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Para o filósofo Spinoza a composição entre dois corpos depende das partículas semelhantes que constituem ambos os corpos. O que o filósofo holandês chama noções-comuns. Um corpo tem que carregar em si as mesmas partículas que o outro, com quem ele se propõe composição. Não é necessário que estes corpos contenham em suas generalidades as mesmas partículas. Bastam apenas algumas. Ou, ao menos, uma. Uma só partícula evidencia um corpo no outro e torna visível suas intimidades. 

A enunciação discursiva atribuída ao corpo-bíblico se aproxima de Spinoza quando ela recorre ao imperativo-categórico, “Diga-me com quem andas e ti direi quem és!”. Assim, tanto nas perspectiva filosófica ou religiosa há implicações quanto o comprometimento das relações dos corpos. Recorrendo a um desenho pedagógico para melhor entendimento, significa que tanto no reino da Terra como no reino do Céu, todas as relações comprometem os autores destas relações. Não há qualquer possibilidade de negação deste comprometimento que cria a prática associante.

Quando alguém se propõe a criar uma sociedade, um grupo, uma entidade, este alguém procura elementos que se identifiquem com ele. Elementos que carreguem os mesmos esquemas sócios-culturais que ele acredita e defende. Esquemas psicológico, sociológico, econômico, antropológico, religioso, moral etc. Neste contexto não há como afirmar dessemelhanças entre os componentes de tal associação. Em síntese, todos representam a mesma ideia. É o que se pode afirmar sobre a comunidade dos iguais. Nesse entendimento, pode-se dizer que o discurso das igualdades leva a afirmação de que democratas são democratas, socialistas são socialistas, nazifascistas são nazifascista, capitalistas são capitalistas, burgueses são burgueses etc.

O evento Bolsonaro ocorreu sob a propagação de ideias de fortes corpos repressivos expressando claros sentimentos de inveja, ódio, vingança e castigo. Se mostrando na suspeita propaganda eleitoral com as fake news e as falsas mamadeira de piroca que permitiram muitos eleitores sublimarem seus sentimentos de culpas-inconscientes através do recurso-psíquico do deslocamento projetivo. Pedro é ofendido por Paulo, mas não revida a ofensa em Paulo. Procura João para revidar. Ou, em um sentido psíquico-capitalista. O patrão tem diminuição de lucro, mas não revida no sistema-capitalista. Revida no trabalhador.

Bolsonaro eleito, os corpus noções-comuns e os corpus enunciações imperativo-categórico bíblico se aproximaram dele que realizou as composições. Alguns corpus escolhidos e indicados por ele mesmo e outros indicados por corpus próximos. Como o Brasil é um país composto, em sua maioria (56 milhões de eleitores bolsonaristas não correspondem nem de longe a metade da população brasileira), por um povo politicamente democrático as composições logo saltaram aos olhos deste povo. Ele percebeu que os personagens com suas práticas destoavam do sentido de democracia que ele, o povo, faz sua práxis e poiesis política. Muitas das indicações de Bolsonaro logo ganharam visibilidade nas faculdades sensoriais, intelectuais e éticas do povo. Não precisou ele nem se esforçar para perceber e entender o que estava ocorrendo no Brasil.

Hoje, Bolsonaro encontra-se emaranhado em uma série de acusações contra alguns de seu ministros e que já serviram de pedido de demissão por algumas categorias. Agora, do cloro tributo à Hitler, Bolsonaro, sob forte pressão, resolveu demitir o secretário da Cultura Roberto Alvim, cuja admissão foi grandemente rejeitada pela sensibilidade e inteligência brasileira.

Um caso shakespeareano? Um Ser ou Não Ser? Não, dada a nobreza sensível, intelectiva e ética do dramaturgo inglês. Trata-se de um caso verdadeiramente tupiniquim, onde o admitir não leva em conta a visibilidade a priori do demitir. A ausência de talento e vocação para os cargos admitidos.

Bolsonaro é um caso cujo filósofo Sartre responde: Todo homem é responsável por sua escolha. Bolsonaro é responsável por suas escolas. E não há como recorrer para se defender, erradamente, ao mesmo Sartre e afirmar que “O Inferno São Os Outros!”     

 

 

    

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