A VOLTA DO QUE NÃO FOI. OU, NINGUÉM FOGE DE SI MESMO

PRODUÇÃO AFINSOPHIA.ORG
A imaginação é produto da memória. A memória é produto da experiência.
Viver é experimentar, memorizar e imaginar.
O filósofo Bergson chama a memória de lembranças-virtuais, imagens-virtuais ou névoas de lembranças-virtuais. O que significa que todo atual é envolvido pelas imagens-virtuais nascidas no momento da experiência.
É aí que o bicho pega. Como um atual é composto de sentimentos, emoções e afetos, ele pode produzir uma nova imagem-virtual que vai se agregar às lembranças-virtuais enriquecendo esse mundo-imaginário. Porém, se o atual é dominado por sentimentos, emoções e afetos já cristalizados como incômodos, a nova experiência é bloqueada e o imaginário permanece o mesmo cristalizado. É o que caracteriza a neurose e a psicose.
Com o ego muito bem cristalizado, Bolsonaro nunca fugiu do Brasil. Um corpo trasladado-espacialmente não significa deslocamento do ego. Muitos presos-políticos, embora isolados na prisão, jamais tiveram seus seres aprisionados. É só um exemplo. Não o caso de Bolsonaro que não tem ego-democrático.
Propagaram que ele havia deixado o Brasil para não passar a faixa para Lula. Necas! Ele não saiu do brasil o que ele não suportava era acreditar que não era mais o personagem que mandava e desmandava perversamente no país. Que havia perdido uma eleição-limpa e não era mais a figura-maior da coleção de seus colecionadores de aberrações.
Com o corpo nos EUA, ele se mantinha aqui. Eram alucinação e delírio? Perguntam os inquietos. Resposta: Eram. Se ele não alucinasse e não delirasse que ainda continuava no governo brasileiro como ele iria manter suas ilusões que são os suportes de suas megalomanias-egoicas? Ele perambulava pelas ruas do Tio Sam, mas o cenário plástico e social, era o Brasil. Nessas perambuladas, ele conversa continuamente com os seus iguais.
Para isso servem as imagens-lembranças, as névoas-virtuais, o turbilhão-imaginário. Se quando não se quer as imagens-lembranças, como no luto, elas dominam nossas consciências, imaginemos quando compulsivamente nós convidamos suas presenças. Bolsonaro todo momento perambulava pelo Palácio da Alvorada, pelo Palácio do Planalto, conversava com Valdemar da Costa Neto, Michelle, Moro, Dallagnol, Damares, bancadas da Bala, Bola, Bíblia, a turma da CNN, alguns da Globo, Folha, Estadão, Veja, Flamengo, Zinho, Romário, pastores, caminhoneiros, Regina Duarte, falsos-sertanejos, Nelson Piquet, Roger, sua prole, cheirava as joias. Transava seu cotidiano de presidente.
Quando pediu uma comitiva para buscá-lo no aeroporto, fazia parte de seu quadro de presidente eterno. Para não escrever vitalício que é muito banal. Não teve comitiva, só os lambaios de sempre, para que o despertar não fosse muito cruel.
Na verdade, não teve comitiva no aeroporto, porque ele nunca foi. E não existe volta do que não foi. Ninguém vai para aeroporto buscar quem não viajou.
Como disse o devir-molecular-esquizoanalítico, Daime Zite: Quando ele viu o convite da Polícia Federal para depor no dia 5 de abril, deve ter despertado das ilusões ao som da sentença teo-freudiana: Ninguém foge de si mesmo! Teve que tirar o colete de proteção contra ataque-balístico, e dizer para si: Isso não é mais preciso.
Agora, quem cria a Estética-Ética das imagens-lembranças é a concretude-brasileira: DEMOCRACIA-REAL! LULA-PRESIDENTE!