05 E 06 DE JANEIRO: OS DIAS DA VINGANÇA RESSENTIDA DOS AMAZONÍNICOS
A vingança é um ato de ressentimento: revela o quão forte é a dependência do vingador em relação ao vingado. Amor travestido em ódio, a vingança, para a psicanálise é um ato que procura aniquilar no outro aquilo que evidencia a minha impotência. Segundo o filósofo Spinoza, a Vingança é o desejo de fazer o mal a alguém que tenha antes feito um mal a mim. É, portanto, uma afecção que caracteriza a servilidade humana, já que, por um afecto exógeno, tem-se uma reação que não é causa de si. Na vingança, o sujeito se desfaz, transforma-se em apêndice do outro. A dor de não existir.
Efetivamente, nestas segunda e terça-feira, os indicados por Amazonino para a Prefeitura Provisória chegaram às secretarias e demais unidades municipais. E, como já adiantado aqui neste Bloguinho, o festival do ressentimento e da vingança aconteceu.
Em uma das secretarias, por exemplo, a encarregada pela “nova” gestão chegou, e ao avistar alguns funcionários da gestão serafinesca ainda presentes, entrou na sala, perguntando por que ainda não haviam desinfetado o lugar. Em outro lugar, funcionários que chegavam eram “gentilmente convidados” a voltar para casa, e aguardar, pois os contratos de quase todos os temporários não foi renovado.
Júbilo do ressentimento, fel escorrendo da boca, era o dia do açoite, da volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar – e muitos nem tinham mandado. Contam à boca grande, que pequena não caberia, a quantidade de agora ex-funcionários, que estiveram de sol a sol, fazendo campanha para Serafim, amontoando-se estes dois dias na antessala das secretarias, a juras com todos os patuás à mão que sempre apoiaram o Interino. Briga não menor para conseguir um “cartãozinho” de apresentação de algum vereador recém eleito, da base de apoio do Prefeito Interino, para mostrar ao novo(a) patrão(oa) – só a palavra não basta, é preciso traficar influência desabridamente – que esteve sempre ao lado do “novo” patrão. Que cartas (ou cartões) terão na mão quando o TSE falar?
SURGE A PROMETIDA META DA PREFEITURA: MEU PIRÃO PRIMEIRO
Do lado dos que ora assumem, ainda que provisoriamente, a dor travestida em prazer (que somente quem nunca o sentiu pode confundi-lo com ela): devolver, como se possível fosse, em dose dobrada, triplicada, a frustração acumulada de quatro anos sem as benesses do cargo. Enquanto a “nova” secretária de educação (?), Theresinha Ruiz, apontava o dedo para uma funcionária e esbravejava que não queria ver a cara dela no dia seguinte, em outros cantos da cidade, funcionários, ex-funcionários e cabos eleitorais corriam atrás daquilo que lhes foi prometido em campanha: um cargo para si e para os parentes. Mais cartõezinhos edis-pianos.
Mas nem todos tiveram a mesma sorte. Em todos os “níveis hierárquicos” da trama de amigos do Prefeito Interino, houve quem tivesse trabalhado mas não levado. Destes, zil lotavam os gabinetes de vereadores e de secretários recém empossados, a fim de gritar em alto som que foram “esquecidos”. Houve quem cantasse a vitória no dia 30 de dezembro, antecipando a “lista de dispensa”, e que teve duplo dissabor: nem viu fora seus desafetos, e nem ficou. Mas nem só de desconhecidos foi feito o fogo-amigo da “nova” gestão: na briga de jornalistas, repórteres, editores de jornal, apresentadores e outros subalternos que usaram concessões públicas abertamente para favorecer o eleito, só podia ganhar um. E quem perdeu mudou de lado com a fugacidade dos fogos do Reveillón.
NEPOTISMO CONTINUA, ENQUANTO IMPRENSA CONFUNDE APANIGUADOS COM ‘POVO’
Enquanto isso, na SEMASC, secretaria de assistência social, seguia a indefinição sobre a indicação nepotista da irmã do prefeito cassado, Marize Mendes, que não teria aceitado o cargo após a noticiação, em nível nacional, do ato nepotista de Amazonino, indicando a irmã e a filha para secretarias municipais.
Como ocorrido na “manifestação” dos “artistas” manoniquins a favor da filha, dezenas de ex-cabos eleitorais e partícipes da campanha de Marize à CMM, foram para a frente da secretaria lutar pelas nomeações prometidas. Ou, como saiu na imprensa: “500 populares reunidos para pedir que Marize assuma a SEMASC”. Coisas da imprensa oscilante. O fato é que Marize assume sem assumir, e Amazonino não deixa de realizar ato contumaz: irregularidade anti-democrática. Se a irmã dele não aceitou, a irmã do vice-prefeito, o também cassado Carlos Souza, aceita sem ruborizar a face. Será a nova subsecretária da pasta. Isso é que é nepotismo cruzado!
Marize Mendes afirmou que “quem sabe” daqui a três meses – quando a poeira midiática baixar – ela possa, enfim, assumir o cargo. Há quem tenha entendido esta atitude da irmã do Prefeito Interino como uma tentativa de se afastar da administração municipal e descolar a sua imagem de Amazonino, prefeito cassado, para evitar o desgaste da decisão do TSE. No entanto, com a ajuda da gentil imprensa obnubilada, o casal parece que pretende mesmo fazer crer que o nepotismo desapareceu num passe de mágica. Demonstração do que imaginam os eleitos sobre a inteligência de seus eleitores e, de quebra, demonstração da imprensa oscilante imagina sobre seus leitores. Imaginam!
ENUNCIADOS DITATORIAIS-DEMAGÓGICOS
Ao afirmar que não pretendia se afastar do cargo de vereadora – ao menos por enquanto – para se dedicar à caridade, Marize cometeu dois erros os quais, à luz da psicanálise, mostram o quão longe está a administração interina de Amazonino de uma democracia.
Primeiro, afirmou: “Eu tenho o poder que o povo me deu”. Não entendeu que a democracia não passa pelo poder, que aliás, é um vazio, produto das estéreis relações de ordem do Capital. Ainda que existisse, jamais, numa democracia representativa, poderia ser “dado”. O poder, constitucionalmente falando, emana do povo, e em seu nome é exercido, jamais cedido ou tomado. Daí as ditaduras civis ou militares, em qualquer lugar do mundo, sejam contrários à democracia. Marize não entendeu essa, e acabou deixando escapar sua crença ditatorial.
A outra: “O meu coração agora é escravo do povo”. Relação de dependência mútua, a relação senhor-escravo se inscreve na patologia das relações sociais, onde a certeza da minha existência depende da ingerência que o outro tem sobre mim. Exemplo: a exploração (sem o patrão para me oprimir, eu não existo, diz o operário alienado / sem o operário para explorar, eu não existo, diz o patrão). Nada a ver com um regime democrático, onde as potências se compõem sem pressões exógenas, mas com a predominância intensiva de elementos necessários ao Bem Comum. Marize, como seu irmão e sua sobrinha, carregam os signos de uma administração que evidencia o quanto é recrudescente a cidade de Manaus como produtora de saberes e dizeres libertadores. E depois reclama quando perde para Belém…
E o que começou no dia 05 e passou pela manhã do Dia de Reis – com muita festa no Nordeste! Enquanto aqui… – promete continuar nos próximos dias. Enquanto os necrófilos se violentam nesta farra antidemocrática que se quer arremedo de serviço público, o povo – o verdadeiro – mais familiarizado com a Democracia, aguarda, observando com humor o desespero dos famintos, que o TSE fale, profetizando o já-visto: a cassação.
Por essas e outras que a nova Secretária de Educação do Município está sendo chamada de Professora “Therezinha Ruim”.
Moura,
Quão longe pode passar o “educare” enquanto processual livre e contínuo da inteligência de muitos Secretarias de Educação. Enquanto isso, o educador só…
Valeu!