Entre os dados mais intrigantes da pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quinta-feira (13), está a insistência em testar Jair Bolsonaro como presidenciável — mesmo inelegível desde 2023 e sob risco concreto de prisão ainda este ano.
A visão é do cientista político Paulo Ramirez, professor da ESPM e da FESPSP. Para ele, a inclusão do ex-mandatário na pesquisa Quaest e em outros levantamentos recentes não se sustenta.
“Não faz sentido do ponto de vista estatístico, é como tentar fazer renascer os mortos. A única justificativa para manter o Bolsonaro nas pesquisas, mesmo inelegível, é testar a capacidade de ele transferir seu capital político para um eventual substituto”, afirmou à TV GGN [confira o link abaixo].
Para Ramirez, esse é o dado mais distorcido, e politicamente relevante, da pesquisa, porque visa medir até onde Bolsonaro ainda conseguiria transferir seu capital político para um eventual substituto indicado por ele.
E o resultado dessa estratégia de manter Bolsonaro nas simulações eleitorais, afirma Ramirez, é inequívoco. “Se não tiver o Bolsonaro, o que fica claro e evidente é que o Lula tem muito fôlego para vencer as eleições”.
Mesmo em um cenário hipotético com Bolsonaro na disputa, o quadro não mudaria de forma decisiva. “Com Bolsonaro seria uma disputa mais apertada, mas ainda assim com um leve favoritismo ao Lula, como foi na eleição passada e de fato se concretizou”, avaliou o cientista político.
O favoritismo de Lula
Em entrevista à TV GGN, Ramirez também analisou a pequena oscilação negativa de Lula na mesma pesquisa. Para ele, o presidente continua com fôlego para um quarto mandato, mas perdeu terreno diante da mudança do eixo da discussão pública, agora dominado pelo tema da segurança, área que considera “o calcanhar de Aquiles do governo”.
Segundo Ramirez, a extrema-direita tem capitalizado estrategicamente essa pauta, especialmente após a operação Contenção no Rio de Janeiro, um massacre que vitimou 121 pessoas.
“A operação do Castro há duas semanas, com todo o espetáculo midiático, levou à morte de quase 130 pessoas, mas ampliou a popularidade da repressão. Somos uma sociedade herdeira da escravidão e da violência. A brutalidade atrai apoio”.
Paralelamente, ele identifica um esgotamento das agendas que vinham favorecendo o governo — o tarifaço dos EUA, a PEC da blindagem, os desdobramentos judiciais de Bolsonaro e a discussão sobre taxação dos mais ricos.
“Esses temas circularam, tiveram forte impacto na mídia tradicional e nas redes, mas chegaram ao limite da adesão. A informação se saturou”, avaliou. Na leitura do analista, esse esvaziamento abriu espaço para a retomada de discursos punitivistas, típicos da extrema-direita.