GOVERNO COMEMORA, MAS INDICAÇÃO À COPA NÃO TEM FUTEBOL NEM DESENVOLVIMENTO URBANO
“Era como um enterro. Dois terços das pessoas que estavam ali haviam sido convidadas pelos patrocinadores e não se importavam realmente com o futebol. A maioria dos torcedores que nos amam não tinha dinheiro para comprar um ingresso. O entusiasmo público [no país] é incrível, mas os que comparecem aos estádios, usando terno e gravata, não tinham razão para estar lá”.
(Didier Deschamps, jogador da seleção francesa, sobre a frieza da torcida durante os jogos da Copa do Mundo da França, em 1998)
Na tarde de ontem, confirmou-se o óbvio: Manaus foi indicada como subsede da Copa do Mundo 2014..
Distante do ufanismo midiático que se alimenta da miséria social promovido pelo governo do Estado, Prefeitura e mídia domesticada, a população sabe que a copa não virá para o povo. Evidência disso foi a forma como se deu o processo de escolha destas subsedes.
Em seu início, seriam dez as cidades a receber a copa. Alegando a necessidade de estender por todo o território nacional o evento, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, em seu milésimo mandato – sobre a longevidade dele no cargo, o orgulhosos senador Arthur ‘5,5%’ Neto nada diz – solicitou à FIFA que fossem admitidas mais duas cidades. Nenhuma benesse ou interesse público nesta decisão. Trata-se de uma questão de mercado, o futebusiness que de futebol não carrega sequer o rastro.
Teixeira faz parte do seleto grupo de pessoas que se alimentam dos bilhões que envolvem o futebol no mundo. Apadrinhado pelo sogro, João Havelange, Teixeira aprendeu como se manter no cargo. Em seu livro intitulado “Como Eles Roubaram o Jogo”, o jornalista David Yallop mostra como os congressos da FIFA são povoados por senhores de meia-idade, que falam somente em cifras, e em nenhum momento sobre futebol. Yallop mostra como o brasileiro Havelange conseguiu se manter por mais de 20 anos na direção da “entidade máxima do futebol”, à custa de subornos, achaques e propinagem. Principalmente com ingressos para os jogos, moeda valiosa entre os patrocinadores e dirigentes.
Com Teixeira não foi diferente. A cada cidade que visitava, recebia presentes e mimos. Entre Manaus e Belém, há uma diferença brutal entre os governadores, e isso ficou patente: enquanto a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa afirmou que os investimentos em infraestrutura referentes à copa seriam efetivados mesmo que a cidade não vencesse a disputa, no Amazonas, o governo Braga em nenhum momento priorizou os investimentos para além dos jogos, que serão no máximo cinco. Serão, ao todo, seis jogos por grupo, sendo nove grupos. Braga é especialista em agradar àqueles de quem deseja receber favores. Não por acaso, o TCU, para onde recentemente indicou o amigo e indiciado pela PF, Ari Moutinho Junior, afirmando ser o “dono da vaga”, arquiva ciosamente todas as denúncias de desvios de verbas em obras públicas. Vide o caso pampulha. Braga ainda tem a Assembléia Legislativa literalmente na mão. As constantes declarações do presidente da ALE, Belarmino Lins, de subserviência e obediência aos ditames do chefe do executivo são prova disso.
Não seria de se estranhar que Braga, com este currículo, vencesse a governadora do Pará no quesito mais importante para a escolha de uma subsede: agradar ao bolso dos dirigentes da FIFA e CBF. Nada de critérios técnicos, nada de futebol.
COPA SEM COPA PARA UMA CIDADE SEM POVO?
A questão da escolha de Manaus como subsede da copa, tratada a toque de caixa e com linguagem marketológica pela imprensa domesticada e pela propaganda governamental tentou ocultar uma questão, esta perene e mais presente na existência dos moradores da cidade: a infraestrutura.
Não se viu da iniciativa governamental, nem estadual, muito menos municipal, a iniciativa de organizar fóruns populares para discussão do projeto de recebimento destes jogos. Em uma cidade pulsante, onde os movimentos intensivos se territorializam num discurso político ativo, ter-se-ia que questionar as políticas públicas de transporte coletivo, de engenharia de trânsito, de moradia, de estrutura hoteleira, do futebol profissional, de educação, de saúde pública, de inclusão da população no processo de preparação, na fiscalização dos investimentos e na ordenação geral do projeto. Tudo ficou a cargo do marketing pré-eleitoral.
Uma cidade só existe como tal a partir da composição desejante de seus habitantes, e suas necessidades são resultado da produção ético-estética de seu povo. Daí ser impossível existir uma cidade sem povo, o que dirá fazer “melhorias” em uma cidade sem que o povo participe deste processual.
De modo que a comemoração governamental em torno de uma indicação conquistada pelo método de degradação do jogo, através do ilícito e do decadente, é apenas mais uma armadilha preparada por estes governos para a população.
Enquanto Manaus padece sem prefeito, sem transporte, sem educação, sem segurança pública, na ausência dos elementos básicos para a existência de uma cidade, um governo inexistente e que só existe no vazio do marketing comemora um falso ganho, pois que uma Copa do Mundo onde o futebol há muito deixou de ser o móbil não trará sequer o espectro do futebol. Apenas mais afecções tristes. Nada de cidade e nem de bola.
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