COISAS DE REVOLUÇÃO
PRODUÇÃO AFINSOPHIA.ORG
Era uma vila, uma comunidade distante da civilização-tecno-burguesa.
Uma comunidade com poucos moradores, mas solidários e felizes que viviam da produção agrícola, criação de animais de pequeno portes e artesanato.
Uma comunidade cultuadora das festas de suas lendas, mitos, tradições, Natal, Ano Novo, Carnaval e outras que inventava. Principalmente, música, dança, teatro e poesia.
Um dia, ao assistirem no campinho da comunidade, uma partida de futebol feminino, alguns homens decidiram criar um time para eles. Realizaram algumas reuniões para tratar do estatuto do time e sua fundação. Com a velocidade de uma flecha, foi criado o Nheengatu Futebol Clube.
Uma tarde, depois de levarem um couro do time feminino, ligaram o rádio na rádio da região para ouvir música e esquecer a sova. Todavia, no meio da programação o locutor anunciou que iria ocorrer na cidadezinha de São Crestovão do Menino Jesus, um torneio de futebol e as inscrições já estavam abertas na sede da associação de futebol da região, e indicou o endereço. Eles ficaram encrespados, mortos de alegria para participar do tal torneiro.
No outro dia, pela manhã, distribuindo afetos alegres, o responsável pelo time, pegou sua carroça, puxada por um jumento, e se mandou para a cidadezinha.
Chegando lá, foi direto para a sede. Entrou, viu um homem sentado atrás de um pequeno balcão, e perguntou onde se fazia a inscrição para o torneiro. O homem respondeu que era com ele, o presidente da sede, e pediu o nome do time e os nomes dos jogadores. Ele entregou um folha de papel com o nome Nheengatu Futebol Clube e os nomes dos jogadores.
O presidente leu, achou estranho aquele nome e perguntou o que significava. Ele respondeu que a língua dos índios da Amazônia. O presidente pergunto se onde ele morava tinha índio, ele respondeu que sim e negros.
O presidente continuou lendo a folha com os nomes, mas ficou intrigado e disse que só tinham dez nomes dos jogadores. Ele respondeu que onde morava tinha muita mulher, mas só dez homens. O presidente respondeu que com dez jogadores ele não poderia fazer a inscrição e participar do torneio.
Ele ficou triste, mas tentou argumentar afirmando que havia jogos que um time ganha até com nove jogadores. Ao que o presidente contestou afirmando que o time que terminou com nove jogadores entrou em campo com onze. Era a regra. Toda partida começa com cada time com onze jogadores.
Ele baixou a cabeça muito triste, se despediu e foi saindo. Perto da porta parou, voltou muito alegre, e perguntou se lésbica podia entrar no time. O presidente afirmou que não, porque futebol era para macho. Ainda mais, porque o time que perdesse para o time que jogou com um time com lésbica ia protestar e tentar anular a partida. Ele disse que era porque na comunidade que morava tinha uma lésbica que era uma grande craka. E foi saindo totalmente desiludido.
Chegou na carroça, passou a mão no lombo do jumento, que ele chamava de irmão, disse que não havia dado: o time não ia participar do torneio. O jumento, seu irmão, relinchou, levantou as duas patas dianteiras e balançou a cabeça. Ele subiu na carroça, pegou as rédeas, mas quando ia pedir para o jumento seu irmão partir, deu um grito de alegria falando para o jumento seu irmão que tinha tido um grande saque que poderia mudar tudo. E correu para sede.
Entrou, e, aos gritos, perguntou ao presidente se gay poderia jogar. Ao que o presidente bateu no peito e disse que sim, porque gay é macho.
O torneio foi disputado em dois campos. O Campo Bodejo, porque era cercado de milharal e os bodes passavam o tempo comendo milho. E o Campo Sapão, porque perto tinha uma lagoa carregada de todo tipo de sapo que passavam o tempo cantando. O time primeiro lugar do bodejo disputava com o primeiro lugar do Sapão o título de campeão.
Aí, não deu outra: Nheengatu Futebol Clube foi Campeão. E mais, um dos seus jogadores foi escolhido o melhor jogador do torneio, o artilheiro, o melhor cobrador de falta, pênalti, escanteio, lateral, cabeceador, a mais bela e elegante matada de bola no peito e com o melhor preparo físico. Além, de ganhar o troféu Bola de Barro, criado pela mais talentosa artesã da região que usava o barro mais raro da região, com valor de ouro.
E nós perguntamos quem foi este jogador?
A comunidade ficou tão conhecida que os moradores resolveram fazer dela uma cidade. Conseguiram todos os documentos necessários, fundaram a cidade e elegeram o gay-craque como prefeito. Ao que ele aceitou, mas com a condição que todos os moradores também fossem prefeitas e prefeitos e participassem de todas produções políticas, econômicas, sociais, psicológicas, estéticas, e, com um programa voltado exclusivamente para a educação e proteção das crianças e adolescentes. Programa especial para idosos e idosas não foi preciso, porque todos continuavam ativos fazendo uso de suas experiências para a cidade e com humanos salários.
Assim, foi criada a primeira Cidade Socialista.
Hoje, embora já tenha sido até tema da Redação do Enem, ainda se pergunta: Quem foi este Jogador?
E a Corina das Fofoquildes, responde: “Eu sei, mas não digo!”.