Na prática, é mais fácil chegar ao colégio à pé do que esperar meia-hora ou mais por um ônibus em uma parada”. (Amazonino Mendes, prefeito sub judice de Manaus).

A sentença proferida pelo prefeito in sursis de uma cidade sem prefeitura é uma pérola do humor involuntário. Não fosse produto do entendimento real do sujeito Amazonino Mendes, facilmente passaria como textualização humorística reveladora do engôdo e das contradições de uma gestão mais afeita à lógica do capital e da submissão do que à democracia. Em outra perspectiva, a quem interessa a doutrina psicanalítica, por exemplo, poder-se-ia atribuir à frase do prefeito a condição de ato falho – enunciado que carrega, para além da significação semântica do emissor, uma outra, na expressão, e que revela o que o emissor gostaria de ocultar.

De qualquer sorte, poucos tiveram a chance de resumir, em uma frase, décadas de submissão aos interesses empresariais, cujo resultado é a ausência do transporte coletivo efetivo na cidade de Manaus. Se Amazonino afirma querer que os estudantes andem até a escola, é porque lhes retira o direito à meia-passagem, sem a necessária – e inexistente, na realidade – argumentação técnico-científica que justifique a subtração do direito adquirido. Do mesmo lado, se afirma que é melhor andar do que esperar “meia-hora ou mais”, é porque o sistema de transporte coletivo não existe como efetividade do movimento extensivo coletivo, necessário à dinâmica econômico-social de uma cidade. Amazonino, para justificar a armadilha atual contra os estudantes, apela para outra armadilha, igualmente atual em seus efeitos, mas muito mais antiga em sua confecção: o desmonte gradual, na sua gestão e de seus iguais, do sistema de transporte coletivo da cidade de Manaus.

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