VICTOR LEANDRO*: A LUTA E A CONTRADIÇÃO

Uma das principais lições teóricas do marxismo consiste em determinar a contradição como
sendo o principal ponto a ser resolvido pela ação revolucionária. É por seu exame que se
revelam as relações a serem deslindadas para a desconstrução do edifício ideológico que
sustenta o estado de opressão em que se encontram as classes dominadas. Contudo, para que
se realize a tarefa com êxito, faz-se necessário distinguir entre a contradição principal e as
secundárias, entre o que é prioritário e o que pode ser adiado no momento da luta.
Ora, o desgoverno que se apresenta no país é especialista em produzir contradições de
segunda ordem. Com sua estupidez sincera, ele gera questões que, ainda que resolvidas, não
conduzem a nenhuma transformação, posto que seu caráter é absolutamente frágil e solvente.
De que adianta provar que o nazismo é de extrema direita? Ou que as universidades brasileiras
não trabalham para a difusão do chamado marxismo cultural? Nenhuma mudança efetiva
parte da refutação dessas mal acabadas proposições.
Daí que somente uma investida séria e decisiva contra a contradição principal dominante pode
refutar as posições em voga. Esta, mais uma vez, encontra-se na boa e velha luta de classes,
que recebeu agora uma configuração ainda mais aterradora. Imbuídos de um fanatismo liberal
anacrônico, Paulo Guedes e seus asseclas buscam implantar uma lenta e perversa política de
retirada de direitos dos mais pobres, que, uma vez implantada, pode levar décadas para ser
desfeita, condenando à miséria e à exploração perpétua milhões de brasileiros por incontáveis
gerações. Este é o grande projeto que liga os mais diversos setores reacionários, e para o qual
estes se aliaram nos últimos anos apesar de suas notórias divergências.
A imediaticidade dos fatos correntes não nos pode iludir. Ainda que vençamos o fascismo, a
brutalidade ultraliberalista pode continuar a prevalecer. Contudo, se derrotarmos esta
ameaça, o edifício da repressão cairá por completo. Logo, é contra ela que temos de direcionar
nossa luta, e reunir para isso toda a potência criativo-destruidora da multidão.
*
Victor Leandro da Silva
Prof. Adjunto da Universidade do Estado do Amazonas
Coordenador do Curso de Licenciatura em Ciencias da Religiao – PARFOR/UEA