OUTRO LIVRO DO FILÓSOFO VICTOR LEANDRO: O FANTASMA E A TRAVESSIA
PRODUÇÃO AFINSOPHIA.ORG
“Natus Símile olhou em volta, e intuiu faltarem-lhe as estruturas, o chão”. Só há deslocamento quando da ação perceptiva construtora do espaço como expressão e conteúdo existenciais. Quando, ao contrário, a ação perceptiva se faz ausente, o que se tem, sem se ter, são os espaços como territórios-mutantes. O que não se fixa. A potência-evanescente do móvel incorporal que escapa do discurso-semiótico molar.
Em literatura, capturada na ordem da dogmática-capitalística-paranoica, o roteiro romanceado por personagens-tipos e comportamentos-normatizados nos modelados para embalar e adormecer leitores significados como semelhanças destes personagens, fazem parte da fraude-fálica desta literatura inofensiva e inutilmente ontológica.
O glamour da medida do sucesso de escritores-sonambúlicos, narcotizados pela linguagem que não racha o mundo com seus signos para fazer conexões de fluxos-reais, encontra-se em posição defensiva das subjetividades nadificadoras. Ou, sem mecanismos eufemísticos, nazifascistas. O que nega a potência do escrever e da leitura.
Quando Natus Símile afirma “faltarem-lhe as estruturas”, ele constata que não existem propriedades em si para que tanto ele, como os outros, possam realizar o exercício narrativo, descritivo do que parecem ser seus deslocamentos e entrelaçamentos como ente inapreensível. Não há possibilidade de captura em função de se tratar de um estranho. “Todas as sociedades produzem estranhos. Mas cada espécie de sociedade produz sua própria espécie de estranho e os produz de sua própria maneira, inimitável”, como afirma Zygmunt Bauman, em sua obra O Mal-Estar da Pós-Modernidade, no capítulo; A Criação e Anulação dos Estranhos. Natus Símile é o estranho da sociedade que só julga e conta.
Sem estruturas, Natus Símile é imperceptível e inclassificável, visto que as estruturas servem para conceber realidades que visam ordens e conformidades para melhor imobilização do mundo e impedir mutações como ocorre com a literatura-fálica, mas ele é um estranho.
Nesta potência do não-ser, o que o filósofo-escritor Victor Leandro mostra é a impossibilidade da sedução-literária, já que a objetividade não se faz como concretude. O que significa não haver contiguidade e nem continuidade como suporte de segurança ao leitor-incauto.
Assim, não há fantasma – nem como substituto-imaginário do pênis-castrado: o objeto-fetiche – e nem travessia, em função da inexistência de corporeidade. Como novelista, Victor Leandro soube levar ao público uma literatura que confere respeito ao exercício da leitura como práxis e poises inquietante.
Ficha Técnica
Título: O Fantasma e a Travessia.
Autor: Victor Leandro.
Editora: Clube de Autores.
Páginas:161.
Preço: R$ 30.