LYGIA JOBIM: ACORDA, GIGANTE!

Muito mais do que um exemplar da extrema direita que vem crescendo no mundo, Bolsonaro é o ódio em estado puro
Com Jair Bolsonaro foram criados novos valores que não são compreendidos como tal pela humanidade desde o início dos tempos. São desvalores de solidariedade, de empatia, de caridade e de respeito. É o colapso da moral como concebida desde o início da vida do homem na terra.
É um ódio, como todo ódio, fanático, gerando uma retroalimentação constante. Quanto mais ódio mais fanatismo, quanto mais fanatismo mais ódio, gerando assim um barulho ensurdecedor que torna o sujeito incapaz de escutar a razão. A vítima deste processo passa a viver num estado em que só ouve, mas não escuta e se torna impedida de elaborar um pensamento crítico próprio.
Passaram a ser aceitos como normais os valores que nos estão sendo impostos por uma pessoa que defende e presta homenagem a milicianos e torturadores. Assim está se criando para a população uma nova lei, baseada no ódio e ânsia de destruição que preenche todo o ser de Bolsonaro. Ela se infiltra em nossa sociedade como ácido sulfúrico, esgarça nosso tecido social e nos encaminha, não apenas para uma morte moral, mas agora também física.
Lições científicas de que a máscara deve ser usada como proteção a si e aos outros e de que, como o vírus se transmite pelo ar, as aglomerações devem ser evitadas, já não valem para todos. A gravidade da Covid-19, apesar do mundo ter ultrapassado a marca de um milhão e meio de mortes das quais mais de 185 mil ocorreram no Brasil, é constantemente minimizada por ele.
Enquanto nos dois primeiros meses da pandemia, ao não usar máscara, limitou-se a preparar o terreno para que uma manada de imbecis também não o fizesse, agora desqualifica e desmoraliza a necessidade de imunização através de um amplo esquema de vacinação, botando em dúvida a segurança das vacinas.
Ao dizer que não pode ser responsabilizado por possíveis efeitos colaterais e afirmar, peremptoriamente, que não se deixará vacinar, o que se vê é uma clara intenção de sabotar tudo o que possa contribuir para que a população seja imunizada. A campanha contra a vacinação comandada por ele, e que agora se intensifica, terá consequências dramáticas para o país.
Muito mais do que um exemplar da extrema direita que vem crescendo no mundo, ele é o mal em estado puro, identificável no seu riso que não é riso, mas sim um esgar depravado. Tão depravado quanto o desrespeito que demonstra pelos mortos.
O ódio dirigido ao diferente faz com que seus seguidores se vejam identificados como “homens de bem”, mesmo que, numa contradição visível, ao absorverem este afeto destrutivo e por ele serem movidos, façam o mal e o proclamem e exibam despudorada e orgulhosamente.
Em maio deste ano, com a nomeação de Pazuello para ocupar o Ministério da Saúde, deu seu primeiro passo certeiro em relação ao que se concretiza como um objetivo definido – a eliminação dos mais vulneráveis à pandemia e menos necessários ao sistema econômico por inúteis ou facilmente substituíveis. Para isso conta com a ajuda de um ministro da saúde inoperante, de um ministro da economia pinochetista e de um Presidente da Câmara que, como Pôncio Pilatos, lava as mãos e não abre um processo de impeachment.
Acorda, gigante. Teu berço está coberto da baba virulenta de teus dirigentes. Ninguém te vê mais como belo colosso. Teu futuro não espelha grandeza alguma e em teu seio não há mais amores. Nos tornamos órfãos da mãe gentil e estamos entregues apenas à sanha de um pai degenerado cuja perversão se dissemina mais que o vírus.
Acorda, gigante. Tuas palmeiras não têm mais sabiás e teu solo virou mancha calcinada. As aves aqui não mais gorjeiam enquanto esperam o urubu para comer a carniça em que esse pai se refestela.