TRASLADO DE SÃO BENEDITO (2ª Parte)
Averequete, Averequetinho
Dai-me lincença pra baiar um bocadinho
Averequete, Averequetinho
Dai-me lincença pra baiar um bocadinho
Clique nas imagens para vê-las de perto.
Após as apresentações ontem dos fundamentos das manifestações populares em honra a São Benedito, organizadas pelo Ylê Axé Sesu Toyãn, e dando continuidade sobre o Traslado de São Benedito, conversamos com Pai Raulzinho Ti Oxum, padrinho da festa há vários anos.
O ritual começa no Sábado de Aleluia. São nove dias consecutivos de novena na casa em honra a São Benedito. No oitavo dia, o santo é trasladado para a casa de uma pessoa, que é homenageada. Essa pessoa acolhe o santo dentro do ritual Vodun Nagô. No dia da festa da novena, tem uma preleção com as pessoas que vieram à festa para escolher qual pessoa, qual babalorixá ou yalorixá o santo irá visitar no ano seguinte. No último dia de novena, a casa que o santo visitou tem a obrigação de trazê-lo de volta à casa original. Realiza-se o último dia de novena e nós chamamos os encantados da casa pra louvar São Benedito. São Benedito é o santo devoto de dona Herondina, é o santo padroeiro da família da Turquia.
OITAVA NOVENA NA CASA DE MÃE VALKÍRIA
Pai Raul explica ainda por que o traslado fez um corte, passando numa terceira casa, a casa de Mãe Valkíria.
Esse ano, foi feito algo incomum nestes dezoito anos de santo, pois a Mãe Valkíria recebeu uma graça de São Benedito no decorrer do ano passado, então ela chegou com a comissão da festa — que somos uma comissão; apesar de eu ser o padrinho, de o Pai Gilmar ser o proprietário da casa, o dirigente espiritual, mas nenhuma decisão é imperativa. Há um conselho que julga as decisões tomadas pela casa. Não é a vontade do Pai Raul, não é a vontade do Pai Gilmar, não é a vontade de fulano. É a união das vontades da casa —, então ela chegou dizendo que esse ano ela queria homenagear o santo na casa dela, foi aceito e na sexta-feira o santo foi pra lá.
E para confirmar as palavras de Pai Raul, a própria dona Mariana, na coroa de Mãe Valkíria, explica o novo percurso do traslado.
Esse ano, o traslado passou pelo meu casulo, depois foi pra outra minha casa, em cima de Mãe Vera, mas é minha também. De lá da casa da moça Vera, voltou pra casa do pai de santo Pai Gilmar. A dona Valkíria tem um voto com São Benedito, e por ela ter esse voto ela pediu um ano pra ir pra lá. Depois eu pedi mais um ano, que ele fizesse o Novenário na minha casa, e de lá fosse pra casa da moça Vera, que foi eu que entreguei o São Benedito, no ano que passou, pro meu filho James, que é meu filho também. Entreguei aqui, com a presença da Herondina. E pedi da Herondina, que é minha irmã – nós somos turcas – pra São Benedito ir até a outra minha casa, que minha filha tava precisando de umas ajudas. Levei pra homenagear São Benedito. No voto que a dona Valkíria tem com São Benedito, está bem sucedida, recebeu as graças e tá pagando como pode. A festa é aqui, porque é casa de Yemanjá, e o protetor da casa é São Benedito.
IDA À CASA DE MÃE VERA D’OXUM E PAI JAMES D’OGUM
A ampla e magnífica casa de Mãe Vera d’Oxum e Pai James d’Ogum estava maravilhosamente enfeitada para receber São Benedito.
Após os rituais na porta, São Benedito foi levado ao terreiro por seu Josiano, na coroa de Pai James, e a ekédi Rayssa d’Yemanjá Ogum Té e, depois de enfeitado devidamente por Pai Ribamar, foi colocado no maravilhoso altar que estava preparado para o santo.
O terreiro estava lotado. Então os tambores soaram ritmados e as rezas foram puxadas com devoção e alegria. Logo o terreiro estava cheio de encantados e voduns, que vieram para homenagear São Benedito, assim como receber bênçãos e abençoar o povo todo presente.
E Pai James nos relatou a alegria de sua mãe e sua de receberem no seu terreiro São Benedito como um oferecimento e reconhecimento de estima e amizade dos outros axés:
Na realidade, a tradição da casa do Gilmar, a devoção que ele tem com São Benedito. Essa devoção que ele tem, que todos nós temos. Esse ano foi escolhida a casa de Oxum, de Mãe Vera de Oxum, que é minha mãe carnal. Essa casa foi escolhida para receber São Benedito. O meu catiço, seu Josiano, é o padrinho disso tudo.
E Pai Gilmar trouxe ao salão a cabocla Braba, na coroa de Mãe Vera, que também veio prestar suas ao santo negro São Sebastião.
Tambor de Mina quando rufa lá nas matas
Ele é de Mina! Ele é de Nagô!
Quem também estava presente era a conhecida e respeitada Mãe Lucimar, reverenciada por todos como uma das mais antigas e experientes zeladoras de santo de Manaus, que, segundo Pai James, também recebe seu Josiano, e vem à festa na casa de Pai James para apreciar ele incorporado em outra coroa.
Seu Josiano, na verdade, impressiona a todos pela disposição, pela alegria contagiante, pelo humor cortante, pelos vigorosos movimentos na dança, pelo gosto ritmado do toque, que exige de seus alagbês sempre estarem atentos á batida forte e o ritmo do tambor. Pai James dá algumas informações:
Seu Josiano é um príncipe de Nagô, filho de um rei de Nagô. Fizemos uma festa para receber o santo, e no outro dia fomos entregar o santo de volta à casa dele, Pai Gilmar.
Se seu Josiano joga o chapéu no chão, seus filhos, de um por um vão sambando ao redor.
Eu sou maquinista do trem
Vou embora pro sertão
Que eu aqui não me dou bem
Viola, meu bem! Viola!
Viola, meu bem! Viola!
E quando seu Josiano abre a roda, todos, sejam do santo ou convidados, todos têm de dançar, animando a festa na ginga no pé e nas palmas das mãos.
E assim, nesse pique, a festa continuou madrugada a dentro, até que seu Josiano chamou Mãe Lucimar para segurar suas mãos enquanto ele ia da coroa de Pai James, sabendo que logo mais retornaria, pois já era dia de levar São Benedito de volta à casa de Pai Gilmar.
Amanhã, aqui neste bloguinho, o traslado de São Benedito de volta ao Ylê Axé Sesu Toyãn.
●●● MÃE VERA D’OXUM e PAI JAMES D’OGUM ●●●
Rua Suiça, nº 826 — Grande Vitória (Manaus-AM)
Telefone: (92) 9977-2393
oá muito lindo a vc meu primo jamis mais axé em sua casa.