LUIS NASSIF: CHACINA NO RIO EXPÕE FARSA DE CLÁUDIO CASTRO

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Ofensiva da ultra-direita tenta classificar facções como terroristas para justificar ações extraconstitucionais e cooperação com EUA.

Resumo da notícia ​
Foi a operação mais desastrada da história de uma polícia historicamente violenta. Na última contagem 64 mortos, dos quais quatro agentes de segurança, mais de 80 presos e um governador perdido.

No início, Cláudio Castro quis passar a impressão de uma ação preparada durante meses. 

A operação mobilizou 2.500 agentes, tendo como alvo líderes do Comando Vermelho. Segundo ele, a ação foi planejada para ocorrer majoritariamente em áreas de mata, para minimizar riscos aos moradores das comunidades. 

Castro declarou que o estado está “sozinho nessa guerra” e que o governo federal teria negado apoio ou participação nas operações, incluindo o uso da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), instrumento constitucional para participação das Forças Armadas.

No decorrer do dia, uma a uma, suas declarações foram sendo desmentidas pelos fatos. Nunca houve pedido de GLO (Operação de Garantia da Lei e da Ordem).

O que ocorreu foi a morte da médica da Marinha Gisele Mendes, em dezembro de 2024, atingida por uma bala perdida dentro do Hospital Naval Marcílio Dias, na Zona Norte do Rio. Na ocasião, a Marinha colocou blindados cercando o hospital, para proteger a área, dentro do limite legal de 1.400 metros em torno de instalações militares.

Em janeiro de 2025, Castro formalizou pedido ao Ministério da Defesa, solicitando blindados da Marinha. Mas a Advocacia Geral da União indicou que o uso de blindados só poderia ocorrer no contexto de uma GLO.

Intervenção estrangeira

O que está por trás dessa chacina é algo mais grave. Trata-se de uma ofensiva dos governadores de ultra-direita, tentando caracterizar uma situação de caos para enquadrar as organizações criminosas em organizações terroristas.

A designação abre caminho para que as agências de segurança norte-americana tratem a organização como “ameaça à segurança nacional” e utilizem instrumentos de contraterrorismo, como interceptações, ligações com iniciativa militar ou forças especiais.

Também dá legitimidade política para que o Estado invoque quadro de “emergência nacional” em que ações extraordinárias podem ser justificadas.

Veja o que diz a Rand Corporation, um think tankl especializado em pesquisa aplicada em temas de segurança nacional, política internacional, defesa:

“Designar esses grupos como terroristas disponibiliza novas ferramentas legais e políticas que podem ser a chave para deter as ambições de expansão global das organizações criminosas transnacionais (…).

“A nova designação de terrorismo confere ao governo dos EUA autoridade legal para processar indivíduos que auxiliam ou trabalham para essas organizações, mesmo que esses indivíduos estejam localizados fora das fronteiras dos EUA”

E o que diz a Casa Branca?

“As atividades dos cartéis ameaçam a segurança do povo americano, a segurança dos Estados Unidos e a estabilidade da ordem internacional no Hemisfério Ocidental. Suas atividades, proximidade e incursões no território físico dos Estados Unidos representam um risco inaceitável à segurança nacional dos Estados Unidos (…)

É política dos Estados Unidos garantir a eliminação total da presença dessas organizações nos Estados Unidos e sua capacidade de ameaçar o território, a segurança e a proteção dos Estados Unidos por meio de suas estruturas extraterritoriais de comando e controle, protegendo assim o povo americano e a integridade territorial dos Estados Unidos”.

Portanto não é coincidência que, no momento em que a aproximação de Donald Trump com Lula desarma o discurso bolsonarista, Flávio Bolsonaro sugerindo aos EUA bombardear a baía da Guanabara.

Governadores de perfil conservador estão tentando reclassificar facções como grupos terroristas, o que teria implicações jurídicas e diplomáticas:

Cláudio Castro usou o termo “narcoterrorismo”.

Romeu Zema (MG) e Tarcísio de Freitas (SP) apoiam a equiparação legal.

O deputado Danilo Forte (União Brasil) apresentou projeto de lei para classificar facções como terroristas.

O governo do Rio enviou relatórios aos EUA tentando incluir o CV como grupo terrorista.

Nos próximos dias, o Rio de Janeiro viverá uma guerra civil, com a polícia e o CV procurando vingar seus mortos. E com a constatação óbvia de que a maioria das vítimas não tinha relação com o Comando Vermelho.

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