QUEM É ELON MUSK E POR QUE ELE TERIA INTERESSE EM UM GOLPE DE ESTADO NA BOLÍVIA?
O bilionário no ramo da tecnologia insinuou recentemente que os EUA podem cometer golpe de Estado contra quem quiserem
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O diretor da empresa estadunidense Tesla Motors, Elon Reeve Musk, se envolveu em uma polêmica após afirmar que os Estados Unidos podem dar um golpe de Estado em quem quiser: “Vamos dar golpe em quem quisermos! Lide com isso”, escreveu Musk no Twitter.
A afirmação foi uma resposta a uma mensagem sobre a queda de Evo Morales na Bolívia: “Você sabe o que não interessa às pessoas? O governo dos EUA organizando um golpe contra Evo Morales na Bolívia para que você possa obter lítio lá”. Mas, afinal, quem é Elon Musk e qual é o seu interesse em golpes de Estado promovidos pelos EUA?
Bilionário, o sul africano que hoje vive em território estadunidense está a frente de cinco grandes empresas do ramo da tecnologia. Ele é fundador da SpaceX, uma empresa de sistemas aeroespaciais e de serviços de transporte espacial; CEO (Chefe Executivo do Escritório, em uma tradução literal de Chief Executive Officer) da empresa automotiva Tesla Motors; fundador e vice-presidente da OpenAI, que realiza pesquisa em inteligência artificial; fundador e CEO da empresa Neuralink, também de inteligência artificial; e co-fundador e presidente da SolarCity, especializada em energia solar.
Ele também deu origem à empresa de transações financeiras PayPal, que foi vendida, em outubro de 2002, à Ebay por US$1,5 bilhões, ou cerca de R$ 7,7 bilhões, dos quais Elon Musk recebeu US$165 milhões ou aproximadamente R$ 855 milhões.
Mesmo diante da pandemia de covid-19, Elon Musk não deixa de lucrar e aumentar a sua fortuna: o valor de mercado da Tesla Motors atingiu, neste ano, US$100 bilhões, ou seja, R$ 514 bilhões aproximadamente, ultrapassando o valor das antigas empresas Ford e General Motors.
Qual é o interesse do bilionário na Bolívia?
Em um artigo publicado pelo Brasil de Fato, em março deste ano, o historiador Vijay Prashad e o cineasta boliviano Alejandro Bejarano detalham que o interesse de Elon Musk na Bolívia pode estar ligado à presença expressiva de lítio na região.
O CEO da Tesla Motors quer abrir uma unidade da empresa no Brasil, em Santa Catarina, cujo secretário de relações internacionais, Derian Campos, está em contato direto com Musk. Segundo Prashad e Bejarano, “ajuda muito o fato de que o Brasil possui depósitos consideráveis de lítio”, principalmente em Minas Gerais, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.
Ainda assim, “a produção de lítio brasileira é limitada”, principalmente para a demanda da Tesla Motors, que faz uso do minério para construir baterias de carros elétricos. Nesse sentido, os articulistas afirmam que Elon Musk terá de buscar lítio em outros lugares além do Brasil, e o deserto boliviano Salar de Uyuni “têm de longe as maiores reservas conhecidas”.
A narrativa de Prashad e Bejarano foi reforçada por uma postagem do empreendedor boliviano e candidato a vice-presidente ao lado da presidente interina e autoproclamada da Bolívia Jeanine Áñez, Samuel Doria Medina, na qual afirma que Elon Musk deveria “construir uma giga fábrica no Salar de Uyuni para fornecer baterias de lítio”.
“As boas vindas de Doria Medina para a Tesla devem ser vistas como tendo a autoridade do governo golpista por trás delas. O governo Morales teve muita cautela com essas reservas de lítio. Tinha deixado claro que esses recursos preciosos não deveriam ser entregues às multinacionais, com acordos favorecendo as empresas. Qualquer lucro vindo do lítio, Morales afirmava, deve ser compartilhado adequadamente com o povo Boliviano”, defendem os articulistas.
Ligado a denúncias de racismo e contra o isolamento social
Ao falar sobre o golpe de Estado na Bolívia, não é a primeira vez que Elon Musk se envolve em assuntos similares. Funcionários da Tesla Motors, em Fremont, na Califórnia, denunciaram a empresa por racismo, machismo, homofobia, capacitismo, assédio sexual, intimidação e exploração de mão de obra estrangeira.
De acordo com declarações de ex-funcionários, após denunciar algo dentro da empresa, o trabalhador não só era desacreditado como passava a receber menos, quando não era demitido.
Em resposta, Elon Musk afirmou, em uma entrevista ao jornal britânico The Guardian, que tiveram “alguns casos na Tesla onde alguém de um grupo pouco representado conseguiu um emprego ou foi promovido em meio a candidatos mais representados e, então, decidiram processar a Tesla em milhões de dólares porque eles sentiam que não foram promovidos o suficiente. Isso obviamente não é legal”.
Antes de falar sobre a Bolívia, Musk também declarou apoio ao presidente estadunidense Donald Trump na condução do combate à pandemia do novo coronavírus, em sua conta no Twitter. Ele classificou as medidas de isolamento social como “fascistas” e ameaçou reabrir a unidade da Tesla Motors, na Califórnia.
Edição: Leandro Melito