EMIR SADER: DIREITA BRASILEIRA NÃO CONSEGUE DESATAR SEUS NÓS

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21/12/2021.

 

Créditos da foto: (Gabriela Biló/Estadão Conteúdo/Arquivo)

 

A direita brasileira se enrolou nos nós que ela mesma se atou. Não consegue se desfazer do Bolsonaro, não consegue projetar o Moro, nem nenhum outro nome da terceira via. Caminha, no melhor dos casos, para ela, para ser derrotada por Lula com o Bolsonaro no segundo turno. Ou, no pior, para ela, ser derrotada pelo Lula no primeiro turno.

Com o golpe que deu em 2016, a direita brasileira abandonou o caminho da democracia e enveredou na aventura que jogou o Brasil nas mãos do Bolsonaro. Derrotada quatro vezes seguidas, tomou o atalho do golpe.

Terminou atando seu destino ao do Bolsonaro. Se valeu da sua eleição, como resultado das manobras jurídicas e policiais, que impediram a candidatura do Lula e permitiram à direita continuar assaltando o Estado brasileiro.

Mas a operação tinha seus riscos. O primeiro é a incapacidade congênita do Bolsonaro para governar. Ele confunde governar com mandar, como se estivesse dirigindo uma milícia. Faz um péssimo governo. Ainda assim, sua política econômica atende os interesses do grande empresariado, que atualmente é o único setor que o apoia majoritariamente. Pelas privatizações, pelas desregulamentações da economia, pela abertura da economia ao mercado internacional, pelo ataque sistemático contra os direitos dos trabalhadores.

Mas politicamente o governo é um desastre. Não coordena a ação quer permita organizar o bloco político de forças que apoiariam sistematicamente ao governo. Tem péssimas relações com o Judiciário e com os meios de comunicação. Desprestigia a imagem do Brasil no mundo.

Em suma, é um péssimo governante. Mas ainda mantem apoios que, embora insuficientes para a reeleição e talvez nem mesmo para impedir a vitória do Lula no segundo turno, estão muito acima dos outros pré-candidatos, inclusive o Sérgio Moro, apesar de todo o apoio que este recebe da mídia.

A direita não consegue abandonar a Bolsonaro, nem tem alternativas. Está com seu destino amarrado ao do atual presidente. Não consegue visualizar o que será dos seus interesses depois do governo atual.

A perspectiva da candidatura de Sérgio Moro surgiu com a esperança da direita de que pudesse superar a Bolsonaro, disputar com Lula e eventualmente chegar ao segundo turno com o ex-presidente.

Se lançou com a tentativa de reatualizar o tema da luta contra a corrupção. ”Precisamos falar da corrupção”, anunciou ele. Não entendeu, nem quer entender, que o país mudou muito desde que eles prepararam o golpe contra a democracia, apoiados na Lava Jato e na complacência do Judiciário e da mídia.

Assim, a direita tem dois problemas com eles. Bolsonaro tem apoios suficientes para estar em segundo lugar, mesmo sem força pra ir ao segundo turno. Mas basta para impedir que Moro ou outro candidato o supere.

E Moro não te outro discurso que não seja o do combate à corrupção. Depois da Vaza Lato, sua imagem mudou. Quando foi para o governo, já perdeu prestigio. E quando vieram as denúncias sobre as manipulações dos processos, piorou. Agora, com as denúncias sobre casos pessoais de corrupção, ele não decola nas pesquisas, é um pré-candidato a mais da falida terceira via.

A direita criou seus monstros e agora não consegue se livrar deles. São seus candidatos. Tem que encarar a possibilidade real de voltar a perder o governo para o PT.

A maioria do empresariado ainda apoia ao governo e ao Bolsonaro como candidato. Sabem que com a política econômica neoliberal ganham como nunca e que um governo do Lula teria outra politica econômica. Teria que se acomodar, como fizeram no outro governo do Lula. Mas já estavam acostumados a ganhar dinheiro a rodo com o outro modelo econômico.

Mas, principalmente, sabem que o retorno de um governo do PT, enquanto conseguir manter a democracia, pode ficar por muito tempo no poder. Que só conseguindo romper de novo com a democracia, pode pensar em voltar ao governo do Brasil. Hoje não tem candidato, nem projeto. Se encalacrou com o caminho que tomou, de ruptura da democracia e por apostar no Bolsonaro.

Agora, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Fracassou em ter um projeto para o Brasil. É uma direita derrotada.

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