A EDUCAÇÃO DO GOVERNO DE SÃO PAULO E OS “DOIS PARAGUAIS”

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Um saber é constitutivo de uma potência-ativa quando seus elementos semióticos transportam territorialidades que permitem um movimento intensivo que permita às pessoas alcançarem um grau mais alto de potência: somente um saber que liberta é saber.

A função educativa, quando se faz num plano democrático (de outra forma não é educação), estabelece nas territorialidades construídas a possibilidade de transbordar numa outra existência, ampliando a consciência e compreendendo melhor o mundo ao redor. Daí um saber desconectado da realidade coletiva não ser mais que um recurso patológico da sociedade de consumo.

Tal como a educação de governo amazonense (que só encontra elogios na pariceira Istoé, amiga do governo Braga), a educação paulista vive mais do vazio do marketing do que de produções intensivas materiais e imateriais. Rescaldo da política governamental de esvaziamento da escola pública – com uma pausa na gestão de Marta Suplicy – as escolas paulistas, de modo geral, não traduzem para seus alunos a sociedade onde eles vivem.

O grau de desterritorialização do real (quando um signo se desprende daquilo que o torna coletivamente inteligível, e só resta uma imagem sem referente) chega a tal ponto na produção do hiper-real na educação paulista, que alunos das escolas públicas receberam material de ensino de geografia onde a representação gráfica da América do Sul mostra Paraguai e Uruguai em posições invertidas, além de um “clone” do país de Fernando Lugo.

Fosse um requinte educacional, para falar de um Paraguai “pré-Lugo” arrasado pela economia de mercado do consenso de Washington, e um outro, que elegeu o presidente-bispo e pretende acabar com décadas de domínio monopartidário, até estaria valendo. No entanto, a questão é mesmo de ordem do erro factual.

Mais revelador da (des)educação paulista do governo Serra é o grau de alienação dos agentes envolvidos no imbróglio: enquanto a secretaria estadual de educação culpa a fundação que produziu o material, enquanto mantém no seu site uma nota de errata que só pode ser acessada pelos diretores de escola, a fundação responsável pela confecção do material rebate, afirmando que os professores que elaboraram o material foram indicados pela própria secretaria. No meio deste empurra-empurra, perdida mesmo, fica a educação.

A mesma educação que passou pelas mãos da iniciativa privada de forma predatória na gestão Paulo Renato de Souza, no octênio FHC, e que, não por acaso, numa gestão tucana no Rio Grande do Sul, pretende desmontar as escolas do MST, por disseminarem “perigoso conteúdo marxista”.

O que é assustador no caso do Paraguai invertido não é o fato do mapa estar de ponta-cabeça, mas da educação de governo paulista não conseguir perceber que ela própria está fora do mapa da existência de seus estudantes.

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