Obrigado, Bolsonaro, você transformou a extrema direita em ‘caso de polícia’

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Meses antes da eleição e depois dela, Jair Bolsonaro proferiu ataques ao STF e ameaçou utilizar as Forças Armadas para permanecer no poder. Ele espalhou notícias falsas sobre as urnas eletrônicas, questionou o resultado do primeiro turno e demorou a aceitar a derrota. Quando finalmente admitiu ter perdido, preferiu fugir do país para não cumprir o ritual de passagem da faixa presidencial.

Ontem todas as ameaças de violência políticas feitas pelo ex-presidente e seus filhos foram cumpridas. O Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o prédio do STF foram assaltados pelas tropas bolsonaristas. Nos EUA, o comandante em chefe das hordas terroristas tentou se desvincular do movimento que comanda.

A negação de Bolsonaro é implausível. Centenas de pessoas foram presas. Os smartphones dos terroristas canarinhos fornecerão inevitavelmente provas das ligações da família Bolsonaro com as redes de desinformação e de ódio que resultaram nas cenas lamentáveis que alguns deles mesmos registraram.

Os recursos tecnológicos utilizados para organizar o terrorismo canarinho podem e devem ser utilizados contra os próprios bandidos. As ligações virtuais entre os marginais presos em 08/01/2023 e outras pessoas que poderão ser exploradas. Os suspeitos de pertencer às tropas de assalto milicianas dos Bolsonaro poderão tratados como elos na cadeia de comando ou mesmo como participantes da destruição planejada dos símbolos do poder democrático. Não será muito difícil colocar os criminosos na cena do crime utilizando os registros de GPS dos smatphones deles e as informações geradas nas fotos que eles fizeram em Brasília ontem.

A força bruta utilizada ontem justificará o uso legítimo da força da Lei e do devido processo legal contra os criminosos bolsonaristas. Não é possível perdoar os estragos que eles praticaram contra o patrimônio público e contra a imagem do Brasil no exterior. Nenhuma anistia deve ser concedida aos criminosos. Cada qual terá que responder pelo que fez. E isso inclui os membros da família Bolsonaro e, eventualmente, os oficiais militares da ativa e aposentados que participaram ou ajudaram a organizar a intentona da extrema direita.

Quem financiou o transporte dos terroristas para Brasília? É essencial seguir o rastro do dinheiro até a fonte de origem. Cada um daqueles ônibus foi contratado e pago. Não deve ser muito difícil investigar os verdadeiros responsáveis pelo que aconteceu. Partidos políticos, associações de militares e lideranças políticas envolvidas precisam ser investigados e responsabilizados pelos crimes em massa que financiaram que incentivaram.

Bolsonaro e seus filhos são os mentores do que ocorreu. As ações, gastos e comunicações deles nos últimos meses também terão que ser investigados de maneira extremamente meticulosa. O fato deles estarem fora do país não os isenta de culpa caso a Polícia Federal encontre rastros digitais e econômicos deles na preparação, planejamento, incentivo ideológico, organização ou apoio financeiro a invasão, destruição e saque do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do STF.

O Estado brasileiro precisará ser reestruturado para defender o regime democrático, doa a quem doer. Mas para que isso ocorra, o governo Lula precisa desenvolver uma política de comunicação eficiente dentro e fora do país. A democracia brasileira não pode mais ficar à mercê de vândalos apoiados por militares, policiais, políticos e empresários.

A intentona da extrema direita pode e deve estar no centro das atenções da nova política de segurança e ajudar a definir uma nova doutrina militar. O Brasil não pode ser refém de uma minoria barulhenta, violenta e bestial.

O anti-comunismo mofado foi o combustível propelente das ações terroristas em Brasília no dia 08/01/2023. Portanto, a ideologia da Guerra Fria que produziu Jair Bolsonaro, o general Heleno, o bolsonarismo e os militares e policiais que participaram da baderna ou a facilitaram deve ser revista e banida do ensino militar. Acabou. Os quartéis das Forças Armadas não podem mais ser centros de atividade política da extrema direita ou celeiros de recrutamento de terroristas para políticos e oficiais que apoiam ataques contra os símbolos do poder democrático.

Não existe espaço político para dúvida ou contemporização: em 08/01/2023 a extrema direita brasileira finalmente se transformou num “caso de polícia”. Em breve, esse poderá ser com justiça considerado o maior feito da família Bolsonaro.  Aos inimigos da democracia o rigor da Lei.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.