AMAZONINO E HENRIQUE OLIVEIRA: A MISÉRIA DOS CASSADOS
Ontem, no programa tele-miserabilista Fogo Cruzado, apresentado nada menos do que pelo até então vereador Henrique Oliveira (PP), estava o prefeito temporário de Manaus, Amazonino Mendes (PTB). Claro que as condições da tela não ficaram das melhores por causa da babação recíproca. Pontuamos aqui alguns momentos do tele-miserável, para ficar registrado como estudo de caso para uns ou deleite risível para outros, sendo mais uma demonstração do escrachado cúmulo a que chegou a politicopatia manoniquim.
O PREFEITO INCAPAZ. Amazonino já iniciou reconhecendo sua incapacidade. Ao ser questionado sobre as dificuldades encontradas no início da gestão, afirmou que às vezes fica “desanimado” devido a tantos problemas, à falta de verbas. Como não leu Spinoza, não sabe que o desânimo é a tristeza nascida do fato de o homem contemplar a si mesmo e à sua incapacidade de agir.
DUPLA DESTRUTIVA. Continuando a cena anterior, desanimado, Amazonino tentou contemporizar com um dito: “Se você tem um edifício malfeito…” Mas parecendo também desmemoriado, Henrique Oliveira teve de completar: “…é melhor desabar para reconstruir.”
Tão desmemoriado, Amazonino esquece que quem fez o prédio “malfeito” não foi Serafim, mas o próprio Amazonino, que foi prefeito por duas vezes (fora os três governos e o senado) de Manaus e que, até Serafim, a prefeitura vinha nas mãos de “filhos” políticos seus. Agora imagina essa dupla — um o prefeito e o outro o vereador “mais votado” — como num filme hollywoodiano a desabar a cidade para reconstruí-la. Confia?
AUTOINCRIMINAÇÃO. Atenção Ministério Público, ao afirmar que a redução de 20% no IPTU já está em execução, que é “promessa cumprida”, entende-se que Amazonino se autoincrimina. Uma vez que a promessa foi considerada como expediente de “compra de voto” e proibida pela Justiça eleitoral, ela não poderia de forma nenhuma ser usada como cumprimento de promessa.
FIM DOS CONTRATOS. Assim como a demissão dos estagiários não estava contratada de antemão nos tempos da campanha eleitoral, Amazonino falou que bem poderia demitir logo esses contratados que estão inchando a prefeitura, mas disse, categoricamente, que vai esperar o final do contrato e não contrata mais. Outra promessa cumprida!
DESVIO DE FUNÇÃO OU DEMAGOGIA? Aproveitando uma senhora que foi, escolhidamente, ao programa denunciar um aumento imenso no aumento de sua conta de água no final do ano passado. Amazonino, aproveitou para dizer que vai montar um serviço na prefeitura só para analisar esses casos e assegurou: “A senhora pode dizer: ‘Eu já tenho um advogado’. Tá aqui o Negão.”
Sim, Amazonino é formado em Direito (de atuações suas na função nada conhecemos, a não ser a trapalhada que seus próprios advogados fizeram durante o processo de cassação), mas daí colocar-se como advogado particular de pessoas — além do fato do pré-julgamento, sem contar a falta de uma devida investigação e análises jurídicas do caso — é desvio da função de prefeito ou mera demagogia. Quanto ao fato de intitular-se “Negão”, deixemos que os movimentos de negritude se apresentem para analisar.
ELOGIO DEGRADANTE. O de-compositor Tom Zé diz que a homenagem sempre denigre o homenageado, já que o coloca sob a tirania do outro. Vejamos este caso. Quando Henrique Oliveira puxa a questão daquilo que chama “perseguição política” e que “dificultou a transição”, Amazonino usa o próprio entrevistador para exemplificar, dizendo, entre muitas outras lambeações, que foi “um homem que ganhou de forma humilde”, que “é um intelectual” e que “tem muito espírito público”. Ele ainda cortou Amazonino para dizer que em si a perseguição era tanta que afetou-lhe a saúde.
Outra vez sem ter lido Spinoza, Amazonino não sabe que: “A humildade (Humilitas) é a tristeza nascida do fato de o homem contemplar a sua impotência ou a sua fraqueza.” Sabendo-se ainda que Henrique Oliveira omitiu ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AM) ser funcionário, técnico judiciário, do Poder Judiciário Eleitoral, inscrevendo-se à disputa eleitoral como jornalista, Amazonino confundiu inteligência com inteligência para negócios privados em lugares públicos. Numa coisa Henrique Oliveira está certo, não foi por acaso que ele enfartou e Amazonino teve um mal-estar justamente na semana que o CNJ estava no Amazonas.
DESTITUIÇÃO DA JUSTIÇA. Essa é daquelas que os jornalões chamam de “pérola”. Deixamos para o final, a enunciação do entendimento que Amazonino tem em relação à Justiça, feito numa espécie de sapiente arremate: “A Justiça nem sempre é Justiça. A Justiça é humana, tem seus erros. A gente passa por cima e segue em frente…” Grifos nossos.
Desse enunciado, podemos fazer duas inferências sobre duas confissões de Amazonino: uma, como havia chamado anteriormente de “perseguição política”, ele confirma que a política entrou pela porta da Justiça, o que é na verdade uma confissão, sabendo-se que as únicas suspeitas nesse sentido são que o TRE-AM, encabeçado pelo seu presidente, Ari Moutinho “Pai”, e pela desembargadora Graça Figueiredo, tenha aberto de par em para as portas para as manobras dele para ser diplomado e assumir como prefeito a partir de liminar. Duas, Amazonino confessa seu autoritarismo-despotismo, acreditando-se (fantasiosamente, é claro) estar acima de tudo. Deus.
Em todas essas abstrações fantasiosas, Amazonino esqueceu que o povo — não a quimera manipulável em suas palavras, mas o povo criativo de novas formas de governo e de cidade — vê e age, que existem pessoas reais, éticas, lúcidas, incorruptíveis, como a juíza Maria Eunice Torres do Nascimento e o procurador Edmilson Barreiros Junior, que vão colocando a Justiça de volta por onde a política a havia expulsado, como na frase de Guizot citada por essa digníssima juíza. Na verdade, vai-se criando, com essas iminentes cassações, em muitos anos em Manaus possibilidades de se colocar a política até então onde só existiam corrupção, jogatina, falseações, simulações, violentações… Vazio.