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PRODUÇÃO AFINSOPHIA.ORG

 

No entendimento mais simples, a arte como devir do novo, é esquiza. Esquiza no sentido grego: divisão, separação, corte. A arte corta o que se encontra sedimentado para fazer brotar o desejo aprisionado pelos agenciamentos paranoicos estruturados pela dogmática do sistema capitalista-capitalístico. Ou seja, a obra de arte é o próprio desejo. O resto é simulação do novo como a ecolalia do que já se encontra estabelecido em busca do reconhecimento e do lucro como objetivam os sentidos pulsados pelo mercado.

 

SOBRE A EDITORAÇÃO-ESQUIZA

O devir-esquizo apresentado pelo filosofo, Victor Leandro, em Catedral dos Mortos, devém como potência-literária na editoração criada pela poetisa e editoralista, Luana Aguiar. Trata-se do corte no conceito estruturado pela força-editorial da literatura de mercado. O livro como objeto-sensual em suas forças sedutoras impostas pela sociedade de consumo. A chamada boneca-psicodélica para ser cobiçada pelo consumidor-carente de sensualidade. O que o capitalismo consumista expressa em todos os seus produtos venais.

 

Luana Aguiar, cria um não-livro. Simples. Ela usa as mãos, a poieses e o intelecto e encadeia as potências-estéticas-literárias. Existe capa, páginas, letras, palavras, sentenças, enunciações, fotografias, mas com movimento-esquizo. Cadernos-costurados manualmente, cadernos-entrelaçados manualmente por linhas externas-condensadas como metamorfoses-cadarçantes-tricô se convidando à percepção-criadora do leitor. A capa-marrom, sem imagens-figurativa, se coloca no mundo-perceptivo em si mesmo, por si mesmo.

 

Luana Aguiar, se cumplicia com o leitor lhe convidando para um contato mais terno e sensual com sua estética-esquiza: ele tem que amar suas formas para poder lê-lo. Pegá-lo com desvê-lo. Caso contrário ele escapa. Não se deixa ser lido. Ele se movimenta, tem vida, só pode ser lido em contato íntimo-atencioso.

 

SOBRE A FOTOGRAFIA-ESQUIZA

 

Catedral dos Mortos se movimenta também em duas fotografias da filósofa-fotógrafa, Lorena lima. Encontram-se na primeira e última página, mas como trata-se de acontecimento-esquizo, são intempestivas, poderia afirmar o filósofo Nietzsche: não carregam tempo-espaço. Se deslocam.

 

Lorena Lima, sabe que a fotografia não se sintetiza apenas como descrição da luz, mas no que a luz quer fazer ser percebido além do que é dado como acabado no mundo objetal como corpus-cotidiano. O que faria da fotografia apenas uma replicadora do chamado mundo perceptivo com seus objetos convencionados nas relações espaços-temporais como replica qualquer celular. Que os incautos-iludidos acreditam ser fotografia.

 

A fotografia é arte, como mostra Lorena Lima, porque cria outro mundo. Mesmo Estando-No-Mundo. Um mundo que jamais seria visto sem a fotografia. Um mundo que mesmo apresentando imagens semelhantes as que foram fotografadas, não são suas réplicas e nem sua memoração. A fotografia é arte, porque não cria o duplo de um mundo vivido como objetificação das subjetividades. Na fotografia sempre se movimenta o novo. Daí, ser eminentemente uma estética-esquiza. Nela tudo é corte. Nela tudo é desejo-revelado. Nela nunca é fotografada a objetividade. Essa a arte da fotografia: jamais ser memória, mas sempre movimento. 

 

Bastaram somente duas fotografias para, Lorena Lima esuizo-estetizar-se com Luana Aguiar e Victor Leandro, na Catedral dos Mortos. 

 

SOBRE A NOVELA-ESQUIZA 

 

Os filósofos Deleuze e Guattari, afirmam que não se faz literatura com suas neuroses. É verdade, já que as neuroses são os discursos agenciadores do familialismo dominador patriarcal-hebraico-políneo do modelo de família burguesa-Ocidental, e só interessam aos seus membros, e não aos outros. O leitor não tem que ser perturbado pelas enunciações dos neuróticos escritores. Entretanto, pode-se escrever sobre as neuroses dos outros. Como, também, sobre as psicoses dos outros.

 

São estes os agenciamentos enunciadores que o filósofo Victor Leandro, devém na Catedral dos Mortos. Na verdade, são mortos sem catedral. Tanto no sentido arquitetônico da alta-cultura, como no sentido de mortos fúnebres. Já que não se trata de mortes-devirianas, mas mortes impedimentos sádicos do devir-vida.

 

Na linguagem objetivadora da literatura dita realista, o tema gestaltiano é a pandemia desencadeada pela Covid-19, atuando na capital do Amazonas, Manaus. Desta forma, a afigura-gestalt-literária é a pandemia, com três fundos-personagens: dois profissionais-jornalísticos, um jovem enredado com um membro de sua família infectado pelo vírus e um paciente que testemunhar em si e para além de si, os trans-tornos em um hospital expressados pelos pacientes, profissionais da saúde e trabalhadores-administrativos. 

 

Embora, a pandemia, em Manaus, tenha sido usada como local-experimental para os delírios e a confirmação do desconhecimento científico do desgoverno Bolsonaro, Catedral dos Mortos, não desfila as ocorrências-sádicas como recursos-histéricos para instalar empatia-paranoica no leitor. Seus personagens não se perdem na obviedade do realismo-patológico-social criado pelos desgovernantes, empresários, mídia e parte da população. Não se perde no discurso da piedade falsamente cristã e na sedução-clássica dos temas necrófilos. Discurso da literatura-miserável que se satisfaz oralmente em sua pulsão de morte.

 

É esse o sentido esquizo da literatura de Victor leandro, em Catedral dos Mortos. Há mortos perversamente fabricados e calculados pelas grotescas alcunhadas autoridades, mas a morte tem outra dimensão. Uma dimensão que escapa a funebrização criada pela sociedade modelada pelos agenciamentos coletivos de enunciação do sistema dogmático-paranoico capitalista/capitalístico que necessita de zumbis para simular preocupação com a vida. Sujeitos-sujeitados para sofrer acreditando que é amado e sua existência é um sublime deleite. 

 

Uma ruptura-literária ocorre quando, Victor Leandro, recorre ao devir linha de corte e apresenta ao leitor uma bela esquizofrenizada-literária escrevendo situações confusionais: ideias-observadoras-opinadoras de um personagem que se divide em dois: nele mesmo e no enunciador das ocorrências. Deslocamento no espeço, no tempo e nos conteúdos.

 

Trata-se de um demonstrativo-literário que a psicanálise, possivelmente, pudesse inserir em suas enunciações oníricas, onde o sonhador é autor, ator e analisador do sonho. Talvez, uma elaboração onírica provocada pela angústia da perda da possibilidade da “reiteração narcísica-obsessiva”, como mostra o filósofo, Guattari, repetição-estereotipada do cotidiano que a pandemia negou aos humanos demasiados humanos (Nietzsche). 

 

Como trata-se de literatura-menor, a literatura-potência-não-sobrecodificada, contrastante com a literatura de mercado, o que o leitor deve se literar: conseguir a literatura Catedral dos Mortos. 

 

LINHA EDITORIAL

Editoração: Luana Aguiar.

Fotografias: Lorena Lima.

Apoio Técnico: Monize Yasmin e Bruno Oliveira.

Páginas: 110.

Preço: R$ 50.

Edição, 2022.

Editora Transe

 

*Victor Leandro é filósofo, doutor, professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e autor das obra-literárias, O Fantasma e A travessia, Ler Com Marx – Um Introdução À Crítica Literária Marxista A Partir de Lukács, entre outras.

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