UM OUTRO MUNDO POSSÍVEL NOS CAMINHOS DO FSM AMAZÔNIA 2009

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Uma produção intensiva de afetos, variação contínua polĩtica-democrática que engendra novos possíveis, efetivando o mote do FSM Amazônia 2009: “Um Outro Mundo Possível”. Um apenas não, como pôde comprovar este Bloguinho Intempestivo, que passeou pelas centenas de atividades animadas por grupos de todo o planeta, proponentes e participantes.

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Onde quer que o viajante intempestivo se encontrasse, fosse na UFRA (Universidade Federal Rural da Amazônia) ou na UFPA, no campus de ensino básico ou profissionalizante, havia sempre zil eventos a visitar, tantas mais pessoas a conhecer, tantos conhecimentos e experiências a compartilhar.

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Como já visto aqui neste bloguinho, o dia começou com uma agitação de várias etnias indígenas na Tenda da Pan-Amazônia. De lá, os afinados encontraram o pessoal do grupo de Carimbó Raio de Sol e Marujada Quatikuru. Falamos com o regente do grupo, Raimundo Rodrigues Borges, conhecido como Mestre Come-Barro:

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Neste nosso grupo, a gente toca tudo, a gente faz xote, a gente faz valsa, madruga, a gente toca marujada, ladainha… Eu mesmo, de trabalho, tenho 41 anos, mas o grupo está com oito anos. Eu brinco desde a idade de nove anos. Eu aprendi com os negros antigos lá da minha cidade, Quatipuru, daqui mesmo do Pará. Os meninos aqui já são da nova geração, porque os antigos foram se acabando, destes só tá eu de resto, aí já estou pegando mais jovens para aumentar o grupo, que é para não morrer. O rapaz que toca clarinete é um jovem de 16 anos, tem o vocalista, e o que mais nós apresentamos é o carimbó e a marujada. Mas retumbão, chorado, tudo isso a gente apresenta. Principalmente no festival de Quatipuru, que é em dezembro. Na cantoria de Reis o nosso grupo também sabe, também se apresenta”.

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E enquanto o grupo Raio de Sol encantava os outromundistas com seu lindo bailado em ritmo de Marejada, o companheiro Júlio César, do grupo Raízes, de Icoaraci:

Meu pai é filho de Santarém Novo, que é próximo de Quatipuru, aí ele criou esse conjunto de carimbó, e veio a falecer, e eu estou dando continuidade. Lá na cidade de Algodoal, tem família do meu pai e que formou um grupo chamado Os Praianos, então a gente está tentando divulgar o carimbó, e preservar esta que é uma das principais raízes do Pará. O carimbó na verdade é a mistura das três etnias, do índio, depois veio o europeu e depois o negro, então foi desta fusão que nasceu o carimbó. Tem pessoas que dizem que dizem que o carimbó veio da África, através do batuque, mas isso não existe. Porque ele nasceu aqui, é raiz nossa”.

Deixamos o pessoal da marujada, as atividades dos grupos proponentes do turno 3 (15h) estavam por começar. A grande festa e o movimento frenético de pessoas já adiantava que a tarde seria de bons encontros.

NOS 50 ANOS DA REVOLUÇÃO CUBANA

Uma tenda foi armada especialmente para se debater as questões em torno de uma das revoluções que persistem diante de embargos econômicos, ataques midiáticos de todas as partes, meio século ante o Capital Global: a Revolução Cubana. Vários ativistas pró-Cuba se alternaram num debate que durou o dia inteiro e entrou pela noite.

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DEBATE LGBT ANIMA CENTENAS DE PARTICIPANTES

O Identidade – Grupo de Ação pela Cidadania LGBT, promoveu uma mesa intitulada “O Fórum Social Mundial e as Lutas LGBT’s: desafios e perspectivas”. Inicialmente, a atividade estava marcada para uma das salas, no entanto a participação foi tão grande que todos acabaram sentados sob a sombra de uma frondosa árvore. De lá, um dos coordenadores da atividade explicou o objetivo do encontro:

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Hoje, mais importante do que fazer grandes reflexões, não que não seja importante, mas a gente pode fazer 500 reflexões sobre homofobia, de como ela destrói a vida das pessoas. Mas esta não é a pauta principal hoje. Hoje queremos discutir dois pontos importantes do movimento: um, criar um vínculo, um canal orgânico com um conselho de voz, uma organização da voz. Esta é uma questão. A outra é: desde 2001, o Fórum tem tentado, não de forma perfeita, maravilhosa, mas tem conseguido articular uma agenda dentro de cada movimento. Então de nada adianta nós discutirmos aqui e depois ir cada um para o seu lado, sem levar em conta as pautas e a agenda do Fórum. Com muita dificuldade, mas desde 2001 a gente vem participando, e isso envolve algumas iniciativas, o que significa que este espaço, bem ou mal, tem sido ocupado. Mas tem uma questão que a gente não conseguiu responder: qual as alternativas que a gente tem de dar continuidade às demandas levantadas no fórum, quando este terminar, e como fazer com que as demandas do fórum englobem a campanha contra o preconceito e a homofobia”.

Um dos destaques da discussão, que foi tão boa que ultrapassou o horário estipulado para o final do turno 3, foi a participação e intervenção do Colectivo Contranaturas, do Peru, que destacou a necessidade de uma agenda comum internacional, e a criação de um dia temático para o movimento LGBT, como já existe por exemplo, o dia dos povos indígenas. O movimento destacou ainda a urgência de uma articulação para combater a criminalização dos movimentos sociais, que no caso LGBT é mais intensa ainda.

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O ponto negativo da reunião foi a tentativa de um participante do evento LGBT, estrangeiro, tentar impedir uma apresentação de bumba-meu-boi que ocorria próximo dali. Com o pretexto de reclamar do barulho, o participante esqueceu-se do aspecto congregador do fórum, que existe exatamente para reunir iniciativas que, em situações comuns, jamais se encontrariam. E considerando-se que nenhum outro participante sequer reclamou do “barulho”, ficou claro que foi um ato descolado da temática e da disposição democrática do grupo LGBT.


CAPOEIRA E CONFLUÊNCIAS ARTÍSTICAS-SOCIAIS DO BAIRRO GUAMÁ

A equipe AFINPRESS aproveitou, então, para acompanhar a apresentação do grupo de bumba-meu-boi “Flor de Todo Ano”, do bairro Guamá, de Belém.  “Esse boi é minha vida”, quem fala é Sandra Maria, “segunda-dona do boi”. O grupo existe há 20 anos, e é uma iniciativa familiar que engloba a vizinhança. Com a participação de crianças das proximidades, o grupo passou a oferecer também cursos profissionalizantes, como corte e costura, confecção de instrumentos e percussão.

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Das ondas percussionais do boi paraense, bem mais próximo do bumba maranhense do que o cocanestlelizado pasteurizado do governo amazonense, os afinados foram atraídos pelo ritmo e a mensagem da oficina do grupo de capoeira Eu Sou Angoleiro, que há mais de duas décadas trabalha em Belo Horizonte, e que também atua em Belém há alguns anos.

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Voo de Angola

É pra menino e mulher

Salomé, Salomé

Só não brinca quem não quer

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Lá, rolou um papo com o Mestre Bira:

O trabalho aqui em Belém não é ainda um trabalho de longo tempo, é novo ainda, tem quase oito anos que trabalhamos aqui, e sempre mudando, mas a gente tem as nossas bases em Belo Horizonte, com o Mestre João, é o mestre que nos apóia neste trabalho, que nos fortalece. E eu aqui desenvolvo um trabalho voltado mais para o social, tipo, a gente trabalha com o pessoal da universidade, alunos que já tem um tempo dentro da academia, e dentro da conjuntura da capoeira, a gente coloca eles à disposição para realizar trabalhos nas comunidades quilombolas, nas periferias, para trabalhar a capoeira com exercício pedagógico, resgatando o seu conhecimento, sua própria cultura, sem próprio entrelaçamento na sociedade. É esta a finalidade do trabalho. E uma das partes mais gratificantes, significantes, é que a gente etá trabalhando com as comunidades negras, que são os quilombos. Inclusive nós estamos aqui com dez crianças destas comunidades, e para eles é muito importante estar vendo o povo que vem de fora, a imprensa que vai dando cobertura, e a gente falando deles, e isso ajuda a fortalecer a consciência deles”.

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Dos versos da capoeira, passamos para o Rap consciente e evangelizador de DJ Ênfase, MC Sandrão e outros do grupo JCMC. Fazendo um rap de raiz, falando e denunciando a corrupção da política local, dos falsos profetas e pastores e pregando a revolução social:

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O grupo tem 18 anos de trabalho, faz um rap gospel, a gente começou com teatro, e a intenção era resgatar, e vimos que o teatro não estava legal, fomos para o street dance até chegar no hip-hop mesmo. Cantando mesmo, temos 15 anos, e temos uma associação chamara ABRC, associação brasileira de rap cristão, porque a gente não usa o termo gospel. Eu sou pastor, e a gente trabalha com os jovens, ex-traficante, ex-prostituta, só a turma do ‘ex’. E este é o nosso traabalho, temos dois álbuns gravados (Mundo de Sonhos e África Brasil), um no ano passado e outro que sai este ano, já está pronto, no estúdio. Todo movimento social, que se diz social, tem que estar trabalhando pelo povo, com o povo, porque muitas vezes temos que nos esquecer de nós mesmos, o exemplo está aí, Che Guevara, o próprio Jesus, que é o nosso revolucionário-mestre, Zumbi, e todos aqueles que doaram a sua vida, viveram para o povo. O trabalho social só é social quando os seus agentes seguem a máxima de Cristo: ‘amarás ao próximo como a ti mesmo”.


E ainda deu tempo de curtir a apresentação do Grupo da 3a idade “Casa do Açaí”. O palco era todo dos movimentos artísticos do bairro Guamá, de Belém.

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A gente está aqui para mostrar que o nosso bairro tem muita coisa, muito mais do que a violência. A violência na realidade é o resultado de tudo o que a gente não tem e não consegue acessar”.

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DIRETAMENTE DE CAMETÁ, A LENDA (E A DANÇA) DO SIRIÁ

O Grupo de Cultura Regional Iaçá, da paróquia luterana, no bairro da Pedreira, em Belém, apresentou aos visitantes danças típicas da região:

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Chegou um tempo em que a alimentação do negro ficou escassa, e ele não tinha mais do que se alimentar. Então, em busca desse alimento, chegaram à beira de uma praia, e viram muitos siris. E o que era interessante é que na hora do negro pescar esse siri, o siri não oferecia resistência nenhuma. E durante muito e muito tempo, o negro pôde se alimentar deste siri. Nada mais justo, portanto, que fazer uma homenagem aos seus deuses, que os abençoaram com este alimento, fazendo uma dança com o nome de Siriá”.

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Como não podia faltar, também o nosso carimbó. Nós dos movimentos artísticos do Pará estamos numa grande campanha para transformar o carimbó em patrimônio cultural. Mas antes disso, tomem cuidado, porque tem uma lenda que diz o seguinte: quem recusa o convite de um dançarino ou uma dançarina de carimbó tem sete anos de azar”.

Perguntem se alguém ficou parado…

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AS CRIANÇAS INSTRUMENTISTAS

Na praça, encontramos as crianças da Associação Sócio-Ambiental Cultural , que além de aprender a construir instrumentos, tocam e se apresentam com ritmos regionais e muita alegria.

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JOSÉ RICARDO NO FSM AMAZÔNIA 2009

E como não podia deixar de faltar, o engajamento político social do vereador José Ricardo, do PT do Amazonas, voz numericamente única, mas intensivamente de muitos, na câmara municipal de Manaus, esteve visitando as atividades do primeiro dia do fórum, e contou-nos as suas impressões:

É a quinta vez que eu participo do Fórum Social Mundial, faço questão de vir, é uma oportunidade de ver as experiências das lutas, do trabalho, e daquilo que está acontecendo em outros estados e em outras partes do mundo. Isso fortalece a nossa caminhada, para trabalharmos na nossa cidade e continuarmos as lutas que nós temos, neste caso, a luta política. Como vereador, participo de várias oficinas e debates com temas relacionados à cidade e à população. Principalmente a questão urbana, a moradia, a água, e a grande temática do fórum que é o meio ambiente, então é bom sabermos o que está sendo feito em outros lugares em relação à defesa do meio ambiente, aos direitos dos povos, para que também isso, não só em Manaus, mas em toda a Amazônia, nós possamos defender, e usar a biodiversidade a favor da população daqui”.

E NÃO SE PERCA DO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL AMAZÔNIA 2009!

Entre tantas atividades que você pode sempre selecionar no site do FSM Amazônia 2009, amanhã é o dia da:

Coletiva “PELOS DIREITOS COLETIVOS DOS POVOS”, que contará com a presença de Tomás Huanacu (CONAMAQ, Bolívia), Boaventura de Souza (UPMS, Portugal), Emir Sader (CLACSO, Brasil), Humberto Cholango (Ecuarunari), Xosé Manuel Beiras (Fundação Galícia Sempre), Walter Wendellin (Euskal Herria), S.V. Kirubaharan (Centro Tamil para os Direitos Humanos) e Jamal Juma’ (Anti-Wall Campaign, Palestina), entre muitos outros. O evento ocorrerá às 9h da manhã, na UFRA.

“PERSPECTIVAS DA INTEGRAÇÃO POPULAR DA AMÉRICA LATINA”, com a participação dos presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Rafael Corrêa (Equador) e Fernando Lugo (Paraguai). O evento ocorrerá às 13h, no ginásio da Universidade Estadual do Pará, no campus da avenida Almirante Barroso.

E, finalmente, Lula se reunirá aos quatro presidentes citados acima e com os cinco será realizado o “FÓRUM DE AUTORIDADES LOCAIS – FAL”. O evento ocorrerá às 19h, no Hangar.

Para ler a programação completa, clique no site do FSM:

http://www.fsm2009amazonia.org.br/

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