagava-se quem queria sair. Além disso, criavam-se carteiras fictícias; algumas chegaram a ser vendidas para o BRB, que comprou grande volume dessas carteiras do Banco Master.
Eles sabiam de tudo?
Mesmo diante disso, o escândalo foi abafado pelos grandes bancos, que lucraram com a operação. “O Master captava dinheiro pagando 140% do CDI. Nem dá para achar que ele paga porque é bonzinho, porque ele quer que as pessoas enriqueçam. É óbvio que estava errado. E é óbvio que o mercado sabia”, afirma Pacífico.
De acordo com as notícias, a XP distribuiu aos seus clientes R$ 26 bilhões em CDBs do Master, enquanto o BTG chegou a R$ 6,7 bilhões. Pacífico questiona: “Você acha que o BTG e a XP não sabiam disso? Achavam que o Vorcaro [dono do Master] era um gênio das finanças, que dobrava o patrimônio ano após ano?”, ironiza.
Golpe em cima de golpe
Luis Nassif, que conduz a entrevista, lembra como a Fitch Rating ajudou no golpe do Master. A agência de classificação de risco atribuiu uma nota de “lixo” para o público externo, mas, para o Brasil, o ativo era recomendado. O argumento de venda era a garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos). Porém, o produto foi liberado para fundos de pensão de municípios, que não possuem cobertura do FGC. “Isso é um golpe”, afirma Nassif.
Pacífico acrescenta que, mesmo com a garantia, a conta não fecha. O FGC cobre até R$ 250 mil por CPF. O rombo do Master chegou a R$ 40 bilhões. O FGC, que possui cerca de R$ 160 bilhões em caixa, teria que usar 25% de todo o seu fundo (R$ 40 bi) para cobrir o golpe de um banco que não tinha nem 1% do mercado.
Ele também classifica como absurda a postura dos bancos que vendiam o CDB do Master alegando a segurança do FGC. Vendiam sabendo que, mesmo se fosse um crime, a operação compensava para o investidor por estar “garantida”.
O mercado financeiro como cassino
Com ampla experiência no setor, Pacífico faz uma análise detalhada de como o mercado financeiro virou um grande cassino de apostas, onde poucos tomam as grandes decisões. Ele relata que os grandes decisores da chamada “Faria Lima” operam com apostas sobre o futuro do Brasil e “fazem de tudo” para que aquela aposta se concretize. Se um fundo gigante aposta contra o Brasil, realizando operações que lucram se a economia for mal, o cenário de crise se torna favorável a eles.
A estrutura funciona em cascata: os grandes decisores dos maiores bancos tomam posições, que são reproduzidas pelos analistas financeiros. Esses analistas, baseados nessa pequena elite, influenciam o relatório Focus (produzido pelo Banco Central ouvindo o mercado). Para fechar o ciclo, a imprensa financeira é cooptada. Como os veículos especializados muitas vezes têm como donos bancos ou instituições com interesses específicos, a mídia noticia dados econômicos influenciados por esse interesse, ouvindo fontes que defendem suas próprias carteiras.
Pacífico explica que um representante de um fundo que dá uma entrevista na TV, por exemplo, pode estar ali para defender a “aposta” da sua instituição. Se apostaram contra o país, ele não fará uma análise contrária à estratégia do fundo. O executivo provoca dizendo que esses analistas deveriam abrir suas posições no mercado antes de opinar na TV. Assim, seria possível saber se o interesse em defender o aumento da taxa de juros é técnico ou apenas para lucrar com a aposta. É essa lógica que embasa a defesa de cortes em avanços sociais, como o Bolsa Família e o BPC.
O impacto na sociedade
Pacífico comenta como essa influência afeta a sociedade como um todo. Com a explosão das “bets” (apostas online), beneficiários do BPC e do Bolsa Família acabam caindo na armadilha da promessa de dinheiro fácil.
Ele exemplifica: um trabalhador precarizado, com carga horária de 12 horas, ouve de um influenciador de finanças o discurso da meritocracia, de que “basta trabalhar mais”. Sem alternativas e com pouco tempo, ele tenta a “renda extra” em cassinos online, muitas vezes comprometendo seus benefícios de subsistência.
O executivo critica a rentabilização em cima desses ativos, citando a indecência dos créditos consignados para aposentados e empréstimos com garantia do FGTS ou BPC. Ele alerta para detalhes que passam despercebidos: ao usar o FGTS como garantia de empréstimo, se o trabalhador for demitido, perde o direito de sacar o fundo, pois o valor está travado pelo banco. A instituição financeira não corre risco algum nessas operações e ainda pratica taxas de juros muitas vezes abusivas.
Pacífico chama o Brasil de “país dos banqueiros”, onde o setor se infiltrou em todas as áreas com a ideologia neoliberal para extrair dinheiro em todas as frentes: do trabalhador, do aposentado e através das taxas de juros altas, vendidas à sociedade como “necessárias” para controlar a inflação.
Por fim, ele aponta o pânico moral criado nas eleições como uma tática de mercado. Segundo ele, o mercado financeiro torcia pela vitória de Jair Bolsonaro. Com a derrota, passaram a apostar contra o Brasil, mais por torcida do que por análise econômica séria, disseminando a ideia de que o país viraria uma “nova Venezuela”, com inflação descontrolada. Essas previsões, difundidas pela mídia especializada, não se concretizaram, gerando prejuízo para os fundos que apostaram no caos.
Assista a entrevista completa: