FILÓSOFO VICTOR LEANDRO*: A MORTE, A MORTE, A MORTE, E A POSSÍVEL OUTRA MORTE DE MANAUS, A CIDADE QUE LUTA CONTRA SI
Por Victor Leandro
O vírus ou a fome. Esta é a dúvida imposta ao povo pelos governantes da capital, que ainda assinalam a opção pelo primeiro como imprudência. Claro, diz o outro, não são eles que estão aí. Não é neles que a barriga dói. Então fica fácil ser sensato quando se tem uma mesa farta e a geladeira cheia.
Mas as pessoas irão morrer. Haverá uma próxima onda. Terceira, quarta, quinta, sexta, que seja. Existe dinheiro, porém não vontade de comprar a vacina. Tudo é tão pacífico, aceitável. Mesmo os protestos têm um ar de efemeridade que os torna esquecíveis. De qualquer modo, a vida precisa seguir. O mais é andar desviando dos corpos.
E assim a cidade se destrói. Também sua memória, seu sentido humanista, ou o que sobra dele. Aqui, sobe uma peripécia. Acaso não está por demais deprimido esse texto? Sim, que lúgubre! É preciso encarar como comédia. Fazer um meme. Está desse modo tudo resolvido.
Pois ser sério demais atrapalha na hora do voto. corre-se o risco de pensar muito e pôr vermelho na urna. Se o tivéssemos feito, provável que não desaparecessem imunizantes, o que seria por agora um ato desrespeitoso. A capital suicida precisa manter seu bom nome. O restaurante está aberto. Vamos festejar a tarde inteira.
- Victor Leandro é filósofo escritor, novelista, analista-político, doutor e professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA)
