TRASLADO DE SÃO BENEDITO (3ª e última parte)
A Mina não é pra quem quer
É só pra quem sabe baiar
Quem tá dentro não queira sair
Quem tá fora só queira entrar
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RETORNO AO YLÊ AXÉ SESU TOYÃN
No domingo passado, quando se completavam as nove noites de novena, Mãe Vera d’Oxum e Pai James d’Ogum, acompanhados de filhos, amigos e familiares, dirigiram-se ao Ylê Axé Sesu Toyãn para devolver São Benedito e agradecer a honraria de ter recebido o santo negro com tanta alegria e devoção…
Encontraram o Ylê Axé Sesu Toyãn completamente reunido e em fraterna comunhão para receber de volta o santo, como se faz aí há tantos anos. Quem explica é mais uma vez é o padrinho da festa, Pai Raulzinho Ti Oxum:
É uma tradição que começou no Seringal Mirim, e já está há dezoito anos na responsabilidade do Pai Gilmar. E já são nove anos com esse que eu sou o padrinho da festa. Festa que congrega todas as casas de axé de Manaus. A gente tenta também com esses rituais visitar outras casas e estabelecer uma maior comunicação, uma maior fraternidade entre os irmãos de axé, independente se for Ketu, Angola, se for Mina Jêjo, Mina Vodun. Nós tentamos isso: por meio de São Benedito, fazer uma sincronia das casas, convidar a todos pra ter-se um diálogo aberto, fraternal, o que é espiritualidade, o que é hoje a união dentro do axé. Então nós usamos o Vodun Toy Averequete, na pessoa de São Benedito, pra fazer essa confraternização de axé.
Todo mundo aconchegado no impecável terreiro, impulsionada por Pai Raul, deu-se início à novena, onde todos participavam respondendo e cantando as rezas e orações.
Com direito ainda a participações especiais das crianças. Wagner, que não titubeou na leitura de uma longa reza toda em latim, deixando na maior inveja muitos estudantes de Letras, e Raíssa d’Yemonjá, que se apresentou para ler uma das orações da novena repassada ao público.
Essa é uma tradição que nós trazemos da Mina, nós trazemos do povo do Maranhão, porque muitas das casas manauaras, de origem, nos primórdios do santo, eram todas de origem Mina Nagô, ou Mina Vodun, ou outras denominações de Mina. As velhas vodunças, que vieram de São Luís do Maranhão, que vieram pelo estado do Pará, vieram de barco justamente para povoar a região amazônica, no ciclo áureo da borracha, e elas trouxeram essa tradição de culto ao Vodun Toy Averequete, que é o grande homenageado, por tabela, pois usamos o São Benedito para na verdade homenagear Toy Averequete.
Quando todos já tinham prestado suas reverências a São Benedito, a festa começou, e logo no momento apropriado Pai Gilmar distribuiu a comida do santo aos filhos e convidados.
Após a realização desse ritual, os tambores pegaram fogo, e então baixou no salão aquela que é, desde 1991, na coroa de Pai Gilmar, vem propagando e preservando o Traslado de São Benedito: dona Herondina.
Dona Mariana, que estivera no traslado de ida e na festa de sábado na coroa de Mãe Valkíria, agora baixou na coroa de Mãe Vera.
E lá estava novamente, alegre e formoso, seu Josiano, que foi dançar, cantar e regozijar a todos com sua magnífica presença.
Ê tumba lá e cá
Ê tumba ê caboco
Ê tumba lá e cá
Ê tuba ê meu pai
Ê tumba lá e cá
Ê não me deixe só
Desde quando saiu, na trasladação daqui já foi uma pré-festa. Na verdade, serão ao todo quatro dias de festa. Começou a festa na sexta-feira, na casa de Mãe Valkíria; sábado na casa de Pai James d’Ogum; hoje na casa de Pai Gilmar de Yemanjá, que é uma festa pública, e amanhã é a varrição, que também é uma festa pública, mas é quando os encantados se congregam com o povo da casa, uma festa nossa, uma festa íntima, pra reunir a família. É o momento de congregar a grande família do axé e a nossa micro família. É a reunião do macrocosmo do Candomblé com o microcosmo daqui de casa. É uma festa que a gente pretende perpetuar enquanto tiver um descendente aqui que seja devoto de São Benedito.
E Dona Mariana gostou tanto da festa que mal saiu da coroa de Mãe Vera, já voltava na de Mãe Valkíria.
Eu venho na festa de São Benedito porque a dona Valkíria é filha dessa casa, é filha de santo do seu Gilmar, e eu sempre fiz parte da vida do seu Gilmar. O povo não sabe, mas eu sou “madinha” do seu Gilmar. Em toda situação, eu sempre tive com seu Gilmar. Eu sempre disse que nunca vou abandonar seu Gilmar. Aconteça o que acontecer, eu sempre estou nesta casa. Com festa ou sem festa, sempre estou aqui.
Enquanto tiver a devoção e alegria do povo de Mina, enquanto houver padrinho devotado como Pai Raul, enquanto houver o culto a encantados como dona Herondina, dona Mariana, seu Josiano e tantos outros, enquanto houver Toy Averequete, os festejos de São Benedito serão preservados e, na verdade, já está eternizado na satisfação de todos que participaram de festas como essa, com toda a beleza e vivacidade do culto afro Mina Jêjo Nagô. Axé!
●●● YLÊ AXÉ SESU TOYÃN ●●●
(Pai Gilmar, Fômu de Yemonjá)
Rua Bom Jesus, nº 09 — Jorge Teixeira (Manaus-AM)
Telefone: (92) 9176-2290
Parabens !!!
As reportagens estao Otimas.
Um grande abraço.
Anderson ti Ogum ( Asogum )
Parabéns muito obrigado…….
vc fez um otimo trabalho obrigado pelos elogios..
quando tiver outra festa lhe aviso…