PRIMEIRO DE ABRIL DIA DA MENTIRA: HOJE TEM ESPETÁCULO! MAS NÃO É MENTIRA

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O texto a seguir em forma de teatro foi feito para ser encenado num país democrático, em escolas, em igrejas, associações de bairros e está sendo publicado numa espécie de resposta ao que ontem, nos quartéis onde há generais bolsonaristas e estiveram a ler uma ordem do dia enaltecendo o golpe militar de 1964 como a redenção do Brasil contra o sistema Comunista.

Local das cenas: casa, quartel, circo, praças

Personagens: um capitão, sua esposa,comandante, palhaço, figurantes, espectador, soldados.

Tempo: intempestivo

Capitão (conversando com a esposa): A tortura no Brasil contra os opositores ao golpe militar recrudesce, aumenta assustadoramente. Eu não concordo com isso.

Esposa (preocupada): Quem já morreu? Quem foi torturado, torturada?

Capitão: Vários brasileiros, várias brasileiras. Em 1964 Alberto José de Oliveira e mais 11; Em 1965 Silvano Soares dos Santos, em 1966 morreram 2, em 1968 morreram 11 e assim, foram morrendo muitos, centenas. Em  1972 morreram 61.

Esposa: Tu falas alguns nomes e o número de muitos mortos. Dá pra mencionar mais nomes do que números?

Capitão: Sim, lembro do ex-deputado federal Rubens Paiva, do Stuart Angel, Alexandre Vannuchi Leme, frei Tito de Alencar Lima, Wladimir Herzog, Manuel Fiel Filho, Carlos Marighela, Antônio Alfaiate,  Denis Antônio Casemiro, Heleni Pereira Teles Guariba,  Ieda Santos Delgado, Maria Augusta Thomas dentre outros e outras.

Esposa: Pra implementar essa política de prisões, torturas e mortes fechamento do congresso, STF, cassação de mandatos políticos, demissão de funcionários públicos, implantação do Estado de sítio, endividamento externo o que adotaram?

Capitão: o AI5

Esposa: Dentre os torturados quem sobreviveu?

Capitão: Que eu lembre agora, José Genoíno, Frei Beto que inclusive escreveu uma obra chamada Batismo de Sangue, Dilma Rousseff.

Esposa: Como tem sido tua atuação no Quartel?

Capitão: Vejo tudo, mas não concordo. Os direitos humanos são contrariados. A violência supera a razão. Eu não suporto tanta violência. Vou ao comando e retorno à noite. (sai)

No quartel

Comandante: temos cinco comunistas pra você torturar hoje, nada de recusar. Você deve usar choque elétrico, animais peçonhentos, pau-de-arara, toalha molhada.

Capitão: Chegou um circo na cidade. Eu posso levá-los ao picadeiro?

Comandante: (ri sarcasticamente) Você está doido? Quer ser torturado no lugar deles?

Capitão: (com determinação) Não, vou ao circo.

No circo

Palhaço e figurantes: Hoje tem espetáculo? Tem sim senhor! Oito e meia da noite? Tem sim senhor! A mulher do palhaço é um colosso! Caiu da cama e quebrou o pescoço!

Capitão: Brasileiros, brasileiras!!! O circo faz o espetáculo, faz a festa; trás entretenimento, o circo é alegria e o palhaço aqui, por fora é alegre, representa, mas por dentro é triste. É triste porque no Brasil há tortura, ditadura, safadura, sumidura e parece que nada está acontecendo. 

Espectador: Mas porque tudo parece lindo, alegre, marcham, tem bandeiras verde amarelas nas mãos, todos cantam: “Este é um país que vai pra frente, ô ô ô; Noventa milhões em acão, pra frente Brasil do meu coração; Eu te amo meu Brasil, eu te amo, ninguém segura a juventude do Brasil.”

Capitão: é uma maneira de enganar o povo. Exploram o sentimento e a emoção e utilizam o futebol e a religião para enganar os brasileiros, as brasileiras. Com isso o povo esquece o sofrimento e como a imprensa está do lado do governo autoritário só divulgam o que lhes interessa. Por isso que há a Semana do Presidente e o futebol na quarta-feira e no domingo. É a nossa vida é um circo.

No picadeiro os palhaços cantam:

Os militares torturadores são mal amados?

São, sim senhor!

Eles matam sem pena nem dó?

Sim, sim sinhor!

Mais um dia verão o sol nascer quadrado no xilindró?

Sim, sim senhor, mas não aqui!

Onde será então figurantes?

No país de Gardel e Maradona, na Argentina.

Silêncio no picadeiro. Toca o tango Mi Buenos Ayres Querido e a monotonia é sombria.

Espectador: porque o espetáculo parou?

Palhaço: porque prenderam o capitão. Mas o circo vai continuar na praça porque a praça é do povo, como o céu é da Operação Condor.

Hoje, é primeiro de abril. Dia da mentira. Mas a ditadura não foi mentira.

 

 

 

 

 

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