LOLA ARONOVICH CRITICA AVANÇO DA IMPUNIDADE E AVANÇO DA MISOGINIA: “PLATAFORMAS LUCRAM COM O ÓDIO”
                Blogueira e professora feminista denuncia coaptação de meninos por grupos de ódio e cobra responsabilização de big techs
Perseguições motivaram Lei Lola, que determina que Polícia Federal investigue crimes de ódio contra mulheres na internet – Pexels
Segundo Aronovich, as grandes empresas de tecnologia toleram e até monetizarem o discurso de ódio. “As plataformas lucram com ódio, lucram com a pedofilia. Elas não querem cortar um dos grandes ganha-pão delas”, afirma. Ela cita o caso de canais misóginos no YouTube que recebem dinheiro por visualizações, enquanto conteúdos feministas são recusados por supostamente conter “conteúdo adulto”. “Site feminista não é monetizado, mas canal que fala que toda mulher é interesseira é. Tem alguma coisa muito errada com isso”, critica.
A professora explica que parte desses conteúdos misóginos hoje adota uma aparência “mais leve”, que ajuda a atrair novos seguidores. “Eles usam a estratégia da misoginia light. No começo, parecem inofensivos, mas à primeira oportunidade revelam quem realmente são”, indica. Ela revela que o ambiente das redes e dos games tem sido usado para recrutar adolescentes. “Eles testam os meninos com falas racistas e misóginas. Aos poucos, ganham confiança e vão incentivando ataques a feministas e minorias”, diz.
Para ela, é preciso combinar a regulação das plataformas, o trabalho nas escolas e a responsabilização. “Os pais têm que acompanhar. Eles são responsáveis pelos filhos. E as plataformas têm que ser responsabilizadas. Não é possível que digam que não conseguem coibir essas coisas”, afirma.
A Lei Lola e o papel da PF
Dona do blog Escreva Lola Escreva, que mantém desde 2018, a ativista foi vítima de diversas perseguições, falsificação de perfis e ataques coordenados. “Durante anos, criavam contas falsas no Twitter, no Gab, no Curious Cat, usando meu nome e fotos. Divulgavam meu endereço e até inventavam histórias absurdas”, lembra.
As ações contra Lola Aronovich motivaram a criação da Lei nº 13.642/2018, conhecida como Lei Lola, que determina que a Polícia Federal investigue crimes de ódio contra mulheres na internet. Mas, segundo ela, o texto ainda é pouco aplicado. “Nunca conseguimos uma reunião com a Polícia Federal. A lei não é muito conhecida, mas tem começado a mostrar resultados, especialmente na prevenção de massacres em escolas”, conta.
O papel da extrema direita
Na sua avaliação, o cenário atual é resultado de uma normalização da misoginia, impulsionada por lideranças políticas de extrema direita. “Com a eleição do [presidente dos Estados Unidos, Donald] Trump em 2016 e, depois, do [ex-presidente brasileiro Jair] Bolsonaro, esses grupos viram que os seus ídolos nunca foram punidos. Então, por que eles vão se esconder?”, reflete.
Para a professora, a ascensão dessas figuras legitimou o discurso de ódio e aproximou misóginos e neonazistas. “Um misógino não é apenas machista, ele é sempre um combo de preconceitos: racista, homofóbico, capacitista, xenófobo, etarista. Tudo vem junto com a misoginia”, diz.
Para ouvir e assistir
O BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.