Um regime ditatorial não é somente o encerramento de direitos civis, mas a negação da própria Vida, das complexidades, multiplicidades e variações das singularidades que tornam real a existência da multidão. O regime ditatorial impõe à existência a pior imundície no mundo: a identidade. Tem como dever impedir a liberdade, o desejo e o trabalho ativo. A produção da Vida, a alegria, o riso, a beleza, o sorriso. Imobilidade tanática.

O jornalão Folha de São Paulo, representante do jornalismo molar, o qual não compreende a responsabilidade do jornalismo como uma práxis cívica, movimentadora da palavra que quebra a ordem disciplinar e controladora estacionária e cria novas relações de saberes, mais uma vez confirmou sua vocação ditatorial deteriorando os anos de chumbo no Brasil com “o estelionato semântico manifesto pelo neologismo ‘ditabranda’”.

Abaixo o Manifesto de Repúdio à Folha de São Paulo.

REPÚDIO E SOLIDARIEDADE

“Ante a viva lembrança da dura e permanente violência desencadeada pelo regime militar de 1964, os abaixo-assinados manifestam seu mais firme e veemente repúdio à arbitrária e inverídica “revisão histórica” contida no editorial da Folha de S. Paulo do dia 17 de fevereiro último. Ao denominar “ditabranda” o regime político vigente no Brasil de 1964 a 1985, a direção editorial do jornal insulta e avilta a memória dos muitos brasileiros e brasileiras que lutaram pela redemocratização do país.

Perseguições, prisões iníquas, torturas, assassinatos, suicídios forjados e execuções sumárias foram crimes corriqueiramente praticados pela ditadura militar no período mais longo e sombrio da história política brasileira. O estelionato semântico manifesto pelo neologismo “ditabranda” é, a rigor, uma fraudulenta revisão histórica forjada por uma minoria que se beneficiou da suspensão das liberdades e direitos democráticos no pós-1964.

Repudiamos, de forma igualmente firme e contundente, a “Nota de redação”, publicada pelo jornal em 20 de fevereiro (p. 3) em resposta às cartas enviadas à seção “Painel do Leitor” pelos professores Maria Victoria de Mesquita Benevides e Fábio Konder Comparato. Sem razões ou argumentos, a Folha de S. Paulo perpetrou ataques ignominiosos, arbitrários e irresponsáveis à atuação desses dois combativos acadêmicos e intelectuais brasileiros. Assim, vimos manifestar-lhes nosso irrestrito apoio e solidariedade ante às insólitas críticas pessoais e políticas contidas na infamante nota da direção editorial do jornal.

Pela luta pertinaz e consequente em defesa dos direitos humanos, Maria Victoria Benevides e Fábio Konder Comparato merecem o reconhecimento e o respeito de todo o povo brasileiro”.

Assinam:

Antonio Candido, professor aposentado da USP

Margarida Genevois. Fundadora da Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos

Goffredo da Silva Telles Júnior, professor emérito da USP

Maria Eugenia Raposo da Silva Telles, advogada Andréia Galvão, professora da Unifesp

Antonio Carlos Mazzeo, professor da Unesp

Augusto Buonicore, doutorando da Unicamp

Caio N. de Toledo, professor da Unicamp

Cláudio Batalha, professor da Unicamp

Eleonora Albano, professora do IEL, Unicamp

Emir Sader, professor da USP

Fernando Ponte de Souza, professor da UFSC

Heloisa Fernandes, socióloga

Ivana Jinkings, editora

Marcos Silva professor titular da USP,

Sérgio Silva, professor da Unicamp

Patricia Vieira Tropia, Universidade Federal de Uberlandia

Paulo Silveira, sociólogo

Para assinar o manifesto, clique aqui.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.