FILHO DE WALLACE SEM TATUAGEM E CAETANO VELOSO

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Afetada por corpus jurídicos amazonenses que investigam seu ex-marido, deputado Wallace, sob suspeita de ser autor de vários crimes, a mãe de Rafael, também filho do deputado, procurando acreditar, e tentando fazer a opinião pública acreditar que Rafael não tem participação em nenhum dos crimes que lhes são atribuídos, afirmou que seu filho é uma criança limpa, e que não tem tatuagem.

O recurso de usar uma imagem impressa no corpo como tentativa de provar que seu filho é insuspeito, foi uma escolha preconceituosa de um signo, a tatuagem, que não serve para afirmar que alguém é ou não criminoso. Ser tatuado não significa ser bandido, facínora, crápula, corrupto, assassino, estuprador, drogado, ou qualquer conduta que o valha. Assim, como não ser tatuado pode significar estas condutas sociopatas. Há policiais funcionários públicos que exercem suas funções seguindo a ordem institucional-constitucional trabalhando pelo Bem Comum, e são tatuados. Há policiais que transgridem esta ordem em proveito próprio, se associando aos facínoras, e são tatuados.

Em sua afirmação, a mãe só fez ecoar, por impulso, o que acreditou como signo discriminador próprio para julgar e condenar. Atendeu a uma enunciação forjada na linguagem de alguns policiais, e algumas pessoas, que não entendem que os delitos não saem de sujeitos estreitados no princípio de identidade como estigmatizado pela psiquiatria forense, que não vai além do óbvio. Estigma muito usado por seu ex-marido em seu programa contra os suspeitos que exibia na TV como mercadoria de lucro. Com a complacência de grande parte da sociedade dividida em tatuadas e não-tatuadas, mas cúmplices.

A tatuagem tem percurso histórico tecido nos códigos mítico, místico e social. Na aurora da civilização, homens se tatuavam como crença em força protetora transcendental. Faraós se tatuavam seguindo rituais nobres e teológicos. Antes dos brasões, as tatuagens serviam para manifestar estirpe nobre. E foi entendendo o significado estético/nobre/erótico/transcendental da tatuagem que Caetano Veloso cantou:

Menino do Rio

Calor que provoca arrepio

Dragão tatuado no braço

Coração

Adoro ver-te.”

A tatuagem é na superfície da pele, mas pode ir fundo. Fundar outra linguagem corpo. Pode descarnar como outra manifestação sensorial. Pode marcar narcisismo em parte alheia do corpo visibilizando-a. Um braço, um torso, uma perna, uma bunda, um punho, um ventre, uma fimose, um seio, um rosto, uma xota, um corpo sem órgãos, tudo pode se deslocar no movimento ‘tatuante’. Pode ser que a tatuagem sirva para desviar o olhar, deslocar, estranhar aquele que olha esta parte do corpo e não a encontra. Encontra a imagem, diria o filósofo Baudrillard, o signo sedutor que desvia a percepção e o entendimento. A certeza que ali existe um corpo perfeito.

Caetano ‘caetanizou’ o Menino do Rio, com sua beleza tatuada arrepiante com o mar, o sol, a areia, os pássaros e o dragão. Os percursos de Rafael não o tatuaram. Assim, em seu caso, não ser tatuado, nada muda.

2 thoughts on “FILHO DE WALLACE SEM TATUAGEM E CAETANO VELOSO

  1. Deus existe! Finalmente algum cristão tece sobre este caso comentários para além do óbvio. A impressa local, sensasionalista e interessada em banalizar a existência, ocupa-se com a cobertura policialesca do fato. Parlamentares e outras figuras públicas emudecem-se quase que por cumplicidade. A sociedade cívil, psicólogos, sociólogos, historiadores, professores – ufamnistas ou não – jornalistas, teólogos, geógrafos, bibliotecários, etc. enclausuram-se em seus mundos particulares e não vêem a situaçào como o caos de uma coletividade. Onde estão os doutores em saúde mental a se preonunciarem sobre o caso? Onde estão psicólogos, sociólogos, antropólogos, a discutirem a decadência do homem público? ou a relação de perversào entre poder público e sociedade? O que pensa CRP e OAB sobre a questão envolvendo um legítimo Representante Popular? Obviamente não estão afin de nada!
    Por que esse emudecimento?!

    http://daniellsantana.blogspot.com/

  2. Companheiro, Daniel, em tua ‘santanidade’perguntas onde se encontram as representações da imagem dogmática do Estado. Certo,estão em seu guetos domésticos-burocráticos esperando a foice da “morte que nos leve”. Condenados por si, esperam suas próprias mortes, crentes que são inatingíveis pelos bumerangues da plebe ignara.

    Pobres representações. Nada sabem do obscuro da esquina. Nada sabem que por acaso foram poupados, mas se suas sortes mudarem estão perdidos, como diz o teatrólogo, Brecht.

    Abraços cabocalmente afinado!

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