PARABÉNS PARA BRECHT, NESTE 10 DE JANEIRO: “A JUSTIÇA É O PÃO DO POVO QUANDO É SAUDÁVEL” AOS QUE SE JULGAM JUSTOS SEM ENTENDER DE PÃO E NEM DE POVO

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PRODUÇÃO AFINSOPHIA.ORG

 

O teatrólogo, poeta, escritor, crítico de cinema, músico, alemão Bertolt Brecht é um homem-político na mais pura expressão do conceito social. Sua formação marxista permitiu que ele se apropriasse da sociedade capitalista como matéria, examinasse sua forma de desenvolvimento e encontrasse seus elos internos para poder ter dela o profundo conhecimento que baseiam a crítica. Conhecer o objeto examinado, como dizem os gregos, para não se enganar sobre suas estruturas e simulações.

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Os estudos de Brecht sobre o sistema capitalista lhe permitiu conhecer a coluna maior e mais forte de seu organismo depois de seu corpo político econômico que é o poder judiciário. As leis que sustentam suas determinações e que fazem com elas sejam tidas como verdadeiras e necessárias. E que para isso precisam de homens e mulheres como seus fiéis agentes para que elas sejam aplicadas, cumpridas e se mostrem sempre como corpo observador. Olhar paranoico do Estado.

Brecht extraiu daí a certeza de que esse poder é também sustentado pela moral social espalhada pela sociedade através das práticas das classes sociais sem as quais ele não resistiria. Para isso não importa se essa moral é na verdade imoralidade como se observa na sentença proferida por um de seus personagens burgueses: “Primeira a barriga depois a moral”. A barriga pode ser o lucro capitalista: primeiro o lucro, não importa como, depois a moral. Pode ser a vaidade: primeiro minha glória depois a moral. Pode ser o reconhecimento: primeiro a homenagem depois a moral.

A barriga para Brecht surge como uma realidade própria da indigência moral burguesa. Um mandar às favas aos direitos morais do povo em benefício da ‘moral’ burguesa. Em certos casos, quando necessário, a corrupção, um dos corpos eficazes do capitalismo, se combate com a corrupção em nome do “não roubarás” roubando. Um mandamento que sem ele o capitalismo com sua moral burguesa não se manteria, visto se encontrar teologicamente internalizado nas consciências mistificadas dos incautas que servem à justiça burguesa.

O poema O Pão do Povo, de Brecht, expõe de maneira cristalina a mentira da justiça burguesa que se quer como o modelo da honestidade e coerência social. É um poema que serve de instrumento de análise do que ocorreu no Brasil onde ‘honestíssimos’ de todos os tons e matizes se colocaram ‘santificados’ contra o governo Dilma, o presidente Lula e a parte democrática do país.

Personagens que nunca semearam o trigo, cozinharam a massa e fizeram o pão, para que ele fosse “bastante saudável” e lançassem fora “a justiça ruim”. Personagens que não sabem que a justiça, como o pão, para ser boa deve ser feita pelo povo. Por isso o povo brasileiro clamou por justiça saudável.

Leiamos o poema, examinemos e tomemos posição política-moral justamente.

                               O PÃO DO POVO

A justiça é o pão do povo.

Às vezes bastante, às vezes pouca.

Às vezes de gosto bom, às vezes de gosto ruim.

Quando o pão é pouco, há fome.

Quando o pão é ruim, há descontentamento.

 

Fora com a justiça ruim!

Cozida sem amor, amassada sem sabor!

A justiça sem sabor, cuja casca é cinzenta!

A justiça de ontem, que chega tarde demais!

Quando o pão é bom e bastante

O resto da refeição pode ser perdoado.

Não pode haver logo tudo em abundância.

Alimentado do pão da justiça

Pode ser feito o trabalho

De que resulta a abundância.

 

Como é necessário o pão diário

É necessária a justiça diária.

Sim, mesmo várias vezes ao dia.

 

De manhã, à noite, no trabalho, no prazer.

No trabalho que é prazer.

Nos tempos duros e felizes.

O povo necessita do pão diário

Da justiça, bastante e saudável.

 

Sendo o pão da justiça tão importante

Quem, amigos, deve prepará-lo?

 

Quem prepara o outro pão?

 

Assim como o outro pão

Deve o pão da justiça

Ser preparado pelo povo.

 

Bastante, saudável, diário.

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