O filósofo Spinoza, no século XVII, afirmava que o orgulho é uma idéia que um homem tem de si maior do que realmente ele é. E que para manter essa idéia precisa de outros homens que creiam no que ele crê de si. Os marketings dos governos municipal e, principalmente, estadual estão, nestes últimos meses, repletos destes enunciados. E, com a tal indicação de Manaus, pelas multinacionais, como uma das sedes da Copa 2014, aí que o ufanismo orgulhoso exacerbou-se.

Um fato que convida a algumas especulações risíveis. Ora, um homem, para orgulha-se de si, precisa realizar uma disjunção egóica. Uma duplicação de si mesmo. Deixar de ser um, para ser dois. Um, sujeito da classificação, e outro, objeto desta classificação. O sujeito com mais atributos valorativos, para poder classificar o objeto. Só que, como houve a duplicação do ego, este outro, objeto, é ele mesmo sujeito. O que significa que ele é importante por sua própria determinação. Como ele julgou importante ele mesmo, ele precisa dos outros para confirmar que ele estava correto em seu julgamento. É exatamente isto que fazem os marketings do “orgulho de ser amazonense”. São alguns amazonense querendo se auto-valorizar com a cumplicidade incauta de outros. Em verdade, a miséria confessada. Como a miséria é falta, e como estes amazonenses se sentem miserabilizados em suas condições intelectuais e éticas, eles recorrem às suas imaginações supersticiosas como forma de se tranqüilizarem na dor que a impotência causa. Já que ser miserável é se encontrar impotente. E como tem miserável em Manaus querendo ser tomado como necessário para rodar o mundo!

Mas eis que, nesta compulsão orgulhosa, salta um entendimento, que embora coloque o orgulho do sentido dado por Spinoza fora, serve para reflexão. Um entendimento que tem o orgulho como fator de potência, segurança e positividade. Assim, algumas pessoas em Manaus ao analisarem as atitudes profissionais do executivo e legislativo de Manaus, de certos empresários, alguns profissionais liberais, grande parte da classe média, alguns alcunhados de artistas, e, mormente, a mídia passaram a proferir que têm vergonha de ser amazonenses. O que, embora não seja um afeto spinozeano, é, já em si, um clamor marxista. Pois a vergonha para Marx é revolucionária, é a cólera contra si mesmo. No caso destas pessoas, uma cólera por participar do conjunto dos amazonenses, onde também estão inclusos estes orgulhosos negadores do Amazonas, os submissos, iludidos e cabotinos.

Mas estas pessoas não têm com que se preocupar. Como são diferentes destes orgulhosos, ninguém vai confundi-los com eles. Basta atentar para o que o filósofo da existência engajada, Sartre, disse: Um homem não é o que pensa de si, mas o que faz. E, como estes orgulhosos amazonenses o que fazem é a miséria, os envergonhados não têm que se preocupar em ser amazonenses.

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