LANÇAMENTO DA CAMPANHA “NÃO À HOMOFOBIA” E CARTILHA DA CIDADANIA AGITAM MANAUS

Maninhas, quem não foi perdeu, e quem foi quer ir de novo! O lançamento regional da campanha “Não à Homofobia”, que reuniu diversos grupos do segmento LGBT e outros movimentos sociais no auditório da ALE, ontem pela manhã, bombou!

O evento, organizado pelos movimentos sociais e pelo Centro de Referência em Direitos Humanos de Prevenção e Combate à Homofobia “Adamor Guedes”, foi uma festa de confraternização. Com direito a algumas revelações que ilustram bem o grau de comprometimento de setores do governo em relação às demandas da população. No entanto, o que prevaleceu foi a alegria, a solidariedade, o humor, a ternura das pessoas que ali estavam, e que foram com o objetivo de conhecer e colaborar com a campanha.


Ilustríssimo, descolado e engajado, o companheiro Francisco Nery, membro da ONG Katiró, coordenador do núcleo de estudos e pesquisas relacionadas à orientação sexual e identidade de gênero e um dos organizadores do encontro, falou a esta colunaaaaaaça sobre os objetivos e sobre a campanha “Não à Homofobia”:

. . . . . . O que a gente está fazendo aqui hoje é o lançamento da campanha “Não à Homofobia”, que é uma campanha que foi idealizada pelo grupo Arco-Íris, do Rio de Janeiro, na parada do ano passado. E o que a gente quer com essa mobilização? É colher assinaturas virtuais no site www.naohomofobia.com.br, onde a gente está pedindo a aprovação do PLC 122/06, que pune qualquer discriminação por orientação sexual e identidade de gênero. Este é um projeto que o movimento social está enfatizando bastante porque hoje, no Brasil, a cada 3 dias, um homossexual é morto, e pra gente, esse projeto vai ser de suma importância para a criminalização da homofobia. E a gente também detectou em uma pesquisa recente, da UNESCO, que a escola também tem um índice de 40% de preconceito contra os homossexuais. E o que a gente quer é colher as asssinaturas virtuais, onde estas assinaturas vão direto para a caixa de mensagens dos senadores, que é no Senado que o projeto de lei está tramitando. Hoje, este projeto já passou pela CAS, que é a comissão de assuntos sociais, está na CCJ (comissão de constituição e justiça) e depois vai para a de direitos humanos. Depois disso, vai à votação. A gente está articulando as nossas bases nos estados e nos municípios através da bancada parlamentar LGBT. Este projeto de lei vai dar um respaldo, tanto político quanto como um marco legal que a gente vai estar, a partir deste, enfatizando outros, como o da união civil de pessoas do mesmo sexo, e assim sucessivamente, porque ele vai embasar, dentro da constituição federal do Brasil, assim como ocorreu em outros países, políticas públicas para a população LGBT”.

Aqui nesta colunaaaaaaça, você já tinha visto sobre a campanha, e que a meta de conseguir o milhão de assinaturas ainda não foi atingido. Em aliança com as entidades LGBT de Manaus e do Brasil, este bloguinho vai disponibilizar na sua barra lateral o banner da campanha, para que você possa assinar e indicar para os amigos. Procura aí do lado, ó.

OS DIREITOS HUMANOS DO DEMASIADO HUMANO LAURIA

O secretário de justiça, Lélio Lauria, convidado de honra do evento, em seu discurso, sequer tocou no lançamento da campanha. Com a placa do evento, anunciando a campanha às suas costas, o secretário aproveitou para evidenciar o tipo de entendimento sobre movimentos sociais e sobre a população LGBT que o governo Braga carrega. O mesmo governo que não se move para dar um final ao processo da morte do ex-presidente da AAGLT, Adamor Guedes – cujo nome batiza o importante centro de referência – mesmo após quatro anos de sua morte. O secretário aliás, não sabia informações sobre o caso, o que demonstra a falta de preparo para o evento, em se tratando de um dos temas mais recorrentes do movimento LGBT de Manaus e do país.

Outro aspecto que chamou a atenção desta colunaaaaaaça na fala do secretário foi quando ele afirmou que a secretaria, durante muito tempo, ignorou os movimentos sociais, e se concentrava nas rebeliões de presídios – muitos dos quais, segundo ele, com motivação eleitoral. Um viés punitivo em detrimento da prevenção? Outro dado preocupante e revelador: o secretário, ainda em sua fala, revelou ser possível e até necessário que estes mesmos direitos humanos, direitos universais inalienáveis, defendidos na campanha e na cartilha, podem, a depender da situação, ser suspensos em nome da ordem. O secretário fez esta afirmação quando falou sobre as rebeliões nos presídios estaduais. Em nenhum momento ele se referiu, por exemplo, à superlotação ou às torturas praticadas por agentes penitenciários e/ou presidiários em colegas.

Ainda, sobre a questão da negação da utilidade pública à Associação das Prostitutas do Amazonas (que você acompanhou nesse bloguinho, aqui e aqui), Lauria demonstrou falta de sintonia, ao afirmar que a secretaria ainda não se pronunciou oficialmente sobre o fato: se houve a coletiva de imprensa na segunda-feira passada, anunciada a este bloguinho pela companheira Sebastiana, então o chefe não está em sintonia com os subordinados. Se não houve, a secretaria não está em sintonia com a sociedade e suas demandas.

A FORÇA ENGAJADA DA DRA. MICHELLE

Na mesma secretaria, no entanto, a Dra. Michelle Custódio, coordenadora do Centro de Referência Adamor Guedes. Querida de tod@s e atuante na defesa dos direitos humanos, Michelle falou sobre a importância da Cartilha da Cidadania:

. . . . . . Com a cartilha, eles têm acesso a toda informação sobre violência, sobre direitos humanos, sobre saúde, sobre os locais que devem procurar em caso de violação dos direitos. Este trabalho é o resultado da luta dos movimentos sociais. Não só gays, lésbicas, travestis e transsexuais, como as prostitutas também. Tem material aqui para todos os segmentos sociais, para que todos usem e efetivem seus direitos de cidadão. Isto é o mais importante. É por isso que este material saiu, e vocês têm um documento que vocês podem usar, até mesmo em caso de extrema necessidade, em prisão legal ou ilegal, vocês têm em mãos um habeas corpus. Então é para que vocês façam uso, e um bom uso deste material, na defesa dos direitos de cidadão”.

Michelle também revelou a este bloguinho que a Escola Estadual Cleomenes do Carmo Chaves, localizada no Jorge Teixeira III, zona Leste de Manaus, será a escola piloto do projeto de combate à homofobia nas escolas. Michelle participará do III Encontro Nacional da ABGLT, na aprazível Belém, do queridíssimo amigo Mauro, homoerótico engajadíssimo e filosofante e de tantos outros, da qual trará experiências e o modelo a ser adotado pela SEJUS. Alô alô Eduardo ‘Copa 2014’ Braga, mais uma vitória do Grão Pará, sede de eventos nacionais e internacionais. Se a copa sobrar por estas bandas, é sinal de que, como diz o pessoal do ‘Chagão!’, o futebol acabou mesmo, hihihihihi…


Para quem não lembra, a Escola Cleomenes do Carmo Chaves foi onde ocorreu o episódio de homofobia institucional com a queridíssima Paola Bracho, conhecida por alguns como Alex, que foi enunciado (não é denúncia, é enunciação democrática) por este bloguinho (você pode ler aqui, aqui e aqui, meu bem. Coloca o dedinho aí, vai…).

A POTÊNCIA DESEJANTE DA DIVERSIDADE: WEYDMAN É MOVIMENTO SOCIAL, BABY!

Weidman Lopes, da ATRAAM, engajada e atuante militante LGBT, é do movimento social. Sabe, portanto, que aos governos, em sua maioria, e mais ainda em Manaus e no Amazonas, interessa a imobilidade. Sua fala é fortalecida pelas demandas, sempre presentes, de gays, lésbicas, travestis, transsexuais, prostitutas… Alguém que sabe reconhecer as conquistas, resultado do suor e da luta, mas que não se permite capturar pela sedução dos signos do marketing:

. . . . . . O momento é de alegria e de imensa emoção da minha parte, em estar presenciando mais uma manifestação, o lançamento de uma cartilha, e eu não poderia deixar de colocar aqui o nome do Adamor [Guedes], que graças à ele, ao fato que aconteceu com ele, há quatro anos atrás, hoje há um centro de referência, lutando contra qualquer tipo de preconceito, seja de ordem de gênero, cor, raça, enfim”.

Eu não poderia deixar de narrar aqui o fato que aconteceu na câmara com as prostitutas. Vamos lembrar a todos e todas que ano que vem é um ano político. Sou travesti, tenho orgulho, sou gay, tenho orgulho, sou lésbica, tenho orgulho, sou transsexual, tenho orgulho. A arma que vocês mais têm na mão é o voto de vocês. Então não se deixem levar, pode até parecer algo patético da minha parte, mas não é, a coisa é séria mesmo. É preciso se conscientizar que ano que vem é ano político e ver quem são realmente as pessoas que nós vamos colocar para nos representar, seja na câmara municipal, na assembléia ou na câmara federal. Por que se não tem pessoas que se identifiquem com a nossa causa ou qualquer causa que seja, fica complicado você estender a mão e votar numa pessoa dessas. Então é pensar direito em 2010 em quem você vai votar, para não acontecer o que aconteceu na câmara, mas isso é um outro processo, com o tempo a gente vai dar entrada novamente com as meninas lá na câmara, para tentar tirar a utilidade pública, porque é salutar, tem todo um trabalho social que elas fazem na rua com as prostitutas, assim como eu também faço com as travestis”.

Um momento como esse, em que a gente vê que são poucas as pessoas que estão aqui, e quem trabalha com eventos sabe o trabalho que dá organizar um como esse. Eu organizo junto com a Bruna [La Close] a parada do orgulho LGBT, e você vê a quantidade de gente que dá. Quando é um evento político, poucas pessoas se fazem presentes. Eu quero aproveitar e fazer uma cobrança à Michelle: a assembléia aprovou a lei que pune quem discrimina por orientação sexual, por unanimidade, agora só falta a regulamentação”.

A HOMOFOBIA (FOBIA MESMO…) DOS DEPUTADOS ESTADUAIS…

Humoristicamente, os deputados estaduais que estiveram presentes ao evento, mostraram a ausência de qualquer entendimento democrático, além da homofobia presente nas falas.


Perceptível e palpável, por exemplo, a indelicadeza dos deputados: dando boas vindas aos “visitantes”, praticamente todos os que falaram deram boas vindas, como se anfitriões o fossem dos movimentos sociais na Assembléia Legislativa. Curiosa inversão dos papéis: em uma democracia, o parlamento é a casa do povo, e os convidados são os parlamentares, convivas com data marcada de entrada e saída – o mandato. São provisoriamente ocupantes das cadeiras. Mas a casa é do povo. Não é o caso da ALE, ao menos na opinião de Terezinha Ruiz (DEM), Ricardo Nicolau (PR), Chico Preto (PMDB) e José Lobo (PCdoB).

Terezinha Ruiz, a primeira das parlamentares (parla-a-lamentar), aproveitou para demonstrar que carrega os mesmos códigos dos colegas vereadores, que vetaram a utilidade pública às Amazonas: falou em fé, compaixão, caridade, amor ao próximo, numa perspectiva bem paulina. Chico Preto e Ricardo Nicolau ensaiaram um discurso que mostrou a falta de intimidade com o tema e com o assunto tratado no evento. Mas a estrela foi o deputado José Lobo. Visivelmente constrangido e temeroso, ele titubeou, gaguejou, desarticulou uma fala breve, que encerrou com uma frase epitética: “as pessoas também são seres humanos”.

Calma, seu Lobo, que as ovelhas não mordem!
Calma, seu Lobo, que as ovelhas não mordem!

Risível ainda é a nota da assessoria de comunicação da ALE, que coloca o deputado Nicolau como presidente da mesa, e reduz a pluralidade dos movimentos sociais presentes ao ato à fala da Dra. Michelle. Faltaram Weydman, Francisco, Gislândia e tantos outro… Confira lá, se tiver estômago.

E O HUMOR REVOLUCIONÁRIO DO MOVIMENTO LGBT.

Uma anedota do final do evento: ao verem o deputado Carlos Alberto (PMN) que chegou ao evento no apagar das luzes, saindo à francesa, dois militantes, Fábio e Jeferson, munidos de uma bandeira do arco-íris, resolveram promover um encontro entre o movimento LGBT e a dogmática neo-paulina (Carlos Alberto é pastor da Igreja Universal). Tentando ser simpático, Carlos Alberto posou para a fotografia ao lado dos lindinhos. Mas abraçar, não senhor!


OS MOVIMENTOS SOCIAS SE CONGREGAM E CONFRATERNIZAM

Um dos objetivos do trabalho das associações e entidades LGBT em Manaus é o de costurar alianças com outros movimentos sociais. Assim nos explica o companheiro Francisco Nery:

. . . . . . “Eu coordeno o projeto Aliadas aqui no Amazonas, que é um projeto também financiado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) e tende a fortalecer o movimento, não só falando com o movimento LGBT, mas também com outros, como o movimento estudantil, de mulheres, sem-terra, indígena, porque todos têm que saber qual a relação que a homofobia tem com eles, e como eles podem estar contribuindo no combate a essa discriminação por orientação sexual e identidade de gênero. Então a gente acredita muito nesse fortalecimento da sociedade civil com outros movimentos sociais. E a gente trabalha na perspectiva de horizontalidade e verticalidade de qualquer maneira, de todos, para todos e todas, que passem a falar sobre o que é homofobia, o que é homossexualidade, que não é homossexualismo, que não é opção, é orientação sexual e identidade de gênero, e a gente repassa isso para os outros movimentos para que eles também possam falar a nossa linguagem, e fazer o feedback. O interessante é esta relação que a gente vai ter com eles”.

Neste ritmo democratizante, de transbordamento desejante das enunciações LGBT, conversamos com a duplamente bela (linda e engajada, ai…) companheira Gislândia Batista, presidente do Diretório Acadêmico de Tecnologia, da UEA, e representante da UNE no evento:

. . . . . . Hoje, no lançamento da cartilha e da campanha contra a homofobia, estamos aqui, com a satisfação de estar representanto o segmento estudantil. Dentro da universidade nós temos grupos de discussão sobre este assunto, que para nós é tão importante quanto a causa das mulheres. A gente tem a Lei Maria da Penha, que trouxe essa abrangência para o grupo das mulheres, mas a gente precisa avançar no segmento LGBT. Temos feito algumas discussões nas universidades, participamos dos eventos e campanhas, para fazer a ponte com os estudantes, e estes levem a informação correta”.

E com que alegria encontramos as companheiras d`As Amazonas! A queridíssima Sebastiana aproveitou para atualizar este bloguinho sobre as últimas da utilidade pública. De acordo com o que ela contou, a entrevista dada a este bloguinho deu o que falar, e fez até milagre. Um vereador – cujo nome ela não revelou – aparentemente da turma do Deus Bushiano, mudou de lado e até se ofereceu para apresentar novo projeto de utilidade pública. Pode? Pode, claro. Contra a potência democrática, não adianta a hipocrisia e a estreiteza intelectiva, bobinh@s. A fala da companheira Sebastiana, forte e verdadeira, mostrou que necessárias são elas, e acessório dispensável é a própria CMM. Eles sentiram a brisa, neném… A brisa e a ponta da flecha intensiva d`As Amazonas! Te mete!


PROGRAMAÇÃO DO ABAIXO-ASSINADO ELETRÔNICO

Aproveitamos para divulgar aqui as datas e horários em que as equipes estarão nos shoppings da cidade, recolhendo assinaturas. É fácil e rápido! E você pode assinar aqui pelo bloguinho também, se shopping não for a sua praia. Se for, escolha aí qual você quer, e assine pela criminalização da homofobia, baby! Um cheiro e até domingo!

18 e 19 de Abril:

Shopping São José

Horário: 10h às 22h

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25 e 26 de abril:

Shopping Studio Cinco

Horário: 10h às 22h

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02 e 03 de Maio:

Shopping Grande Circular

Horário: 10h às 22h

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09 de Maio:

Millenium Shopping

Horário: 10h às 22h

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16 e 17 de Maio:

Manaus Plaza Shopping

Horário: 10h às 22h

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23 e 24 de Maio:

Manauara Shopping

Horário: 10h às 22h

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