O CAVIAR O O NATAL DOS POBRES ITALIANOS

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Segundo o blog de Bob Fernandes, no Terra Magazine, a polícia italiana realizou, em Milão, a apreensão de uma grande quantidade de caviar contrabandeado, avaliada em 400 mil euros. Por decisão da polícia e da justiça italiana todo este caviar foi destinado a organizações de assistência social em Milão, que cuida dos italianos menos favorecidos monetariamente. A medida foi tomada em razão do laudo técnico da perícia determinar que o caro produto apreendido fosse consumido até dezembro deste ano.

A FETICHE MERCADORIA CAVIAR

O caviar é uma iguaria de alto valor monetário apreciado, em geral, pelas classes mais abastadas. São as ovas não fertilizadas do peixe esturjão que torna possível este alimento considerado como prato necessário nas cozinhas mais badaladas do mundo gourmet.

Contudo, o caviar, como tudo que foi capturado pela subjetividade perversa do capital, não mais é uma parte orgânica do animal vertebrado peixe, mas sim um signo. E enquanto tal, demostra de que maneira os alimentos no capitalismo deixam de ser a composição de substâncias físico-químicas naturais, transformadas em matéria social pelo homem e preparadas com o objetivo de suprir uma necessidade biológica. Daí o caviar passar a ser uma mercadoria-signo, confirmada em uma cultura de consumo, onde o objeto não é mais qualificado como uma extensão do trabalho humano, mas apenas como um signo que obedece à ordem do capital.

Esta forma distorcida em que o caviar se apresenta expressa de maneira efetiva como se dão as relações de produção capitalistas: de forma fetichista. Há uma inversão: o alimento não é mais para alimentar, mas agora para garantir um status.

Portanto, como se torna possível o tão almejado prazer proporcionado pela iguaria de luxo, caviar?

Ora, um prazer alimentício autêntico como disjunção gastronômica da moral de classe não ocorre com a mercadoria-signo caviar. Tanto que o então prazer proporcionado pelo caviar advém dos paladares burgueses fetichizados. Ou seja: apenas conserva um significante vazio da ordem do consumo necessária para que se estabeleça a coerção da divisão de classes.

Mas, para quem não tem o paladar fetichizado, pode comer o caviar como alimento e ainda formular comentários se faz um bom ou mau encontro com o seu corpo. Poderá até dispensá-lo por razões próprias de gosto. É o que pode ocorrer com os pobres de Milão. Nunca com o burguês, pois este apenas pode dispensar a locupletada iguaria, sob uma condição: a de que irá reclamar para expor ainda mais a fetichização da mercadoria-signo caviar.

Tudo indica o quanto o natal das classes abastadas de Milão será comemorado com a consciência tranqüila, uma vez que a divisão do caviar foi feita. Mas desta vez, não pela justiça divina, mas pela dos homens.

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