MOISÉS MENDES: A VELHA DIREITA TAMBÉM ENTRA NA CAÇADA DO FASCISMO A ALEXANDRE MORAES

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Publicado por Moisés Mendes 

Alexandre de Moraes, ministro do STF. Foto: reprodução
O bolsonarismo pediu a cabeça de Alexandre de Moraes com o mesmo afinco com que pedia anistia. Fracassou até aqui na missão que agora a grande imprensa assume, com um detalhe: os jornalões também podem fracassar, mas com um custo quase impagável.

O jogo pesado e desleal da extrema direita é da normalidade da política brasileira desde a ascensão do bolsonarismo. Perder, como vêm perdendo, é desse embate em que, desde o fracasso do golpe, vale tudo. Inclusive tentar fugir com um cachorro para El Salvador, com baldeação no Paraguai.

Mas os jornalões e as corporações de mídia não têm para onde fugir. Foram vitoriosos no chamado mensalão, no golpe contra Dilma e na caçada a Lula, mesmo que Lula tenha sobrevivido.

E esse é o problema. Lula sobreviveu. Se falharam no bote no cerco a Moraes, por erro de cálculo e excesso de arrogância, os jornalões levarão um tombo com danos irreparáveis, pelo não cumprimento de regras elementares numa acusação.

O mais poderoso ministro da história do Supremo, o que levou uma eleição adiante quando muitos acreditavam que isso não seria possível, que comandou a investigação, o julgamento e o encarceramento de generais, que escapou de um plano para assassiná-lo, esse ministro pode ter cometido o erro de ter se envolvido no caso do Banco Master?

É o que dizem. Maria da Conceição Tavares, se ainda estivesse entre nós, certamente iria perguntar aos gritos, porque em voz baixa não teria sentido: mas que porra é essa de Banco Master?

Que história é essa, que banco é esse? Antes do caso Master, Moraes estava sendo cercado pela extrema direita, que deseja tirá-lo do jogo por crime de responsabilidade. Golpearam Dilma por crime de responsabilidade.

De cada 10 brasileiros, um conseguirá resumir precariamente por que golpearam Dilma. Os outros não conseguirão dizer que porra é essa de pedalada fiscal que a derrubou. O que é crime de responsabilidade? É só revide?

De cada 100 brasileiros, nenhum sabia da existência do Banco Master. Só Gabriel Galípolo, Malu Gaspar, a Faria Lima, André Esteves, gente do Banco de Brasília, políticos e alguns mafiosos. Nunca ninguém ouviu falar de Daniel Vorcaro.

Pois essa porra de Banco Master, que disputava a série C do mercado financeiro, está no centro da confusão que pode entregar ao bolsonarismo a cabeça de Alexandre de Moraes.

Não há, mesmo com forçação, como comparar os nomes ligados ao caso do Banco Master aos personagens centrais de crises anteriores. Pois esse banquinho de anônimos é apresentado como a Fiat Elba de Moraes, que o golpismo sempre torceu para que existisse.

A direita se excita diante do que consideram certezas e as esquerdas se constrangem diante de dúvidas assombrosas, mesmo que camufladas em muitos sentimentos: o ministro que salvou a democracia caiu na armadilha de defender o Master em nome da mulher advogada?

E o que temos até agora? Nada. Após cinco dias da denúncia de Malu Gaspar, não há nada capaz de sustentar a acusação. Há mais evidências de desconforto no jornalismo dos jornalões do que indícios contra o ministro, como revela texto de Monica Bergamo na sexta-feira na Folha, que tem esse trecho:

“Um integrante do governo chegou a afirmar à coluna que Moraes não teria condições de “sobreviver” a uma aliança que estaria se formando contra ele e que juntaria banqueiros e empresários da avenida Faria Lima, órgãos de mídia e setores da direita”.

Uma das grandes jornalistas brasileiras cita “um integrante do governo” que “chegou a afirmar”, usa a palavra “sobreviver” entre aspas e dá espaço à suspeita de que existe uma articulação contra Moraes de banqueiros, empresários, Faria Lima, corporações de mídia e “setores da direita”, o que no fim é tudo a mesma coisa.

O que fica claro nesse resuminho, e nas tentativas de chamar Monica, Merval Pereira, Eliane Cantanhêde e outras celebridades dos jornalões para salvar Malu Gaspar, é que o jogo pesado contra Moraes agora é da direita, e não mais só das facções do fascismo.

E não é mais só da velha direita do Congresso, absorvida pelos interesses da extrema direita, mas da direita em geral, como Monica enfileira no seu texto. Segurem Moares e assim conseguiremos segurar Flavio Dino, as investidas contra as fintechs e as quadrilhas das emendas. E, por efeitos indiretos, conseguiremos segurar Lula em 2026.

Os jornalões só expressam o desejo da velha direita de se agarrar ao caso Master para envolver Moraes. A antiga direita também quer a cabeça do ministro, por achar que assim já pega também o tronco de Flavio Dino, dá um aviso antecipado a Jorge Messias e segura o ímpeto do Supremo e o empurra para a autocontenção.

As corporações de mídia citadas por Monica Bergamo e a grande e velha direita se agarram ao arame farpado dessa porra do Master e das demandas do bolsonarismo, por acreditarem que algo acontecerá a partir da denúncia de Malu Gaspar.

Pode criar uma nova Lava-Jato com os restos de parafusos da primeira. Talvez até Tarcísio de Freitas seja salvo, se Flavio sair do jogo. É preciso reacomodar forças, até porque não há outra forma de salvação para a direita que não passe hoje por um Tarcísio domesticado.

Algo acontecerá, é o mantra da direita em desespero. Até agora não aconteceu. Se não der certo, a direita continuará sem rumo e o jornalismo das corporações ficará em situação pior do que a do cachorro de Silvinei Vasques que esperava viver em El Salvador.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) – https://www.blogdomoisesmendes.com.br/

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