agbr-x-folhaNum trabalho coordenado por Michel Foucault denominado Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão, Robert Castel analisa o recorte semiótico que os juízes e os psiquiatras operam, enquanto poder, para se apropriar do corpo de Pierre Rivière: a guilhotina da justiça ou o asilo dos loucos.

Transpondo a questão para o século XXI, fazendo uma semiocrítica, encontram-se uma e outras vezes, o mesmo fato sendo semioticamente recortado para servir a notícias, inúmeras vezes, extremamente opostas. E sem nada a ver com o maniqueísmo bem/mal, muito menos com a coexistência oriental yung/yang. Nos tempos da velocidade da cybercultura, como diria Paul Virilio, é fundamental uma análise real do fato antes de tomá-lo como verdade à primeira impressão, que, neste caso, nunca é a que deve ficar.

Um exemplo pode ser verificado num estudo comparativo entre a reportagem da sequelada Folha de São Paulo e da Agência Brasil, de ontem à tardinha, sobre a questão envolvendo a concessão de seguro-desemprego nos três primeiros meses do ano. A notícia da Agência Brasil é de 17h11, e diz que houve queda na concessão do seguro-desemprego, enquanto a notícia da Folha, de 18h59, enfatiza a subida de 7,9% nos pedidos do benefício. É preciso analisar a questão?

Primeiro, a Agência Brasil coloca o nome de quem fez a afirmativa: o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi. No caso da Folha, a matéria é assinada por Eduardo Cucolo, citando o Ministério do Trabalho e Emprego. Ministro e Ministério sendo separados e tomados para fins diversos.

Mas recomecemos através dos números apontados por ambos.

AGÊNCIA BRASIL:

O seguro-desemprego contou em março com 585.255 requerimentos, contra 597.811 em fevereiro e 727.723 em janeiro. No mês passado o custo foi de R$ 1,452 bilhão, contra R$ 1,380 bilhão em fevereiro e R$ 1,513 bilhão em janeiro. O número de concessões do mês passado também chegou a ser menor que o de março de 2008, quando houve 594 mil pedidos.

FOLHA DE SÃO PAULO:

A maior diferença se deu em janeiro, reflexo do número recorde de demissões de trabalhadores com carteira assinada no último mês do ano passado (654 mil vagas fechadas). No primeiro mês deste ano, foram cerca de 200 mil pedidos a mais. Em fevereiro, os números ficaram mais próximos. Foram 580 mil pedidos, ante 534 mil no mesmo mês de 2008. Em março, houve uma redução no número de pedidos na mesma comparação (de 582 mil para 566 mil).

REALIZANDO UM QUADRO COMPARATIVO, com números do site do Ministério do Trabalho e Emprego, baseado nos dados mensais do Cadastro Geral de empregados e Desempregados (Caged):

………. ANO 2008 ………………….. ANO 2009

JAN …. 599.590 ……………………… 705.737

FEV …. 534.019 ……………………… 579.842

MAR582.464 …… ………………… 566.140

O ponto de vista é de quem recorta. Um sequelado “jornalista” da murcha Folha dirá que o todo é maior do que a soma das partes numa falsa gestalt senso-comum. Comuníssimo à Folha. Mas será lucidamente contestado pelo repórter da Agência Brasil, Lourenço Canuto, que percebe a questão não como dado morto, mas como uma questão prática.

Lula disse que havia quem tivesse rezando durante toda a quaresma para a crise afetar cronicamente o Brasil. Dados como esse só revelam que a falsa crise (pois não traz nada de novo, apenas a reestruturação do sistema capitalista) não afetará a inteligência prática do governo Lula.

Enquanto, no Pierre Rivière, os poderes estão essencialmente na mesma linha, neste caso, a Folha tenta fazer terrorismo noticiático, a Agência Brasil segue, eticamente, como serviço público, compartilhando notícias (=novidades) com o povo brasileiro.

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