PARA CIENTISTA POLÍTICO, ALCKMIN SINALIZA CANDIDATURA DE CENTRO DO PT: “NÃO PODE HAVER ILUSÃO”

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Igor Carvalho
Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

 

Lula e Alckmin entre suas companheiras, Lu Alckmin e Rosângela da Silva – Foto: Ricardo Stuckert

Depois do jantar oferecido pelo Grupo Prerrogativas, no último domingo (19), é difícil imaginar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ou que o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (sem partido), recuem de uma aliança para as eleições de 2022, com o petista na cabeça da chapa.

O cientista político Rudá Ricci acredita que a eminente aliança, que Lula diz que ainda precisa ser ratificada pelos partidos de ambos – Alckmin tem negociado com PSB, PSD e Solidariedade, tem sentido e pode ser justificada pela trajetória do ex-presidente.

“Se o Lula é um candidato de centro, nada mais adequado que um vice que deixa, ainda mais explicita, essa posição. Obviamente, se ainda há alguém com expectativa de que o Lula seja de esquerda, lógico que ficará surpreso”, afirma Ricci, em entrevista ao Brasil de Fato.

Para o cientista político, os movimentos sociais não terão força para impedir a aliança entre Lula e Alckmin. Por outro lado, o pragmatismo das centrais sindicais deve cooperar para o acordo.

Confira a entrevista na íntegra:

Depois da movimentação das últimas semanas e do jantar do Grupo Prerrogativas, no último domingo (19), o senhor ainda vislumbra outro vice para Lula, que não seja o Geraldo Alckmin?

Ela não está totalmente consolidada. O fechamento da chapa, tem a ver com a consolidação da federação de partidos, que o PT sugere, ou propõe, que envolva o PSB, o PCdoB e o PV, citou o PSOL, mas é muito difícil. O PV já aceitou. Agora, o PSB está negociando e vai fazer a manha que o PSB sempre fez com o Lula. O PCdoB vai topar, é uma questão de sobrevivência. Então, somente em abril ou maio teremos essa certeza. Mas tudo encaminha para isso. Imagina a situação delicada, se agora, o Alckmin ou Lula desiste.

Como imagina que a esquerda, em especial os sindicalistas e movimentos sociais, vão reagir a essa aliança?

Movimento sindical é muito pragmático no Brasil. Se for ver quantos acordos eles já fizeram, em quantos lugares e câmaras, desde o governo FHC…enfim. Na prática, eles sabem que uma vitória do Lula leva a uma situação mais confortável.

Desde o Temer, que o movimento sindical sofre derrotas no Congresso e perdas financeiras. Acho que os movimentos sociais podem reagir um pouco pior, mas vai votar em quem? No Moro? No Doria? No final do primeiro semestre, com a campanha em curso, com os ataques da extrema-direita, não terá como tergiversar, não é uma disputa qualquer.

Veja, o “Fora, Bolsonaro”, que colocou milhares de pessoas nas ruas, contra o Bolsonaro, foi além das manifestações? Não. Apresentou algum programa unificado? Não. Conseguiu pressionar o Congresso, como em 2013? Não. Então, você já sabe a força dos movimentos sociais, ela é pontual e temática. Infelizmente. Nós ficamos anos trabalhando de maneira corporativa e estamos colhendo os frutos disso.

Lula foi longe demais, no espectro político, ao escolher Alckmin, ou foi uma escolha acertada? Precisava ir tão longe?

Depende da leitura ou expectativa que se tem em relação ao Lula. O Lula, há muito tempo, é um político de centro, nem de centro-esquerda, toda sua agenda é social liberal. Social liberalismo é uma preocupação com a questão social, mas subordinado aos interesses do mercado.

O Lula está se posicionando assim, com muita clareza, falando em abrir as ações da Caixa Econômica Federal na Bolsa de Valores. Então, se o Lula é um candidato de centro, nada mais adequado que um vice que deixa, ainda mais explicita, essa posição.

Obviamente, se ainda há alguma expectativa de que o Lula seja de esquerda, lógico que ficará surpreso. Mas quem ainda tem essa visão, parou no tempo. Não pode haver ilusão. Há um segmento que pensa assim, que o Lula só dá determinadas declarações porque é esperto e quer enganar os outros, o Lula nunca fez isso.

Edição: Leandro Melito

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