SENADORA DIZ QUE MOTOBOY IVANILDO É O ERIBERTO DE JAIR BOLSONARO: SACOU O DINHEIRO DE EMPRESA QUE TEM CONTRATO COM GOVERNO E PAGOU DESPESAS PESSOAIS DE HOMEM-FORTE DO MINISTÉRIO DA SAÚDE

Da Redação Viomundo.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) sugeriu hoje que o motoboy Ivanildo Gonçalves, que trabalha para a empresa VTC Log, será para o governo Jair Bolsonaro o que foi o motorista Eriberto França para o impichado ex-presidente Fernando Collor.
Chamado a depor no Congresso, Eriberto confirmou que o empresário PC Farias pagava despesas pessoais do ocupante do Planalto, dentre as quais as de um Fiat Elba e da Casa da Dinda, residência particular de Collor em Brasília.
Foi a pá de cal no governo Collor.
Ivanildo, no entanto, não compareceu para depor hoje à CPI, blindado por um advogado de escritório de primeira linha e uma decisão do ministro bolsonarista Kássio Nunes, do Supremo Tribunal Federal.
A CPI decidiu recorrer ao próprio ministro, pedindo que leve o caso à Turma do STF.
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), adiantou que a comissão tem provas de que o motoboy pagou boletos do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias Ferreira, o Bob.
Renan exibiu imagem de Ivanildo em uma agência bancária.
De acordo com a CPI, o motoboy fez saques totais de R$ 4.743.693,00 em dinheiro vivo.
Parte do dinheiro teria sido destinado a agentes públicos.
A VTC Log foi contratada para exercer uma função que antes era cumprida pelo próprio Ministério da Saúde.
Numa disputa com o governo, a empresa pediu um reajuste num de seus muitos contratos.
Técnicos do Ministério concordaram que o reajuste deveria ser de R$ 1 milhão, mas por interferência de Roberto Dias Ferreira o aumento foi de R$ 18 milhões.
Hoje senadores aprovaram a convocação dos dirigentes da VTC Log e também da advogada Karina Kufa, que serve a Jair Bolsonaro.
Ela teria trocado mensagens com lobistas interessados em vender insumos ao governo federal.
Roberto Dias Ferreira chegou a ser preso quando depôs à CPI, por decisão do presidente Omar Aziz (PSD-AM).
Recebeu imediata solidariedade da base governista.
Ele seria o homem-forte do líder do governo na Câmara, Roberto Barros (PP-PR), ex-ministro da Saúde no governo Temer.
Barros nega. Porém, antes de chegar ao ministério Roberto Dias Ferreira foi chefe de gabinete da Secretaria Estadual de Infraestrutura do Paraná, quando a governadora era Cida Borghetti — esposa de Roberto Barros — e o secretário o deputado federal Alberto Lupion.
A indicação formal de Bob para o ministério foi feita pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, a pedido de Lupion.
Na chefia da Logística, Roberto Dias demonstrou força: sobreviveu às demissões dos ministros Mandetta, Nelson Teich e do general Eduardo Pazuello.
Só deixou o cargo depois que o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) e seu irmão, funcionário de carreira do Ministério da Saúde, denunciaram suposta tentativa de Bob de cobrar U$ 1 dólar de propina por dose de vacina contra a covid-19.
Os irmãos Miranda foram pessoalmente denunciar o caso ao presidente Jair Bolsonaro, que teria mencionado o deputado Ricardo Barros como suposto líder do esquema no Ministério da Saúde.
Bolsonaro jamais negou a declaração, com medo de ter sido gravado.
Barros se manteve na liderança do governo e a aliança do Centrão com o presidente da República se consolidou, com trabalho de blindagem que agora parece ter chegado ao motoboy.
A senadora Tebet lembrou que, ao depor no caso Collor, o motorista Eriberto disse que fazia aquilo por patriotismo.
Mas, agora, o governo parece atento ao risco representado pelo motoboy.
O advogado que atuou junto ao STF para evitar o depoimento de Ivanildo já trabalhou em casos ligados ao miliciano Adriano de Magalhães da Nóbrega e ao laranja da família Bolsonaro, Fabrício Queiroz.
Não se sabe quem está pagando a defesa de Ivanildo.
A CPI já pediu à Polícia Federal que dê proteção ao motoboy, que segundo a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) mora em uma casa simples e tem um baixo salário.
Os senadores Humberto Costa (PT-PE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disseram hoje que a CPI não pode ser encerrada antes da completa apuração do caso.
Para tornar a trama ainda mais parecida com a que envolveu Collor, Roberto Dias teria feito um dossiê reunindo documentos contra adversários e encaminhado a um primo que mora na Espanha. Ele nega.