AMAZONINO CASSADO, “PARENTE…” NÃO É “SERPENTE”

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O cinegrafista italiano, o conhecido mestre da cine-comédia, Mário Monicelli, criou a obra, “Parente… é Serpente”. Nesse cinema, mostra o encontro de familiares na noite de Natal na casa dos pais. Como não poderia ser diferente, a comédia, como diria Brecht, sendo a essencialidade política/moral das artes cênicas, ‘trans-corre’ em total profusão das idiossincrasias dos parentes. Inveja, repulsa, adultério, cobiça, ódio, simulação, indiferença…, tudo que possa ser exibido em uma noite propícia para revelar o sucesso histórico da tardo família-nuclear-burguesa, que de Cristo só carrega a derivação linguista, Cristianismo: o ressentimento, a má consciência e o ideal ascético. Nada de Cristo, o amoroso, o libertador das almas individuais da tirania coletiva.

Se aplicarmos à arte de Monicelli um exame econômico, sociológico, político, psicanalítico, moral, religioso, vamos encontrar a mesma estranheza encontrada na sociedade do espírito especializado, na divisão de classe e divisão do trabalho. Tudo parece uma global unidade, quando tudo se encontra fragmentado. Entretanto, tudo é família. Logo, só se é serpente, inimigos, quando vistos individualmente. Pois, como se pode extrair da máxima psicanalista: na sociedade burguesa todos têm seus “segredinhos sujos”. O invejoso não é moralmente menos ou mais que o canalha. O corrupto não é menos ou mais que o corrompido.

A PARENTELA NÃO É SERPENTE

Embora sejamos familiares dos inorgânicos, dos unicelulares, da ameba, do dinossauro, de todos mamíferos e não mamíferos, corpus que formam uma extensa/intensa cadeia vital diversificada, mas familial, entretanto, para o homem o conceito de família não se reduz à enunciação consanguínea, bio-genética. Abrange territórios, teorias e práticas múltiplas. Culturais,históricas, econômicas, políticas, morais, sociológicas, religiosas, artísticas, enunciações que podem, ou não, produzir uma subjetividade dominante, onde sujeito sujeitado é só um agente propulsor dessa semiótica. Aí, parente não é serpente. Todos são familiais em uma conjunção urdida em força como um buraco negro, uma energia contraída.

Por isso, é fácil compreender os argumentos do prefeito, em estado de cassação, Amazonino, e seus próximos na ordem do nepotismo. Ele diz que foram secretários que indicaram o nome de sua irmã; a filha afirma que foram os “artistas” quem indicaram o nome; foi Arizinho quem indicou a própria irmã Moutinho. Como poderiam dizer os antropólogos Morgan, com seus Systems de parentesco, e Lévi Strauss, não precisariam nem manifestar essas “Estruturas Elementares de Parentesco”, a própria subjetividade de que são sujeitos afirma os vínculos inter-familiares.

E o tamanho, e indubitável, anti-serpentário antídoto familial é constatado quando estes membros julgam a si próprios. Para afirmarem suas escolhas, sentenciam: “É talentosa, competente, e grande espírito administrativo. Monicellianamente, duas cenas neo-nepotistas nos capturam interrogativamente.

1 – Se são talentosos, competentes com grandes espíritos administrativos, porque outros, fora da subjetividade familial, não viram antes?

2 – Por que só eles, entre eles, possuem estruturas epistemológicas capazes de conhecerem os atributos cognitivos, que afirmam ser detentores fundamentais à produção democrática?

Se Monicelli adaptasse, para Manaus, em forma de comédia, a tragédia grega de Sófocles, “Antígona”, que luta contra os poderosos para enterrar o irmão Polinice, em solo de Tebas, e contasse com a interpretação da atriz do Teatro Maquínico, Katiane, como Antígona, anunciando: “Não há neles, nenhum poder de separar-me dos meus.” Oh, como ficaríamos maravilhadamente reconhecidos, bom Deus!

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