IMPEDIDOS NA META-EPISTEMOLÓGICA, TERRAPLANISTAS E CRIACIONISTAS, SEGUNDO JEAN PIAGET

0

PRODUÇÃO AFINSOPHIA.ORG

 

Para muitos a contemporaneidade é uma ilusão: percebe-se o tempo-real, mas é outro tempo que se impõe. Entretanto, essa ilusão não é o representante da maior parte da sociedade. Grande parte da sociedade experimenta o mundo em seu presente-temporal e realiza seus atos e cria seus comportamentos e relações nesta contemporaneidade.

Não basta existir no chamado tempo-presente para alguém ser tido como contemporânea dos outros. A contemporaneidade exige concordâncias históricas e científicas nas formas de confirmações do existir-atuante. Não há contemporaneidade na ilusão percepção-deslocada do objeto dado como real, diria o filósofo Clément Rosset. A negação do real. 

Sendo a história, para Marx, o processo de criação da objetividade através da produção dos atos dos indivíduos que se realiza pelas forças antagônicas de cada agente social, entende-se que a história e as ciências necessitam das potências contemporâneas humanas cujo movimento transformador se concretiza pela práxis e a poises. O que significa que indivíduos alheios da contemporaneidade não podem ser tomados como agentes históricos e, muito menos, como dotados do pensar científico. São sujeitos-sujeitados alienados do processo movimentador e transformador do mundo. São os impedidos na meta epistemológica. Embora, muitos deles ocupem cargos e desenvolvam funções aparentemente históricas e científicas.

Estes impedidos na meta, são personagens que sofreram algumas atrofias em suas estruturas-genéticas que lhes impedem de operar em situações que exigem abstrações e altercações lógicas. São os que perambulam por um mundo mistificado ou fetichizado que oculta o real. Os que são conduzidos pela força enebriadora da fantasia, alucinação e delírio. São envolvidos pela névoa dos entes-imaginários, fantasmaticamente sedutores.

Este quadro de deslocamento do real, pode ser entendido facilmente através do pensamento, filosófico e científico do educador suíço Jean Piaget. Em sua teoria e prática educacional, Piaget apresenta o processo de evolução mental da criança e do adolescente através da genética-epistemológica como estágios de desenvolvimento. Estes estágios são apresentados em quatro formas de experiências que a criança atua.

Primeiro: Estágio Sensório-motor que vai do nascimento até os dois anos de idade da criança, embora não seja marcantemente definitivo. Pode ir um pouco mais longe. Nesse estágio, a criança realiza movimentos com objetos, mas não os diferencia de seu corpo. Suas atuações iniciam a formação de estruturas mentais relativas a sua realidade genética e que servirão de suporte para ulteriores estágios. Embora ainda não esteja concretizada a linguagem, entretanto, elementos estruturais linguísticos já se encontrem dispostos para a formação simbólica.

Segundo: Estágio Pré-Operatório que vai dos 2 anos aos 6 quando a criança encontra-se capacitada para produção de imagens, agrupamentos de objetos. Embora produza imagens mentais, a criança ainda não se encontra capacitada para realizar pensamento lógico. Embora a criança dotada da linguagem, possa realizar representações simbólicas dos objetos e das pessoas. Sua linguagem se expressa em duas situações: comunicação com o meio e comunicação consigo. O que é chamado de período egocêntrico. Embora ela não tenham do mundo definições claras, ela amplia suas relações com o meio, principalmente com as pessoas.

Terceiro: Estágio Operatório-Concreto que vai dos 7 anos aos 11 quando a criança já realiza operações mentais, é capaz de classificar, elabora o todo depois de uma divisão, ordenar em sequências as ideias, inicia  construções reversíveis que lhes dispõe usar caminhos diversos para resolver um problema. O que demonstra que já experimenta outras perspectivas epistemológicas. De acordo com a percepção e a prática de regras sociais, seu egocentrismo da linguagem vai desaparecendo.

Quarto: Estágio das Operações Formais que vai dos 12 anos até a adolescência quando é atingida a maturidade intelectual e é capaz de produzir pensamento abstrato. O pensamento que não necessita dos objetos em suas concretitudes para serem pensados. Assim, ela pode formular proposições hipóteses, pensamentos filosóficos, científicos. É o estágios em que as estruturas epistemológicas possibilitam operações do pensamento lógico. Desta forma, ela é capaz de entender as convenções sociais já que adentrou ao mundo da heteronimia. Para ela, a ética é o princípio que concretiza as relações sociais.  

Como é possível compreender, o processo de desenvolvimento da inteligência, como afirmação do conhecimento, é um processo construído continuamente pela criança através de suas experiências com o mundo exterior que resultam em estruturas epistemológicas imprescindíveis ao convívio com os outros como agente ativo na produção histórica e científica da contemporaneidade. Estruturas epistemológicas que faltam nos que perambulam impulsionados pela força mistificadora e fetichizadora. 

Falta aos teraplanistas e criacionistas a concretização do quarto estágio apresentado por Piaget. Razão porque não podem realizar operações abstratas e lógicas para entender que a terra é circunferente e a teoria da evolução é científica. Em suas mistificações terraplanistas e criacionistas eles negam a história e a ciência embora muito deles tenham curso superior e até doutorado. O que não importa quando se tem uma mente mistificada ou fetichizada. Quando se percebe o real, mas se acredita no que se encontra deslocado em outro lugar. Essa impossibilidade epistemológica é encontrada com frequência nos nazifascistas que são portadores de uma mente que cultua a morte negando a vida, que é a realidade-demonstrada. É por isso, que todo nazista é uma criatura deslocada perambulando fora da história e da ciência como as aberrações. 

Entretanto, essa posição a-epistemológica terraplanista e criacionista nos proporciona vivências hilárias. Ainda mais quando se ouve o cientista Galileu Galilei, durante seu julgamento no tribunal da Santa Inquisição, responder aos seus inquisidores da igreja católica, que a Terra era o centro do universo e não o sol. Afirmando a teoria geocêntrica defendida pela igreja, para escapar da morte, e não sua descoberta científica que o sol é que é o centro do universo, a científica realidade heliocêntrica. Para logo, em seguida, de esgueira, afirmar a sentença real: “e no entanto a Terra se move”. E, também, ouvir do filósofo Nietzsche a afirmação-debochada sobre a prepotência dos ressentidos: “o homem é um macaco decadente”. Um louvor ao cientista Darwin.

   E o que eles não entendem, e que é lindamente hilário, é que se a Terra fosse plana não haveria movimento de rotação, translação, dia, semana, mês, ano, século, vida, eles, e de quebra Deus. Já que Deus é uma hipótese do homem, que Darwin liberou com seus estudos. E que eles não sabem,com suas mentes-mistificadas, ao negarem a circunferência da Terra e a teoria evolucionista, negam Deus, posto que Deus é da Terra. E muito menos sabem, que na altura da existência humana, como diz o filósofo Sartre, existindo ou não existindo Deus, nada muda no mundo. 

Neste quadro, não se deve cobrar contemporaneidade aos terraplanistas e aos criacionistas. Assim são, assim serão.

Enquanto isso, a Terra continua se movimentando e o homem evoluindo sobre ela. 

  

    

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.