EDUARDO APPIO: NÃO EXISTE QUÍMICA ENTRE LULA E TRUMP

0
download (1)

 

Foto: Ricardo Stuckert PR e Reprodução NPR / Montagem GGN

Não existe química entre Lula e Trump

por Eduardo Appio*

A última assembleia da ONU em Nova Iorque foi marcada pelo anúncio de um suposto crush entre Donald Trump e Lula. Alguns creditam esta aproximação às leis da química enquanto outros defendem que o inegável carisma de Lula teria vencido a petulância de Trump.

Ambas as explicações vão de encontro com o bom senso na medida em que Lula e Trump representam polos opostos em termos políticos e humanos.

Lula nasceu em uma família pobre e sobreviveu à fome, enquanto Trump nasceu em berço de ouro e sempre fez questão de ostentar seu luxo brega e decadente.

Lula representa o progresso da civilização humana e liderou lutas humanitárias durante toda a sua carreira política. Trata se do maior líder da esquerda mundial e foi preso por conta disto e por responsabilidade de um tribunal federal político. Trump, ao contrário, nunca foi responsabilizado por boicotar o combate ao Covid ou mesmo liderar a invasão do Capitólio logo que derrotado por Joe Biden. Trata-se do maior líder da extrema direita mundial e os juízes da Suprema Corte lhe concederam poderes autoritários.

Lula é um pacifista e reconhecido mediador de conflitos. Trump é claramente belicista e vê o conflito como seu instrumento diário de trabalho desde que deixou o palco de um programa de televisão onde demitia estagiários em treinamento.

Não existe nenhuma química possível entre estes dois personagens históricos. No plano pessoal certamente existe a boa dose de aversão recíproca e Trump não medirá esforços para interferir na eleição presidencial de 2026 no Brasil.

O pragmatismo de Trump ao acenar para Lula esbarra no idealismo de Lula, o qual tem se mostrado fervoroso defensor de nossa soberania e da Independência do Supremo Tribunal.

Repito. Não existe nenhuma química possível neste caso e tudo não passa de uma grande encenação de Trump visando retardar uma aproximação do Brasil com a China.

As características pessoais de ambos não estão em jogo neste momento. Os interesses econômicos e estratégicos de nosso país devem presidir esta relação institucional. Ainda assim, importante que Trump, mas não o líder chinês, tem sido o maior responsável pela desconstrução do projeto democrático dos Estados Unidos.

O experimento americano, do qual tanto se orgulhavam os fundadores da República dos Estados Unidos, sucumbiu em pouco menos de dois anos de Trump 2.0.

Não existe possibilidade de construção de um projeto com e democrático que envolva Donald Trump e Lula da Silva, mas os interesses comerciais de ambas as potências podem se sobrepor aos conflitos ideológicos.

Ainda assim, quais seriam as reais vantagens para o Brasil neste momento? O que há de concreto neste aceno de Trump que hoje é celebrado pela imprensa brasileira ?

A relação política entre o Brasil e os Estados Unidos precisa ser resgatada pela diplomacia de ambos os países, algo improvável em um cenário atual. O secretário de Estado dos Estados Unidos não tem poupado esforços em criticar o Supremo Tribunal do Brasil, com especial ênfase no grande Ministro Alexandre de Moraes.

Outro dos Ministros do Supremo, Barroso, fala em pacificação do país, como se golpes de Estado e o fascismo fossem escolhas legitimas por parte de nossa população. Não são e nunca serão. São práticas proibidas pelas leis penais de nosso país. A Constituição Fedetal de 1988 é republicana e democrática, além de possuir um forte apelo social.

Não há química possível entre Democracia e Golpe Militar, assim como não há possibilidade de militância político partidária fascista em nosso país. Não se revela possível que partidos se abasteçam dos fartos cofres do fundo partidário para financiar o discurso do ódio e da abolição da Democracia no Brasil.

Já tarda o momento de o Ministério Público e os partidos democráticos questionarem em juízo a atitude de parlamentares e partidos que são contrários à Democracia.

O que falta? Uma nova tentativa de golpe militar em 2026º cidadão brasileiro está pagando para assistir parlamentares que advogam contra o Brasil e a favor das tarifas de Trump, da mesma forma que financia parlamentares que tomam de assalto a mesa da Câmara dos Deputados.

Lula tem razão ao dizer que a soberania não se negocia. Vou além e digo que a democracia não se negocia.

Qualquer pacto espúrio e secreto visando uma suposta e pedante tentativa de pacificação do país somente servirá para alimentar os fornos de uma nova solução final em 2026. Repito. Não existe conciliação possível entre opostos. Assim como não há nenhuma química verdadeira entre Lula e Trump, não existe pacificação baseada em uma anistia costurada nos bastidores de um país que terá eleições no ano que vem. Ministro Barroso, talvez por ingenuidade, acredita no contrário e o tempo dirá se tem razão.

*Eduardo Appio é juiz federal em Curitiba e pós-doutor em Direito Constitucional.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.