A VIOLÊNCIA CONTRA O PROFESSOR GILSON E “AS PUPILAS DO SENHOR REITOR”

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Como corpo compósito do sistema nervoso central com  entrelaçamento nas sínteses passivas e ativas da estrutura visual que movimentam e organizam as imagens, as pupilas, oftalmologicamente Iris, também conhecidas como meninas dos olhos, agem, em processual de abrir-se  e fechar-se, permitindo a entrada da luz nos olhos para que seja possível o ver. São elas condutores de sensações luminosas, fundação e fundamento da imagem criada conjuntamente com a matéria.

Desta maneira, ver é criar imagens, como, também, analisar o mundo não só como síntese fenomênica, mas também como matéria política instituída em signos econômico, social, estético, antropológico, etc. O que conduz o sujeito além da síntese biológica de suas pupilas, e além da luz como sensações, as funções sensoriais dos olhos. Como também, se movimentar nos territórios dos sentidos epistemológicos. Examinar o mundo à luz do pensamento para liberar o obscuro e fazer emergir o conhecimento necessário à democracia.

O OLHAR DO REITOR

O professor Gilson, do Curso de Jornalismo da Universidade do Amazonas, encontrava-se, no dia 11 deste mês de maio, ministrando aula sobre tema referente a prática jornalística e sua relação com o poder governamental. Em certo momento narrou, e interpretou a condição de dependência da mídia manauara aos governos do Amazonas que escamoteia informações em benefício dos governantes. E ilustrou o caso da CPMI da Infância e Adolescência em que fazia alusão ao vice-governador Omar, que os jornais locais tomaram atitude silenciosa. Uma aluna se levantou, saiu de sala; então, minutos depois, entrou um homem no recinto e agrediu com socos e ponta pés o professor. O agressor era o não menos irmão de Omar.

O caso tomou, para a comunidade universitária e a sociedade amazonense, a dimensão que deveria tomar: o sentimento profundo de repúdio à irracional e covarde violência. Escritos, manifestos, reuniões, passeatas, convocações, atos de solidariedade, foram expressados em favor do professor violentado. Entretanto, o reitor passou dias sem ver o signo violento da transgressão e não se expressou como deveria se expressar um reitor em momento como este.

O reitor recorrendo a escotomia, escureceu e fechou os olhos para que a luz não passasse e mostrasse em toda sua visibilidade o afeto criminoso. Em seu estado escotomizado, o reitor não se expressou sobre as múltiplas violências sofridas pelo professor, o funcionário público, o jornalista, o chefe da graduação, do mestrado e doutorado. Não se expressou quanto a invasão do território geo-político da UFAM, seus corpus administrativo-jurídico, ético-pedagógico e sua essencialidade epistemológica.

Somente no meio desta semana, depois de muita ofensiva dos indignados e, principalmente, da Associação dos Docentes da Universidade do Amazonas – ADUA, o reitor permitiu que a luz visitasse as suas pupilas: publicou uma nota de repúdio contra, como diz o filósofo Alcimar, a barbárie, e a posição dos reacionários deputados, pró-Omar, que apoiaram o ato familialista do agressor.

Dizem que o reitor tardou em manifestar sua posição por que queria tomar uma atitude saída de uma observação serena. Só que o reitor não percebeu e não entendeu, que a própria serenidade emerge da violência consumada. Neste caso, ser sereno é agir  rejeitando o elemento transgressor da instituição e do professor. Atitude que demonstra a verdadeira função de uma autoridade educacional que tem a razão como princípio fundador de sua autoridade, e o constitui como um ser político  responsável pelo direito e a liberdade de convivência institucional democrática. E não simplesmente um agente técnico-administrativo que reduz sua função no poder público a contabilidade das ampliações de cursos e salas de aulas. Tudo que sensibiliza “as meninas dos olhos”, mas elimina o racional-político que a instituição democrática reclama.

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