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As nossas certezas, incertezas, anseios, angústias, decisões, concepções, crenças, objeções, quer dizer, todo nosso envolvente confirmante de nossa existência é um contínuo encadeamento de fluxos ontológicos imbricados com o princípio de realidade. A Subjetividade-Coletiva que nós serve de referencial societário. É a Subjetividade-Coletiva que cotidianamente permite nosso teste de realidade.

 

O filósofo Herbert Marcuse, mostra que toda forma de princípio de realidade, embora seja mutável, “estar consubstanciada num sistema de instituições e relações sociais, de leis e valores que transmitem e impõem” comportamentos que confirmam a prevalência da civilização sobre as forças destrutivas dos instintos. Assim, viver em alteridade em uma Subjetividade-Coletiva significa atuar em coerência com o princípio de realidade.

 

Entretanto, nem todos membros de uma sociedade atuam tendo como pressupostos-sociais a estrutura do princípio de realidade. Existem várias elementos que levam esses indivíduos a se tornarem opostos ao princípio de realidade. Um deles, corresponde a alguma alteração filogenética e ontogenética que são percebidas de acordo com suas   exteriorizações sensitiva, intelectiva, psíquica, estética e ética. 

 

O que significa que esses indivíduos não são possuidores das partículas epistemológicas que possibilitam o conhecimento dos corpus estruturantes do princípio de realidade, principalmente os referentes as leis e os valores sociais. Desprovidos destes corpus estruturantes do princípio de realidade, esses indivíduos concebem o mundo de acordo com suas realidades subjetivas. O que faz com que quem lhes observa, os tomem como oposto ao mundo real das relações de alteridade-empáticas essenciais para a co-vivência e produção-ontológica do Existir-Com.

 

Na sociedade da profusão-mágica do real, que hoje se mostra imperiosa, a mentira é a joia apreciada, cobiçada, badalada e defendida como o ente de valor inigualável, tal a sua necessidade tanto para quem a detém como para quem a observa com cobiça e homenagem. Exemplo atualíssimo: o embate Ucrânia e Rússia coadjuvadas por Biden e outros alcunhados chefes de Estado. Não é de graça que se afirma que “na guerra a primeira vítima é a verdade”. 

 

No Brasil, um número  imenso de pessoas afirmam que Bolsonaro mente. E apresentam como demonstração a sua afirmação que em seu governo não há corrupção, a cloroquina cura a Covid – 19, a Covid – 19 é uma gripezinha, não há desemprego, o aumento dos combustíveis é culpa do Partido dos Trabalhadores, a economia vai bem, a sociedade se sente mais segura, entre outras afirmações consideradas por esse imenso número se pessoas como mentira. Ou seja: Bolsonaro é tido como mentiroso. Alguns até afirmam que na história da mentira política do Brasil, ele é o maioral sem qualquer concorrente próximo.

 

O filósofo da Liberdade, o francês Jean Paul Sartre afirma, em sua obra maior O Ser E O Nada, que “a essência da mentira, de fato, implica que o mentiroso esteja completamente a par da verdade que esconde. Não se mente sobre o que se ignora… (…) Além disso, a disposição íntima do mentiroso é positiva; poderia ser objeto de um juízo afirmativo: o mentiroso pretende enganar e não tenta dissimular essa intenção ou mascarar a translucidez da consciência; ao contrário, refere-se a ela quando se trata de decidir condutas secundárias…”. 

 

A enunciação-filosófica-mitômana de Sarte é um exercício por excelência para entender que Bolsonaro não mente. Realmente, em função de sua própria realidade, de seu próprio particular estar-no-mundo, ele não estar a ” par da verdade”. Ou melhor: das verdades, porque ele é esse em-si-mesmado. Por isso, o que ele enuncia é o que ele só pode enunciar. Se nem a lógica aristotélica lhe pode servir de auxílio para desenvolver um raciocínio para encontrar as contradições do chamado princípio de não-contradição, é porque ele é o que é. O que para os brasileiros é mentira, para ele é só confirmação de sua subjetividade que não se encadeia com os fluxos que constituem o princípio de realidade. 

 

Nesse quadro epistemológico-filosófico, erram os que afirmam que Bolsonaro mente, porque não percebem que no mundo dele não existem verdades para servirem de signos de Grandeza-Coletiva.

 

Porém, a Potência-Democrática é constitutiva de Verdades que só são conhecidas por quem percebe e sabe que a mentira tem um único e pervertido objetivo: esconder as verdades para que a mentira continue prevalecendo e sendo defendida.

 

  

 

 

 

 

 

 

 

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