LEMBRANÇA DE DEUS AOS HOMENS DE NENHUMA FÉ EM MEIO AO CORONAVÍRUS

PRODUÇÃO AFINSOPHIA.ORG
O filósofo Kierkegaard mostra que a produção da fé é um movimento que perpassa por três Estádios. O Estádio Estético, o Estádio Ético e o Estádio Religioso. Estes Estádios estão profundamente imbricados com as três sínteses do Eu do homem. Síntese do Finito e Infinito, Síntese do Temporal e Eterno e a Síntese Liberdade e Necessidade.
No Estádio Estético o Eu vivencia o imediato que sua sensibilidade promove. Ele vive o instante. O agora. É a clara demonstração de sua imaginação. Não há no Eu a predominância da reflexão social e política. Já no Estádio Ético o Eu entra na ordem da reflexão, das regras sociais e políticas. Concebe a existência do Estado como objetividade. Já não vivencia o mundo como simples instante. Abre para si a temporalidade. Porém, o Estadio Religioso surge como o corte com os dois Estádios anteriores. Não trata-se de uma passagem, mas de um salto.
O salto representa o corte com o passado-vivido e a nomeação do aparecimento do Cavaleiro da Fé produzido quando o Eu desaparece no Absoluto. É o momento da solidão que o Cavaleiro da Fé vivência divorciado de todas as lembranças dos Estádios anteriores. Não há mais Eu. Não tem qualquer relação com a solidão que define a psicologia da urbe. Não encontra-se inscrita na nomenclatura das neuroses freudianas. Sua morada é o Absoluto. O Absurdo. Absurdo, não como classifica a razão como “o inverossímil, o inesperado, o imprevisto”, mas como sentido de eternidade. O que se libertou do Temporal. Do finito, tornando-se infinito. Vivendo o sentido de que para Deus tudo é possível. A abertura sem medida da Necessidade como os possíveis como eternidade. A Existência como Eterno-Possível. Deus não morre, pois tudo é possível.
Eis que Bolsonaro, em Brasília, em seus passeios-macabros, propagadores da virulência-tanática, encontra uma mulher que lhe pede: “Presidente, abra as igrejas!”. Um pedido que reportar ao entendimento fantasioso de que Bolsonaro é um endeusado com poderes-superiores.
Engolida em seu Estádio-Estético, ela não sabe que a igreja não é um corpo-arquitetural. Não é um prédio. A igreja é o Mundo de nossas vivências Ontológicas. Fora deste sentido, a igreja é a Doutrina. O Cânone-teológico com suas regras, suas ordens e hierarquias. A Dogmática. Por isso, ela não sabe que Pedro não fundou a igreja-arquitetura. Se expressou como Cavaleiro da Fé. Assim como Abrão e seu filho Isaac.
Ela não sabe que o corpo-igreja tem uma função, entre outras, de dominação a-religiosa. Dentro do corpo-igreja, diante do pastor, o crente realiza sua profissão sem fé. Se torna adormecido facilitando os objetivos-pecuniários do pastor. Com o pastor em sua frente, orando com a voz hipnotizadora, o crente sublima sua culpa-inconsciente deslocando seu medo transformando o pastor em objeto de sua projeção.
O pastor surge para o crente como a representação-fiel de deus. Em verdade, um prolongamento de Édipo, como simbólica do pai-biológico e o pai-lei. E como representação de um tipo de classe muito distante de Deus cujo objeto de desejo é a materialidade do mundo sem fé. Um mundo-circulatório sem Infinito, Eternidade e liberdade. Um mundo da ambição, dominação perseguição, o mundo do medo. Não há igreja-corpo sem medo. Foi sabendo desse quadro que Marx cunhou sua frase: “A religião não é só o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, como também é o espírito de uma época sem espírito. Ela é o ópio do povo”.
Estes tipos encontram-se no mundo dito humano, como replicantes de suas imaginações. Se posicionam na ordem da superstição. Todas as referências deste mundo dito humano são apenas obras de suas imaginações. Escapam da razão. Mesmo suas racionalidades estão capturadas pela imaginação. Há neles imaginação por todos os lados. A fé é obra da imaginação e não do salto para o Estádio Religioso, morada do Cavaleiro da Fé. Têm pavor do Infinito, Eternidade e Liberdade. Por isso, a igreja-corpo surge para eles como refúgio de luta contra o medo da Fé.
Estas pessoas que atendem aos apelos-tanáticos de Bolsonaro, por não serem Cavaleiros da Fé, não sabem que todos os que tem Fé em Deus refletem Deus em si, e os que não tem Fé em Deus refletem a si mesmo, como afirma Kierkegaard. Como também não sabem que o isolamento social como proteção contra o coronavírus nos possibilita a vivência Sublime com Deus, visto que Deus como Absoluto absolutiza nosso Estar-No-Mundo como companhia no lugar em que moramos como Alegria de Ser. Como Deus somos o Absoluto em nós mesmos. Somos a Companhia-Grandeza, porque para nós tudo é possível como Potência-Criadora.