LULA CHAFURDA NA LAMA AMAZONIQUIM
Na peça As Medidas Tomadas (Die Massnahame), também traduzida no Brasil como A Decisão, de Bertolt Brecht, há uma canção que é constantemente, como muitos trechos do dramaturgo alemão, publicado em livros do poeta Brecht. Inclusive aqui neste bloguinho já o publicamos no texto Lula é uma anta?, quando o amestrado da não-Veja, Diogo Mainardi publicou suas pústulas num suposto livro chamado Lula é minha anta. Enquanto quase todos os bons companheiros diziam “Mainardi é que é uma anta”, a partir do conhecimento cabocal in locus (como gostam os antropólogos) do que é uma anta e do conceito deleuziano/guattaririano de devir-animal, afirmamos que Lula é que é realmente uma anta.
Com quem o justo se recusa a ir à mesa
Se se trata de ajudar a justiça
Que remédio pareceria demasiado amargo
Ao moribundo?
E outra vez esse texto vem ao caso justamente quando Lula está no Amazonas, terra de anta, hoje animal em extinção; mas que, antes da chegada do contrabando e caça predatória, já fora um delicioso assado nas terras do Purus, da qual a unha sempre serviu para ajudar com o entravante reumatismo.
Que baixeza você recusaria cometer
Para extirpar toda a baixeza?
Se você pudesse transformar o mundo, o que
Você não aceitaria fazer?
O Amazonas é governado há praticamente três décadas — e não seria absurdo dizer, desde a invasão européia — pela mesma oligarquia. José Lindoso, Gilberto Mestrinho, Amazonino Mendes, Eduardo Braga, Alfredo Nascimento, acompanhados sempre de seus pards no Legislativo — como os Lins, da qual Belarmino Lins, o Belão, hoje é o dono da casa —, contando sempre com os mesmos eternos secretários — José Mello, Terezinha Ruiz, entre outros. Não se deve esquecer que todos esses sempre estiveram em palanques opostos ao de Lula tanto no que diz respeito à luta operária e político-partidária. Seria estafante e desnecessário puxar a ficha corrida dessa trupe toda. E eis que agora todos estão com o Sapo Barbudo e não abrem. Alguns, que gostariam que Lula fosse mais seletivo, ficam incomodados. Mas é uma coisa engraçada ver tanta babação, tanta lambança destas personagens grotescas da política amazoniquim, rodeando Lula e Dilma como mosca em doce de cupu.
Quem é você?
Eduardo “Guerreiro de Sempre” Braga, a começar pelo governador, disse que o Amazonas se orgulha de estar ao lado de Lula, “um presidente do povo”, e elencou os vários feitos da ministra Dilma para o Amazonas, entre tantos, a viabilização do gasoduto Coari-Manaus. Ao contrário de Dilma, sabe-se há muito os rastros da quadrilha liderada pelo ex-prefeito de Coari, Adail Pinheiro, chega à sede do governo.
Amazonino Cassado ousou fazer cobranças: “Antes a economia era interiorana, quando tivemos o apogeu da borracha. Depois veio o declínio e com a criação da Zona Franca 97% da economia ficaram concentrados em Manaus. É preciso resgatar a população interiorana.” Um docinho pra quem disser quantas vezes Amazonino já foi governador e quantas vezes o Terceiro Ciclo foi realizado. Ele afirmou ainda que Lula é o maior presidente que o Brasil já teve e foi esperançoso: “Presidente Lula, estaremos unidos na próxima eleição sob a sua liderança fazendo do Amazonas uma referência em todo o Brasil”. Além de pilora, Cassado está sofrendo de ‘deslembrança’. E se o TSE cassá-lo num dos dois processos que já se encontram lá, faltando subir mais dois, e ele ficar inelegível?
Na Assembléia Legislativa foi só rasgação de seda, principalmente do presidente Baelão, e, na Câmara Municipal de Manaus, imagine-se que Lula recebeu uma medalha de ouro que leva o seu nome: “A Câmara Municipal prestou um reconhecimento justo a um homem que demonstra ser um grande estadista e está fazendo muito pelo Amazonas”, justificou-se o presidente da casa, Carijó (PTB). E assim vão as favas cantadas e decantadas das peripécias dos ilustres amazoniquins…
Mergulhe no lodo,
Beije o carniceiro, mas
Transforme o mundo.
Ele precisa ser transformado.
Às vezes, achamos, e até já o publicamos aqui algumas vezes, apesar de nosso apreço pelo Sapo Barbudo, que ele dá muitas penas a todos esta politimerdia, como diria o de-compositor Tom Zé, que eles acabam transformando em asas para voar. Mas é certo que tudo que eles dizem que Lula — não personaliticamente, mas governante democrático — faz pelo Amazonas é verdadeiro; enquanto governador e prefeito, psicanaliticamente, vão tão somente delimitando o caminho e passando cal por onde a comitiva presidencial irá passar.
Como diz o vereador José Ricardo (PT): “A impressão que temos é que quem governa por aqui é o Lula, e não os governos municipal e estadual”. Ou seja, se houvesse Governo e Prefeituras atuantes, a educação municipal e estadual não estariam entre as piores do Brasil, não haveria toda a buraqueira nas ruas, não faltaria água, energia nos interiores, emprego, as chuvas não provocariam tanta calamidade. Aliás, são estes agentes públicos e, além da corrupção, suas reduções intelectivas que produzem toda essas violentações físicas e epistemológicas na população.
Enquanto isso, Lula, como uma anta, sabe a hora de mergulhar, para boiar de novo em outro lugar, quanto mais agora que Dilma se consolidou como uma parceira, formando uma potência democrática, que vai criando novas formas de relações por onde passa, mesmo em meio a tanta baixeza, lodo e carniceiros, que já não podem interceptar seu movimento.