EX-MISS MATO GROSSO, TAIANY ZIMPEL É ACUSADA DE MANTER TRABALHADORES EM REGIME DE ESCRAVIDÃO, CRIME QUE SEU PAI JÁ FOI INVESTIGADO

Empresária contratou trabalhadores para cortar e empilhar madeira; pai dela já foi investigado pelo mesmo crime
Empresa que contratou trabalhadores está em nome de Taiany Zimpel, empresária e modelo – Reprodução/Facebook Taiany Zimpel
No Facebook, entre as publicações típicas de uma carreirista do ramo da beleza – fotos ostentando drinks à beira da piscina, looks glamourosos e faixas de miss –, a modelo e empresária impulsiona o trabalho da família. Em uma publicação de fevereiro de 2025, ela procura um caminhão para transporte de madeira. Em outubro de 2024, outra publicação anunciava a venda de lenha nativa “de alta qualidade”.

As condições de trabalho de quem realizava o serviço, no entanto, ficavam longe do alto padrão. Contratados para trabalhar no corte e empilhamento de madeira, os trabalhadores resgatados não tinham acesso às estruturas básicas para higiene e conforto, como água potável e banheiro. De acordo com informações fornecidas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), os homens dormiam em camas improvisadas, com colchões velhos e sujos sobre tábuas e toras. Um único barraco, feito de lona e madeira, abrigava 13 trabalhadores.
“Além disso, os empregadores não disponibilizavam equipamentos de proteção individual e coletiva para a execução dos serviços. Houve, ainda, relatos de intimidação por pessoas armadas e restrição da liberdade de locomoção”, informa o Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso (MPT-MT), que atuou no resgate junto do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), da Defensoria Pública da União (DPU) e da Polícia Federal (PF).
Os demais trabalhadores ficavam em outro barraco, sob as mesmas condições precárias: dormindo em redes, num ambiente sem ventilação, onde dividiam espaço com tambores de óleo e combustíveis.

De acordo com o MPT, com base nas provas colhidas, ficou comprovada a responsabilidade da empresa T.F. Zimpel, que recrutou e manteve os trabalhadores em condições degradantes; e os proprietários da fazenda, que comercializam a madeira e se beneficiaram diretamente da exploração irregular.
Os responsáveis foram sancionados com multa por dano moral coletivo no valor de R$ 1 milhão, a ser destinado ao Projeto Ação Integrada – Mato Grosso (PAI/MT), que realiza ações de combate ao trabalho escravo.
Além disso, a empresa e os donos da propriedade rural firmaram um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), por meio do qual se comprometem a cumprir uma série de obrigações, sob pena de multa no caso de serem constatadas novas violações de direitos. Ainda de acordo com o MPT, os acusados terão de pagar verbas salariais e rescisórias no valor total de R$ 418 mil.

Negócios de família
O caso dos 20 trabalhadores resgatados não é o único relacionado à família Zimpel. Em setembro de 2024, um homem ingressou na justiça com uma reclamação trabalhista e ação de danos morais contra a empresa T.F. Zimpel, que naquela época estava em nome de Elton Renato Hollenbach Zimpel, pai de Taiany.
Entre as denúncias, estão acúmulo de função e falta de pagamento, além de condições precárias de alojamento.
De acordo com informações presentes no processo, a vítima dormia em um barraco de lona. “Não havia sanitários na frente de trabalho, sendo o Reclamante […] obrigado a fazer suas necessidades fisiológicas no mato, e também não havia abrigo para aquecimento e realização de refeições, sendo tudo feito embaixo um barraco de lona, conforme fotos abaixo e provas em anexo”, informa o documento.
Assim como no caso registrado em 15 de setembro, a vítima não tinha acesso a água potável. Outro ponto em comum entre as duas histórias é o lugar onde a exploração aconteceu: a fazenda Eliane Raquel e Quinhão, registrada em nome de Luciano Daroit.
Elton é um reincidente neste tipo de crime. Em 2004, ele foi fiscalizado pelo grupo móvel do MTE, numa ação que resultou no resgate de 13 trabalhadores em condições degradantes e indenizações trabalhistas no valor de R$ 25 mil à época. De acordo com arquivos da Comissão Pastoral da Terra (CPT), os trabalhadores eram empregados no setor da sojicultura, na fazenda Santa Germana, em Nova Ubiratã (MT), a cerca de 300 quilômetros de Nova Maringá.
O caso está registrado na edição número 15 do Observatório Social em Revista, de 2009, que denuncia crimes e infrações socioambientais, com o tema Quem se beneficia com a devastação da Amazônia.
A publicação destaca ainda uma infração ambiental relacionada a Elton que, em outubro de 2004, obteve recursos do Finame Agrícola – programa para a aquisição de máquinas e equipamentos do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). “Em parceria com familiares de Nova Ubiratã, ele adquiriu três colheitadeiras avaliadas em R$ 1,4 milhão. No ano seguinte, foi multado por desmatar floresta nativa na fazenda Vó Ruth e, em 2006, sofreu nova autuação por destruir área de preservação. A área de 1,4 mil hectares foi embargada pelo Ibama [Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis]”.
O Brasil de Fato entrou em contato com a família Zimpel e com Luciano Daroit, mas não teve retorno até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.