CONCEIÇÃO LEMES: INFECTOLOGISTA DETONA PROPOSTA DE MÉDICO BOLSONARISTA: “NESTE MOMENTO, ISOLAMENTO VERTICAL OU ‘DESCONFINAMENTO SELETIVO’ pE MUITO LEVIANO E ARRISCADO

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BLOG DA SAÚDE


08/04/2020.

por Conceição Lemes

O médico oncologista André Márcio Murad, professor da Universidade Federal de Medicina (UFMG), é antipetista virulento.

Em rede social, onde é bastante ativo, já chamou o ex-presidente Lula de larápio, a ex-presidenta Dilma de bucéfala e jumenta e o PT, de organização criminosa e seita satânica esquerdopata.

Também em rede social já se manifestou a favor de um golpe militar urgente.

Votou em Jair Bolsonaro (sem partido) para presidente da República.

Em carta a Bolsonaro, datada de 3 de agosto de 2019, ele não deixa dúvidas:

Meu caro capitão: sou seu eleitor, seu apoiador e lutei como nunca para que seu governo fosse eleito e que assim, interrompêssemos o nosso deletério e abismal calvário de 16 anos de execração, pilhagem e domínio Lulopetista, os quais nos levaram à bancarrota moral, social e econômica.

Ela foi postada num dos blogs do portal mineiro Uai, o do jornalista José Aparecido, onde Murad publica constantemente seus textos.

Um dos mais recentes rendeu esta chamada de capa: Médicos recomendam retorno ao trabalho e acompanhamento dos casos de Coronavírus, reproduzida internamente no blog.

Embora o título fale em médicos, a única opinião postada é a de Murad, que defende o isolamento vertical, tal qual Bolsonaro.

A abordagem cirúrgica e vertical focaria em proteger e isolar os que correm maior risco de morrer ou sofrer danos de longo prazo — isto é, idosos, pessoas com doenças crônicas e com baixa imunidade — Para os demais, um isolamento de 2 semanas. Para os infectados, os sintomas aparecerão nesse período. “Aqueles que tiverem uma infecção sintomática devem se auto-isolar em seguida.

Quem não estiver sintomático e fizer parte da população de baixo risco deveria voltar ao trabalho ou a escola depois destas duas semanas. Na medida da evolução do número de novos casos, o isolamento geral por 2 semanas seria novamente indicado em etapas posteriores, dependendo da curva apresentada.

Dias depois, o texto repercutiu em conhecido site de extrema-direita.

O oncologista e pós-doutor em genética André Marcio Murad propõe um “desconfinamento gradual e seletivo” da população de baixo risco (com menos de 60 anos e sem comorbidades, como hipertensão, diabetes, doenças respiratórias, etc.) com base numa testagem em massa do novo coronavírus.

“Alguém pode me esclarecer por favor qual o benefício de se manter uma pessoa saudável em quarentena sendo que ela já apresenta sorologia compatível com imunidade ao vírus?”, questiona o médico.

“Eventualmente, confinamentos futuros poderiam ser determinados dependendo da curva de crescimento da doença. Com os testes rápidos que são sorológicos e quantitativos, poderemos liberar os que já desenvolveram níveis elevados de IgG, e portanto uma suposta imunidade. Do contrário, a morte da economia e de toda a sua engrenagem e cadeia produtivas será muito mais devastadora e deletéria, pois teremos uma carnificina dupla: pela pandemia e pela miséria!”, alerta.

Em rede social, ele reforça o argumento, frisando que concorda com Bolsonaro:

Murad, assim como Bolsonaro, estão totalmente na contramão da recomendação Organização Mundial de Saúde (OMS), que preconiza isolamento social, também chamado de distanciamento social ou isolamento horizontal.

“Nesse momento, sugerir o isolamento vertical ou ‘desconfinamento seletivo’ é muito leviano, é muito arriscado”, critica o infectologista Unaí Tupinambás, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em entrevista ao Blog da Saúde.

“O isolamento horizontal, ou social, é a única forma de a gente combater essa pandemia”, acrescenta.

Segue a nossa entrevista:

Blog da Saúde — Por quê?

Unaí Tupinambás – Não temos vacina nem um antiviral efetivo. A única medida que funciona é o isolamento social. Cada vez a experiência de outros países reforçam isso.

Blog da Saúde – Estudos que saíram nas últimas semanas também mostram isso.

Unaí Tupinambás – Exatamente. Em 26 de março, saiu no The Lancet, uma das mais prestigiosas revistas de medicina do mundo, um estudo mostrando o impacto do isolamento social em Wuhan, na China.

Em 23 de janeiro, as autoridades chinesas fecharam a cidade. Dois dias depois, 25 de janeiro, era o ano novo chinês, momento em que os chineses viajavam para comemorar a data.

Nos primeiros 14 dias após o fechamento de Wuhan houve um aumento dos casos, como era esperado.

Depois houve um descenso da curva epidemiológica.

A partir do 14 de fevereiro, essa curva só foi caindo, caindo, caindo.

A China, país com 1,4 bilhão de pessoas, conseguiu controlar a epidemia.

Vale lembrar que Wuhan, que fica na república de Hubei, tem 60 milhões de habitantes

Ou seja, 20 milhões a mais que o Estado de São Paulo, que tem 40 milhões de habitantes.

Os chineses arcaram com o prejuízo econômico. Preferiram resguardar a vida da sua população.

Já a Itália vacilou. Lamentavelmente, deu no que deu.

Blog da Saúde — Bolsonaro insiste na volta ao trabalho, no isolamento vertical, e insufla seus apoiadores nesse sentido. O que acha?

Unaí Tupinambás — É totalmente irresponsável, genocida. Acho que cria um caos, uma dubiedade na população.

Os médicos e os cientistas falam uma coisa. Aí, o presidente fala essas asneiras. Um negócio totalmente irresponsável. Mas há algumas iniciativas interessantes.

Blog da Saúde – Por exemplo.

Unaí Tupinambás — Eu faço parte dos comitês da UFMG e da Prefeitura de Belo Horizonte.

Nós orientamos fechar BH a partir do dia 19 de março. Achamos que esse fechamento foi na hora adequada para causar um impacto no achatamento da curva.

Blog da Saúde – O que seria necessário para se fazer o isolamento vertical?

Unaí Tupinambás –Teríamos que testar todos os sintomáticos respiratórios assim como seus contatos próximos. Esta medida não está no nosso horizonte próximo.

Blog da Saúde – A orientação é continuar em casa?

Unaí Tupinambás – Seguramente. As pessoas não devem sair de casa, principalmente as mais idosas ou com alguma doença.
Repito. É a única forma que a gente tem de combater esse vírus. Wuhan, na China, conseguiu. A gente pode conseguir.

Blog da Saúde – O que mais o senhor recomenda?

Unaí Tupinambás – Lavar frequentemente as mãos com água e sabão. Um outro estudo, que saiu também no The Lancet, mostra que se 90% da população aderisse à lavação das mãos – com água e sabão –conseguiríamos conseguiria controlar esta epidemia.

Blog da Saúde – E álcool em gel?

Unaí Tupinambás – É dispensável,se lavarmos frequentemente as mãos com água e sabão. água e sabão. Principalmente a população mais vulnerável, como a moradora de favela (devido à aglomeração) e moradores de rua.

Lavar a mãos com água e sabão é tão eficiente quanto o álcool gel contra o coronavírus.

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