O RAPPER DON L CRITICOU “CAMPANHA POLÍTICA ÀS CUSTAS DE SANGUE DE FAVELADO” E DIZ QUE VIOLÊNCIA SE TORNOU ROTINA
 
                Rapper falou sobre chacina no Rio e seu novo álbum, “Caro Vapor II”: ‘Mantém força política de trabalhos anteriores’
Rapper Don L, um dos primeiros artistas brasileiros a bloquear as suas músicas em Israel em apoio à Palestina – Bel Gandolfo/Divulgação
“Evitei ver muitas imagens porque essa exposição da nossa dor toda hora também já não comove mais ninguém. Só traz mais sofrimento para nós”, disse. “Esses fuzis que foram apreendidos vão voltar para lá. Quem são essas pessoas? São as que lucram com isso”, lamentou. Para Don L, a brutalidade recorrente nas favelas demonstra uma “perda da sensibilidade” da sociedade e integra “um projeto de dessensibilização” que ele compara ao genocídio palestino.
O artista também comentou o seu novo disco, Caro Vapor II – Qual a Forma de Pagamento?, lançado em junho. Segundo ele, o álbum mantém a força política de trabalhos anteriores, mas com uma sonoridade mais leve e dançante. “A música não serve só a um momento. Eu gosto de fazer músicas complexas, que têm várias camadas”, afirmou.
Para Don L, ser político é algo inevitável. “Mesmo em uma love song, o que você está dizendo ali também é político. Quando você fala de um amor possível, que não depende de riqueza, você está propondo outro tipo de sonho”, explicou. Ele disse buscar nas letras uma forma de “driblar as dificuldades e fazer a vida valer a pena”, inspirado na tradição do samba e da malandragem brasileira.
Don L avaliou que artistas enfrentam hoje uma nova forma de censura, “pior do que a ditadura militar”, por ser disfarçada. “Agora eles encontraram um método muito mais eficiente: financiar alguns e desfinanciar outros. Com a música, não é diferente”, apontou. Para ele, essa lógica faz parte de um projeto global de controle da cultura e da informação.
O rapper, que foi um dos primeiros artistas brasileiros a bloquear as suas músicas em Israel em apoio à Palestina, disse que “os artistas têm medo por um motivo; não é sem motivo, não”. Mesmo assim, reforçou que é possível resistir. “Por mais que eles queiram nos exterminar, vamos sobreviver”, reforçou.
Nordestino, Dom L destacou a importância de valorizar as expressões culturais do Norte e Nordeste. “Tem muita coisa no Brasil que teve grande produção, mas não teve grande escoamento”, disse. O músico contou que Caro Vapor II foi produzido apenas com samples de artistas brasileiros, como forma de afirmar a originalidade do rap nacional. “Eu queria que não tivesse nenhum resquício gringo, usar só o método do hip hop para reverenciar os antigos”, pontuou.
Ao encerrar a entrevista, o rapper se desculpou pela emoção ao falar sobre os impactos da megaoperação policial no Rio de Janeiro. “Ainda está difícil para mim falar sobre o que aconteceu ontem, mas espero que consigamos tirar aprendizado e superar pra ter o país que queremos um dia”, disse.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.
 
                       
                       
                       
                      