LULA E PRESIDENTES DA AMÉRICA DO SUL DESMISTIFICAM A CRISE NO FSM AMAZÔNIA 2009

Os 5 no Hangar 01 por você.

Desde cedo, no Hangar Centro de Convenções, a fila de pessoas, inscritas ou não no Fórum Social Mundial, já era grande. Tudo para garantir um lugar para ver e ouvir Lula, Chávez, Lugo, Moralez, Corrêa, Ana Júlia e outros convidados pelo Instituto Paulo Freire, pela CUT e pelo Ibase, que juntas organizaram o debate. Em foco, a alcunhada crise mundial e as iniciativas governamentais para que seus efeitos sejam minimizados na América do Sul.

Na coordenação da mesa, Cândido Grzybowski, diretor-executivo do Ibase, explanou sobre os objetivos do encontro: que cada presidente ou membro da mesa apresentasse, em curto discurso, um balanço das ações de seu governo ou entidade em relação à crise financeira que ameaça os empregos no mundo todo.

A primeira a falar foi a governadora Ana Júlia Carepa, que foi aclamada pelo público. Ao anunciar os presentes, saudando-os, Ana provocou vaias da platéia ao citar o nome do prefeito de Belém, Dulciomar Costa, mas levou a mesma platéia ao delírio ao citar a presença da chefe da casa civil, Dilma Rousseff. Ao cumprimentar os prefeitos presentes, a governadora citou o caso da prefeita cassada de Santarém (já citado neste Bloguinho aqui), e conclamou aplausos à prefeita, alegado que seu único pecado foi fazer um concurso público e ser nomeada procuradora. Ana Júlia equivoca-se, quando desfaz de uma decisão soberana do TSE, que nada mais fez do que preservar as regras do jogo democrático, seja na prefeita de Santarém ou no vereador mais votado de Manaus. Em seu discurso, falou da aproximação do seu governno com as idéias dos governos de esquerda da América do Sul, dos avanços e dificuldades de seu governo. Festejou com o público a perda e a conquista de um título: o Pará deixa de ser o campeão de conflitos de terras para se tornar o estado que mais tem diminuído a quantidade de casos do tipo. Foi muito aplaudida, ao lançar a candidatura da cidade de Belém para receber novamente o FSM na nova edição.


Em seguida, diretamente de Burkina Faso, a presidente da Confederação Sindical Internacional, que alertou para a necessidade de “construir uma verdadeira solidariedade mundial frente à crise”, e arrancou aplausos ao defender a necessidade de ampliação dos direitos trabalhistas como forma de diminuir os efeitos da crise financeira.

Em nome das plantas, dos rios, dos animais, dos seres viventes”, o FSM recebeu representante dos povos indígenas do Equador. Em seu discurso, ela mostrou que a chamada crise financeira é o resultado do modo de existência do homem branco, que dá as costas à natureza, fazendo do mundo o seu próprio inimigo.

O aborto, as condições de trabalho na amazônia e a importância da valorização da mulher nas políticas públicas tomou a pauta anti-crise, na participação da representante dos movimentos sociais.

Evo Moralez, presidente da Bolívia, apresentou quatro proposições para combater a crise, dentre elas, defendeu uma mudança radical nos padrões de consumo, a fim de que se possa eliminar o predatismo econômico. “Ou acabamos com o capitalismo, ou o capitalismo acaba com o povo”, afirmou. Evo citou ainda o massacre de Gaza como uma prova de que o imperialismo ainda resiste, e a despeito de seus próprios erros, pretende perpetuar a violência e as desigualdades sociais.

Em um longo discurso, o presidente Rafael Corrêa fez uma defesa apaixonada do Socialismo do Século XXI, como a única alternativa que se contrapõe com eficiência ao neoliberalismo. Ele lembrou que a América do Sul foi um grande laboratório para o neoliberalismo, e defendeu a pluralidade cultural e a necessidade de se criar um país que proteja e incentive as diferentes culturas que residem nele. Ele citou como exemplo a nova constituição equatoriana, que garante direitos iguais e proíbe qualquer tipo de discriminação.


Ao discursar, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, questionou a ausência de responsabilização internacional daqueles que criaram esta crise. Ele disse que se fossem os pobres os responsáveis, certamente estariam presos. Segundo ele, os países desenvolvidos atribuem a crise aos efeitos estruturais do capitalismo, quando ela é resultado da exploração e da ineficiência do sistema em criar um mundo melhor para todos. E convocou uma assembléia geral internacional para discutir o futuro do mundo. “Mas para isso, estamos esperando os outros: os responsáveis”. Lugo lembrou que a experiência do Fórum Social Mundial foi importantíssima para que se pudesse acabar com os 60 anos de unipartidarismo no poder, no Paraguai.

Chávez foi recebido com um mar de aplausos, e conclamou os movimentos sociais a tornar permanente a luta contra as causas da crise. Ele afirmou que na Venezuela, a crise não será tão grande, porque se descolou da onda neoliberal que tomou conta da América do Sul nos anos 80 e 90. “O novo mundo não é apenas possível, é necessário, está nascendo, vocês o estão fazendo, e nada poderá detê-los”.

Aí foi a vez de Lula, aclamado pela maçiça maioria da platéia, com algumas vaias, às quais o próprio presidente, em seu discurso, se referiu, lembrando a pluralidade e a liberdade de expressão que caracteriza os atuais governos da América do Sul. Abaixo, trechos do discurso de Lula, que fechou o encontro.


Queria começar dizendo para vocês que guardem esta fotografia, porque hoje a gente pode até reclamar dos presidentes que nós temos, mas a verdade é que até pouco tempo, na América Latina, aqueles que ousavam discordar do presidente, eram perseguidos e mortos. O que nós conquistamos hoje é, na verdade, o resultado da morte de muita gente, de muitos jovens que resolveram pegar em armas para derrubar os regimes do Chile, da Argentina, do Uruguai, do Brasil e de quase todos os países. E nós estamos fazendo parte daquilo que eles sonhavam fazer”.

O que essa gente não percebeu é que hoje o povo mais humilde da América Latina, os índios da Bolívia, os índios do Equador, os índios brasileiros, os trabalhadores da Venezuela, do Paraguai, as pessoas aprenderam a não ter mais intermediários para escolher os seus dirigentes. As pessoas votam diretamente e escolhem os seus governantes”.

A crise não nasceu por causa do socialismo bolivariano do Chávez, nem das brigas contra o Evo. A crise nasceu porque durantes os anos 80 e os anos 90, ao estabelecerem a lógica do consenso de Washington, eles estabeleceram a lógica de que o estado não serve para nada. E que o Deus Mercado iria desenvolver os países, e fazer a justiça social. Este Deus Mercado quebrou por irresponsabilidade, por falta de controle, por causa da especulação”.


Eu liguei para o presidente Bush, e disse: ‘Bush, o que é que você quer que fique na sua biografia? A guerra no Iraque, ou a assinatura do acordo da rodada de Doha? Bush, por que você não coloca na sua biografia a rodada de Doha?’ Não colocou. Colocou a guerra no Iraque e a pior crise financeira que a história já presenciou”.

O mundo não pode mais eleger governantes que não têm sensibilidade, que não conversam com os movimentos sociais, com os sindicalistas, com os índios, com as mulheres”.

Aqui no Brasil nós vamos investir. É hora de investir, de construir. Nós vamos construir 500 mil casas em 2009, e mais 500 mil casas em 2010, e vocês do movimento dos sem-teto vão ser chamados para sentar com a gente e discutir essas casas”.

Esta crise é uma oportunidade para a gente mostrar, não com arrogância, não com petulância, para aqueles que pensavam que sabiam mais do que nós, como eles devem se comportar para resolver o problema do povo que está ficando desempregado. Porque até agora eles só deram dinheiro para banqueiro. Mas aqui neste país, eu posso dizer para vocês, que o povo pobre não será o pagador desta crise, não terá a sua vida piorada por causa da irresponsabilidade dos banqueiros”.


Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.