FREUD E SUA TOPOGRAFIA DOS SONHOS NO NAZIFASCISMO BRASILEIRO

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Para Freud, a principal meta da psicanalise é transformar o inconsciente do paciente em consciente. Enfraquecer suas defesas neuróticas que o impedem de viver uma segura saúde mental. Para conseguir a realização dessa meta, a psicanálise faz uso de seu método que engloba a interpretação, associação livre, transferência, contratransferência, e interpretação dos sonhos do paciente.
O inconsciente do paciente só pode ser revelado através da análise, atos falhos, chiste e pela interpretação dos sonhos. E, são os sonhos do paciente, que mais apresentam material para a análise. Porém, para interpretar os sonhos, o psicanalista tem que conhecer todo o trabalho do sonho, a condensação, o deslocamento, o simbolismo, que se revela como conteúdo manifesto e conteúdo latente.
Para que o paciente possa sonhar é necessário que ele entre no estado de sono. No sono o fenômeno onírico, do sonho, escapa da censura do super-ego e se manifesta na cena-onírica com certa independência. O sonho é produto tanto de estímulos do estado de vigília como do estado inconsciente, mas com maior poder o estado inconsciente, visto que o sonho são revelações das experiências infantis que chegam até os seis anos. O que significa, que todo sonho na vida adulta encontra-se envolvido diretamente nas experiências infantis. São produtos das repressões, das negações dos adultos, em forma de enunciado moral imposto pela força opressora dos pais que surgem para a a criança como autoridades. Como lei-moral que posteriormente vai se transformar no super-ego.
Freud, em sua obra maior, A Interpretação dos Sonhos, publicada em 1900, oferece excelente trabalho de sonhos para entender o nazifascismo que entulha e perambula pelo Brasil com seus componentes de morte em forma de inveja, ódio, vingança e destruição. Em sua topografia-onírica, Freud apresenta o edifício da elaboração do sonho. O sótão, a escada, com seu guarda, e a sala de visita. Cada um desses topos, tem uma função proeminente no trabalho do sonho.
O sótão é o topo onde se encontram guardados os objetos-arcaicos que não servem mais para serem exibidos diante dos outros na sala. Eles são confinados ao isolamento da escuridão do sótão. O sótão é o inconsciente: o que não é dado a ser visto. A escada é o topo que liga o sótão com a sala de visitas. No meio da escada tem um guarda, vigilante, que evita a saída de qualquer objeto do sótão para a sala. É o censor ou super-ego. A sala de visitas é o topo onde ficam os objetos-livres que podem ser apreciados por quem vistá-la. É o consciente.
Quando ocorre o sono, há uma especie de relaxamento do corpo e da mente da pessoa que dorme. Para que o sono não seja perturbado ocorre o sonho. O guarda, na escada, diminui sua vigilância, e os objetos-arcaicos invadem a sala de visitas. Porém, estes objetos não se mostram em total clareza: eles se disfarçam, porque temem ser surpreendidos, a qualquer momento pelo guarda que pode despertar. As imagens e os sons que o sonhador presencia no sonho são os conhecidos conteúdos manifestos. E os disfarces são os conteúdos latentes. O que servem para a interpretação.
Dependendo da intensidade da energia libidinal-sexual reprimida, no inconsciente, os conteúdos se mostram mais ousados. Cenas de incestos com o pai, mãe, irmãos, assassinatos, roubos, traições, perversão-homossexual, ódio-racista, sadismo, masoquismo, estupro, desvio-porno, um turbilhão de quadros perversos que modificam totalmente a cena comum da sala de visita ocultando todos os objetos que compõem a normalidade da sala de visitas. Consistindo-se em um verdadeiro delírio-paranoico-destruidor. A esquizofrenia-cotidiana de cada sonhador.
Em seu processo dialético, uma sociedade-democrática, que não percebeu e não entendeu a força maléfica de tânatos, pode passar por essa tese psicopatológica. Resultado do vacilo que o guardião deu ao permitir que as forças pervertidas descessem a escada e dominassem a cena da sala de visitas. Isto porque não conhecia a força destruidora das criaturas da zona escura. E, também, porque havia se acostumado com a alegria e a liberdade democrática que se apresentavam na sala de visitas. O que para ele afastava qualquer ameaça-paranoica no edifício.
Para que essa tese-delirante seja desfeita, é necessário que o guarda, que são as instituições-democráticas, lance mão de seus verdadeiros atributos e princípios, como antítese-democrática, e os habitantes da sala de visitas, que é o povo, passe a atuar como práxis e poiesis política como potência-popular e institua novamente a tese original e singularmente democrática.
Só pela ação desse processual-político genuinamente democrático, as criaturas-aberrantes da zona escura que se mostram como executoras da ordem-aguilhão que lhe foi cravada a-historicamente, e como forma de retorno do reprimido tentam perturbar os corpus sensorial-intelectual-ético da sociedade brasileira, podem ser enviadas de volta ao seu topo-escuridão ou enfrentarem suas sublimações que são seus sintomas-perversos-infantis que impediram elas de crescerem e atingiram as ordens da razão e da sociabilidade. E que agora, querem por toda força fazer com que a sociedade-brasileira acredite que são Normais e reais.
Para muitos, quando a psicanalise se engaja como instrumento politico-social, ela é capaz de sair de seu espaço de satisfação e segurança burguesa e atuar como potência-coletiva. O que é fundamental, já que não existe saúde individual sem saúde-coletiva.
Grande diagnóstico e grande sacada neste momento onde Witzel e o evento Bolsonaro comemoram a morte de um vigilante, golpe, ditadura, desmandos, insegurança institucional. Com texto abordando assuntos como esse nós podemos ir desconstruindo a zona escura.